terça-feira, 31 de maio de 2011

A passagem

Segurava de forma terna a mão da velha senhora. A pobre agonizava lentamente havia dias. Não comia e não falava.
Antes a robusta senhora tinha uma vida feliz, ou melhor dizendo, tinha uma vida. Andava de um lado para o outro e tinha uma especialidade: fazer bolos de fubá. Os preferidos.
Contava causos e histórias do tempo antigo, da carochinha, de quando era criança e o pai não queria que estudasse, das galinhas que tinha que matar para a janta e principalmente dos bailes em que ia fugida de casa, da fazenda em que morava.
- era apaixonada por um japonês - costumava dizer.
foi então que foi envelhecendo aos poucos. lentamente. o tempo foi lhe dando uma cara nova, com uma cor de cabelo que parecia as nuvens do céu e um olhar que se distanciava cada vez mais do que estava acontecendo na terra.
ia aos poucos embora. já não sabia mais onde estava e se estava em algum lugar.
foi então que o homem segurou sua mão no hospital. rezou junto a velha senhora e disse que ela podia ir. que fosse em paz.
a senhora então, num relance abriu os olhos e olhou fixamente para a porta. o homem ao seu lado se moveu e ela virou para ele e sorriu. não disse nada. apenas sorriu.
e foi embora.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O peso de um piano

- Bom dia - murmurou ao entrar na cozinha.
Carregava uma sacola de roupas sujas e um olhar cansado. Apesar do dia frio, aquele casaco fino de lã parecia esquentar uma alma que estava desolada.
- Bom dia - a moça respondeu. e continuou tomando seu café.
O homem então parou na mesa e sem se sentar encheu uma xícara de café, daquelas xícaras pequenas que se usa quando se faz um café para a visita. Pegou a xícara pequena e tomou o remédio.
Tinha esse costume. Tomava remédios com café. Ninguém sabia ao certo o motivo.
Deixou a xícara sobre a mesa e saiu. Não disse mais nada.
Subiu as escadas cansado, como se não tivesse dormido a noite toda. Aliás, dizem que dormiu na sala, sentado na poltrona. Sem cobertor. E foi dormir lá pelas tantas.
Na noite anterior, a moça ainda ouvia sua voz murmurando algo na sala, como se estivesse bravo. Por isso que no café da manhã a moça não disse nada. Não abriu a boca para falar uma palavra.
As palavras soariam vazias naquela momento. E o velho homem parecia que estava vazio também no olhar.
Era um piano muito pesado que levava nas costas. A vida lhe obrigou a ser assim.
tinha a testa franzida ao dizer "bom dia".
Sempre franzida entre os olhos. E até o Sol já tinha feito uma marca ali. 
Mesmo sem franzir a testa, parecia franzida, o que dava ao homem o aspecto de alguém sempre bravo.
Talvez com a vida, talvez consigo mesmo.
Acendeu um cigarro e foi para o trabalho. Era mais um dia que começava. ou no caso do homem cansado, não terminava.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O sabor das palavras

