terça-feira, 8 de outubro de 2013

Carro Céu

...E eram assim que as imagens iam e vinham. Passando lentamente pela minha cabeça, lentamente pelo meu olhar. Algumas eram memórias de infância; brincadeiras, o pé na grama, a água da mangueira esguichando feito um arco e formando logo ali, na esquina um arco-íris.

Outras eram lembranças de um lugar qualquer, pouco a pouco, tempo a tempo, as casas, as ruas, os carros, os poucos carros, os sofás, as camas, o chão batido de terra, o forro de madeira. E as falas de feliz dia, feliz aniversário, feliz dia dos pais, feliz dia das mães. Apenas feliz. Era isso.

E as principais, as que pausadamente, feito uma caixinha de música iam e vinham, eram as imagens que marcariam para sempre as memórias, a memória que eu tinha, a memória que eu não tinha e a que eu queria ter.

Imagens de rostos, de pessoas passando feito um carrossel ao meu redor, rodando, rodopiando e de longe, lá de longe um algodão-doce enchia a boca de alegria, e essas pessoas iam acenando, sorrindo, cantando e girando no lugar onde eu estava, onde eu vivi.

Como eu imaginava que seria o céu...As imagens da janela de um carro em movimento, as lembranças tecendo uma figura, um fio condutor que me levaria de volta ao mais precioso dos tempos, ao mais precioso dos lugares: ao coração.