sexta-feira, 3 de junho de 2011

Carta para minha avó

Marília, 3 de junho de 2011

Oi vó, tudo bem? como estão as coisas por aí?
escrevo pra vc porque já faz mais de um ano que não nos vemos. adorava ouvir você contar as histórias do sítio e de como um tanto de leite virava manteiga e de como era seu pai, sua mãe e a vida em um lugar onde os problemas pareciam ficar longe. não tinha muita coisa no sítio né vó? mas tinha comida e tinha leite e tinha todo mundo junto.
era engraçado, isso, vó, porque me lembro de ir na sua casa quando era criança e a gente ia viajando de carro e o meu pai, que é seu filho, ia me contando algumas histórias. e eu ficava super feliz de ir porque eu ia me divertir dançando em frente ao espelho imenso que tinha no seu quarto. e o quarto tinha só uma cama e um guarda-roupa e esse espelho. não era tão grande. mas para mim era e eu dançava e você dançava um pouco também. escondida, mas dançava.
e a gente chegava lá e não tinha televisão, não tinha muita coisa. mas tinha um quintal com horta, uma casa pequena e um cheiro de bolo de fubá que espalhava pela casa.
sempre tinha bolo de fubá e café. e macarrão e frango assado que a gente comprava no açougue do Kojó. daí a gente ia tomar sorvete e você sempre pegava um monte. igual a Laura faz. pega um monte de comida. rs mas o impressionante é que você comia tudo. a laura também come. é sua neta mesmo.
hoje eu me lembrei de você. a marilú fez frango assado e sei que você gosta. ela estava usando aquele lencinho de crochê que você usava. e eu lembrei de você mais ainda.
e lembrei que teve um dia que você foi esquecendo da vida. e foi esquecendo e esquecendo e seu cabelo foi ficando branquinho branquinho. feito nuvem.
e sua mão, que é igualzinha a mão do meu pai, foi ficando enrugada e fraquinha. e você era tão forte, puxa...
e então eu vi que seu olhar já não estava mais aqui na Terra. seu olhar foi ficando longe longe. e você começou a esquecer de comer, a esquecer de dormir.
e um dia eu me despedi de você, mas você não foi embora.
e eu fiquei feliz.
mas teve um dia que eu acordei cedo, bem cedo, cedinho mesmo e você estava no seu quarto deitada, em silêncio. bem quieta.
foi então que peguei na sua mão e falei para você ir em paz.
e você foi. você já tinha ido na verdade. só ficou mais um tempo por aqui porque sabia que pra gente ia ser difícil passar o Natal sem alguém pedindo mais um pedaço de pernil.
e hoje eu me lembrei de você e pensei onde será que você poderia estar....e me deu uma saudade.
quando der, vó, aparece tá?
meu pai anda triste. talvez se você conversar com ele, dá uma melhorada.
deve ser saudades de você...
um beijo, fica em paz
Lídia

Um comentário:

Larissa Pereira disse...

Confesso que me emocionei :')