Desde que era criança, que aprendi a ler e a escrever, eu gosto de pensar em palavras. Não as palavras no seu sentido exato, mas o sabor que cada palavra tem. Eu gostava de ler tudo que me caísse nas minhas mãos. Desde bulas de remédios, até placas de homenagens a velhos conhecidos da cidade e placas de carros. As placas de carro eram algo curioso porque eu sempre fui péssima em matemática. Mas eu gostava de ver as três letrinhas e inventar uma frase com elas. Era legal, era interessante.
E eu gostava de dar nome para as coisas. Adorava inventar. Tudo tinha que ter um nome que eu achava legal, mas não necessariamente um nome de gente.
Gostava de inverter os nomes também pra ver como ficavam: chamava a cadeira de mesa, a mesa de armário e assim por diante. que cara tem a mesa? porque ela se chama mesa? se eu chamar ela de armário muda alguma coisa? quem inventou isso? e lá ficava eu horas pensando nisso.
e tinha (tenho) paixão pelos livros.
na minha infância a gente sempre teve muito livro em casa. quando eu me formei no pré e aprendi a ler, minha mãe me deu uma coleção inteira de livros e, assim como a caixa de gibis dos anos 1970 de meu pai, eram meus brinquedos preferidos.
gostava de ler e brincar com aquilo. de escolinha, do que fosse.
e os livros tinham nomes também. eram meus amigos.
mas quando eu digo que penso em palavras, acho que elas têm sabor.
digo isso porque sinto gosto quando falo algumas. por exemplo, acho que a palavra "marshmallow" tem gosto de nuvem. eu nunca comi uma nuvem, mas desde criança eu acho isso. e a palavra nuvem para mim tem gosto de algodão doce. e eu adoro repetir essa palavra: algodão doce.
talvez pela puxada do doce. ou pela doçura do algodão que a gente fala de boca cheia, com vontade mesmo.
e assim as palavras iam tendo gosto pouco a pouco. a palavra canela para mim nunca foi a canela do nosso corpo porque ela tinha um sabor e um cheiro. e é legal falar "canela". tem dois "as" o que faz com que abramos a boca duas vezes e fica bonito. gosto das vogais. e o gosto da palavra canela não era de canela, mas de um lugar bem bonito. doce também.
eu prefiro as palavras doces. as mais doces possíveis.
beijo é uma palavra que me encanta. acho que ela tem um gosto imenso e a sonoridade dela me faz bem. preste atenção: beijo.
é uma delícia de dizer.
e isso se deve a nossa língua portuguesa. experimente dizer beijo em inglês: kiss. que sem graça. "kiss". não tem gosto de nada essa palavra.
mas beijo tem gosto, sim.
assim como a palavra amor. amor tem um gosto bom também, que lembra um doce sendo feito no tacho, sendo apurado, porque você fala "amor" e o som continua no ar, como o cheiro do doce. "amor". a língua enrola, e a palavra continua.
uva é outra palavra que gosto muito. a gente diz puxando para dentro a palavra, como se estivesse sugando de alguma forma a fruta também. e daí a palavra fica mais gostosa ainda.
eu sempre senti as palavras como algo muito próximo a mim. como coisas que eu comia. devorava. sons que me encantavam. eu gostava de ouvir as pessoas falando olhando para a boca delas. como a palavra saía de cada um. que entonação a pessoa dava e como eu recebia. que som saía daquilo que eu dizia, que o outro dizia.
e ainda hoje sinto isso. determinadas palavras têm gosto. um gosto bom.
assim como a palavra saudade que tem um gosto de algo que ainda está dentro da gente. do nosso coração. um gosto doce. o mais doce possível. que constrasta com aquele amargo que fica no nosso peito quando lembramos de quem nos lembra essa palavra.
saudade é uma palavra bonita. tem gosto de abraço. de afago. de beijo. de marshmallow. de sorriso com olhos fechados e uma profunda puxada de ar, de fora para dentro. para completar aquilo que nos falta.
e assim, é doce. feito caramelo. feito aquela infância doce cheia de palavras comestíveis. gostosas.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conversa

, era isso que eu queria dizer.
- só isso? mais nada.
- nada.
- mas eu tenho uma coisa para te dizer:

domingo, 8 de maio de 2011

dia das mães

Saulo tinha um blog. Se dizia escritor, um grande pensador. "ainda vou publicar um livro", costumávamos ouvir. Morava sozinho desde os 17 anos. Sozinho mesmo. De tudo. Disse que não conseguia se adaptar as pessoas. "gente me cansa muito", e abria o notebook.
Saulo não tinha mãe. Por isso, em todos os dias das mães presenteava as mães de suas amigas com uma flor. "é simples, mas é de coração". Não conheceu a mãe, foi criado com a tia que morreu há pouco tempo de um avc. Presenteava todas as mães de amigas e dona Cleonice também, a vizinha da frente, que como ele, vivia sozinha. Apesar de não ter filhos, Saulo lhe presenteava e dizia que por ser mulher, era uma mãe em potencial.
Dona Cleonice sorria com seus dois únicos dentes e agradecia, mas na verdade ela nunca quis ser mãe mesmo. No fundo do seu coração, ela sempre quis ficar sozinha.
Saulo era muito apegado aos seus escritos. Escrevia dia e noite, dia e noite. Foi quando um dia um rapaz, Hugo, lhe escreveu no blog dizendo que havia gostado de seus textos. Saulo sentiu um frio na espinha, arrepiou-se todo e pensou: "será?"
Respondeu para Hugo e a partir daí iniciaram uma série de troca de emails diariamente. Mais de 10 emails por dia. E assim foram ao longo de um mês quando resolveram se conhecer. "já está na hora né?" dizia Saulo para as amigas.
Saulo morava numa cidade do interior de Minas. Uma cidade pequena, bem pequena, bem pequenininha. Daquelas que quando a gente passa a gente pensa: "Jesus, que cidade pequena!".
Hugo morava em Salvador.Cidade grande, descolada. Era músico e já tinha vivido boa parte da vida em várias cidades pelo mundo. Tinha muito a apresentar para o Saulo.
Se conheceram. Marcaram de se encontrar em bêagá. Jantaram, conversaram e se encantaram. Tiveram um relacionamento por anos. Saulo um dia resolveu publicar os textos de seu blog em um apanhado para virar livro. Tentou em três editoras e fora recusado. Hugo tentou ajudar e entrou em contato com uma editora de Salvador (sim, Hugo mudou-se para a pequena cidade de Saulo).
Conseguiram. Finalmente, o livro de Saulo seria publicado. A noite de autógrafos foi um sucesso. Então que um dia, Saulo saiu de casa e disse: "publiquei um livro, devo agora plantar uma árvore".
E foi. Plantou um pé de acerola na praça perto de casa. E todos os dias Hugo ia até lá regar. Foi então que Saulo foi sentindo vontade de ser mãe. Mãe mesmo, daquelas mãezonas, igual sua tia que morrera foi para ele.
Dona Cleonice acompanhava tudo do novo casal. E não gostava muito. "é estranho. dois homens juntos! onde já se viu?"
Saulo disse a Hugo que queria ser mãe. Adotaram uma barriga de aluguel e pronto. Fizeram um filho.  Só dona Cleonice que não gostava. "Imagine, ter um filho! dois homens! onde já se viu?"
No dia das mães, a criança nasceu. Saudável, robusto. Um meninão. Se chamaria Orlando, em homenagem ao avô de Hugo.
Foi então que quando chegaram em casa, na mesma casinha que morava perto dona Cleonice, Hugo e Saulo, com Orlandinho no colo, levaram flores para Dona Cleonice com um cartão: "parabéns vovó, afinal, vó é mãe duas vezes".
Dona Cleonice chorou ao segurar Orlandinho, que sem querer tinha o mesmo nome do grande amor de sua vida. Hoje dona Cleonice leva Orlandinho para lá e para cá. Mostra para todo mundo e diz: "você já viu menino mais bonito? onde já viu um garoto tão bonito assim?"
E encheu os olhos de água.

sábado, 7 de maio de 2011

Justificativa ou como entender que seu celular está com problema

Não vou falar em nome de todos, homens e mulheres. Os gêneros, como bem sabemos, são diferentes e suas percepções da vida e sobre a vida também. Dessa forma, creio que poderia falar melhor do gênero feminino, por ser uma delas. Ou por perceber como a minha espécie, o meu gênero se comporta diante de algumas situações.
E não sejamos feministas, efusivas, cheias de detalhes (o que somos, é bem verdade), mas olhemos para um lado nosso, o mais passional e interior que podemos ver, o lado " mulher busca um macho e faz qualquer coisa para justificar isso e ter um macho ao seu lado".
Pois então. Tenho observado algumas ações: a mulherada tá que tá, pegando fogo, querendo dar para Deus e o mundo, se é que Deus poderia vir a comer alguém. Se mandou o anjo Gabriel (é esse o nome?) para trazer o Espírito Santo e engravidar Maria que ficou virgem para o resto da vida, acredito que nessa área não podemos contar muito com ele.
Mas pois bem, a mulherada não tá se aguentando e percebo que muitas vezes vão com tudo para cima dos homens, sem dó mesmo, do tipo "chega junto". E ai do cara que se ele não quiser. ai ai ai. 
- eu me basto. tenho meu carro, meu trabalho, minha vida. não preciso de homem nenhum.
tsc tsc. essa mulherada dá trabalho mesmo.
Porque se bastar mesmo, mesmo, mesmo, mesmo é um tanto difícil numa sociedade (falemos de Brasil apenas) em as moçoilas tem um belo sonho: casar. E de branco. E fazer festão. Tipo as atrizes de novela. Tipo a Kate, a princesa.
Mas olhemos de outra forma também: apesar da mulherada estar caindo de pau em cima dos nossos opostos, parece que nascemos sobre o ar, a justificativa de que precisamos justificar tudo o tempo todo toda hora para todos, mas principalmente para nós mesmas.
Mas tem muita mulher, muita mesmo, que se aprofunda numa justificativa de tentar entender o homem, ou entender o porquê de tal ação, de ter te comido e nunca mais ter te ligado, ou de não falar mais com você naquela festa depois de ter te beijado, ou ter pedido seu tel e não ter ligado. Enfim, mil coisas que nós, mulheres que somos, como seres neuróticos por natureza pensamos:
- nossa, não transo bem, não beijo bem, sou feia, sou chata, sou isso, sou aquilo... - nós e as nossas neuras.
Falo isso porque tem mulher sem vergonha, claro, como tem homem sem vergonha também, mas digo no sentido de que muitas mulheres, não apenas as que querem casar, ter alguém para viver ao seu lado a vida toda e tals, mas muitas mulheres tentam justificar o outro, a ação do outro ao invés de entender o que está realmente acontecendo em sua vida.
- ele te ligou ontem?
- não. mas sabe, meu celular está com problemas.
- ah é?
- é, talvez que ele tenha ligado, mas você sabe, né? a tim, nossa, é um horror...
- mas você não acha que ele pode não ter ligado?
- não sei, não sei. mas meu celular está com problemas mesmo. ontem mesmo, um amigo tentou mandar uma mensagem e não chegou.
- não chegou?
- não. acho que o marivaldo (nome fictício) tentou me ligar. mas você sabe né? a tim.
- e o que vocês tiveram?
- a gente ficou junto sabe? ele dizia que gostava de mim. era real. muito real. ficamos juntos um tempão. 3 meses.
- ó, 3 meses. e hoje ele não te ligou?
- não. mas vou esperar, deve ser problema no celular mesmo.
- você mandou uma mensagem para ele perguntando porque ele não te ligou?
- mandei. mas sabe, pode ser que ele não tenha recebido. o celular dele é tim também. e você sabe né? a tim está um horror..
que saudade que me deu dos velhos tempos de dignidade em que as pessoas se respeitavam, umas as outras, mas muito a si mesmas também.
o medo de ficar sozinho cria umas expectativas absurdas e faz com que nasçam esses tipos de seres; os justificadores:
- eu não estou sozinha. não. é que ele não conseguiu falar comigo. só isso. deve ter marcado o número errado, não sei. ou deu problema no celular. você sabe né? esses celulares. Mas eu não estou sozinha não. Ele só ainda não conseguiu me ligar, não deu tempo. Ele trabalha muito. E os celulares, nossa, está um horror né? muito ruim. muito.
É. Muito.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Osama de Neve

dizem por aí que Osama Bin Laden está morto. Sei. Mas ninguém quer provar isso. Sei.
Desde que o mundo é mundo as pessoas têm interesse em ver a morte e a desgraça alheia. Pensem se matassem Tiradentes, o vilão, e não exibissem seu corpo por aí. O que seria da vida?
E o Sadan? Hã? Se não mostrassem o velhinho sendo enforcado, até hoje acreditariam que ele estava por aí, fazendo agora parte de algum programa humorístico como o Zorra Total ou substituindo o Sargento Pincel nos Trapalhões. O caso também que ele poderia ser o Sr. Wilson de Dênis, o pimentinha.
Mas se não mostrassem o malvadão sendo enforcado, ninguém acreditaria.
Se o assassino de John Lennon não o matasse na frente de uma multidão, provavelmente John seria visto em algum evento hippie por aí. Ou vendendo tempurá em feiras japonesas.
é uma coisa, mas é verdade. as pessoas querem ver mesmo, tipo São Tomé. Alguém aí acha que o Elvis está morto? Claro que não. Claro que não. Elvis hoje vive de covers de si mesmo e vendo churros em uma praça do Alabama.
- Os de doce de leite são meus preferidos, costuma dizer.
Entendo.
Mas a verdade sobre a morte de Osama é que Obama, o Barack chamou um soldado, o mais mais mais mau de todos e disse:
- Traga-me o coração dele.
Mas o que Obama, o Barack não contava é que o soldado tinha ascendentes no Paquistão. Devido a imigração, o soldado tinha um pézinho fincado lá.
Quando o herói encontrou o bandido e o bandido por piedade pedia: não me mate, não me mate, eu só quis dizer, o herói soldado ficou com pena e lembrou de seu bisavô.
- ele tinha uma barba assim- pensou com ele.
foi então que decidiu pegar o coração de um camelo, pq lá não havia alces, e levar para Obama, o Barack. e levou também o turbante que Osama usava e estava assinado pelo ronaldinho.
Obama, o Barack ainda pediu;
- Quero ver o corpo.
E o soldado herói que era mau mau mau disse:
- sinto muito chefe, mandamos o corpo para o mar.
- droga - resmungou obama, o barack - agora terei que dizer que devem confiar em mim. eu queria era ver o meninão despedaçado. você jura que o matou? jura?
- sim, senhor, senhor! - disse o soldado mau mau mau com os dedinhos cruzados.
- não tem uma fotinha? uma mísera fotinha? nada?
- tenho essa calça larga senhor, que Osama usava quando o matei. pode ver que está mijada.
- é isso, é isso.
e Obama, o Barack ficou feliz e acreditou no soldado mau mau mau. e contou sua história para o mundo.
Mas a verdade é que Osama parece tirou a barba e o turbante. raspou o cabelo e hoje vende souvenirs, desse copinhos sabe? lembrancinhas, ímas em Nova York. Mora lá com sete pessoas obesas que gostam de comer sucrilhos e bacon pela manhã. Osama ainda não se acostumou com a alimentação americana, mas vive bem com eles.
Osama espera agora a força e o beijo de alguma presendente da América do Sul para voltar a ser o velho e o bom Osama de sempre.
Com certeza alguém comentará que o viu vagando pelo Central Park. Mas ninguém vai acreditar. ninguém.
Nem Obama, o Barack.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Espetáculo

clap clap clap.
Bem que poderíamos começar assim ao falar do que e como os meios de comunicação vêm atuando ao longo de sua existência.
não vou me estender, não há necessidade. Mas ao falarmos por exemplo dos últimos acontecimentos, do que aconteceram entre os meses de abril de maio, já teremos um bom exemplo de como encarar as verdade dos fatos, bem como entender o motivo dos meios de comunicação parecerem tão arcaicos ao mesmo tempo que se mostram tão modernos.
Pois bem, quando aconteceu o massacre de Realengo, o que os meios de comunicação fizeram foi um tremendo de um espetáculo e uma falta de consideração imensa às famílias e principalmente às crianças envolvidas.
Em meio ao caos, o que os jornalistas mais queriam saber é como essas crianças se sentiram no momento que o assassino entrou na sala.
porra! como assim como se sentiram?
exploraram ao máximo a tragédia, as mães, os sobreviventes, o enterro. tudo que podia ser explorado em termos de imagem foi. quase que chegaram a mostrar a sala onde aconteceu a tragédia. ou mostraram e eu não vi?
enfim.
para mim isso tem um nome: sensacionalismo e desrespeito.
Um pouco depois disso, bem pouquinho depois, foi a vez de mergulharmos a fundo no Casamento Real. Mas que maravilha, um pouco de alívio para um jornalismo tão centrado na desgraça. Mas o casamento real, se é que podemos chamar assim, foi um dos fatos mais importantes da história do mundo. certo? certo, não discordo. Mas acompanhar, discutir o vestido, reprisar exaustivamente o primeiro beijo depois de casados, perder matérias e matérias discutindo o bolo que a noiva escolheu e explorar o que aconteceu anteriormente a sogra falecida de Kate é pedir para morrer.
O circo estava armado no próprio palácio, com uma multidão extasiada em comemorar o casamento de Willian. E o que isso poderia alterar na vida daquelas pessoas que tiveram um feriado, uma euforia e que agora devem estar no banco pagando suas contas e pensando o quanto que gastaram para ver uma celebração cristã, católica e arcaica.
e agora nossos olhos se movem em busca da foto de Bin Laden. O assassinato do "maior" terrorista do mundo. Sério? Sério mesmo? porque olha, para mim terrorista é aquele filho da puta que rouba merenda da escola infantil. terrorista é quem assina um salário de mais de 20 mil para não fazer nada num país onde a maioria ganha um salário minínimo. terrorista são os caras que mataram e torturam na ditadura da américa latina não sei quantos milhões de pessoas. terrorista é o cara que destrói uma família ao mandar o filho para a guerra lutar pelo "ideal".
terrorismo para mim é pensar que o tempo todo estamos destinados a viver com medo de outros homens. Tudo bem que Bin Laden fez o que fez. Entendo a dor e a revolta, mas nós como brasileiros assistirmos ao notíciário que brinda a cada dia uma nova baba aos EUA é nos humilharmos sem precedentes, é saber que não somos nem seremos ninguém numa terra em que estudar é quase um crime, onde investir em educação é raro e onde a cultura, de verdade, é aquela pão e circo de uma porra de uma Virada Cultural de merda.
olhe para a sua cidade e veja o que está acontecendo. veja o seu bairro e leio o jornal local. Não para se informar, mas para rir do que acontece em um jornalismo padrão de falta de ação. onde o jornalista não sai mais da redação para ver o que acontece. onde o prefeito destrói a história da cidade sem dó e onde ninguém faz nada. e nem pode.
e ao ver tudo isso me lembro de alguns textos e livros como "sociedade do espetáculo" que é onde vivemos, ou "shownarlismo" do arbex, um mariliense que graças a deus saiu daqui pq essa cidade não chega a lugar nenhum ou mesmo a falta de crítica social. o cala boca interno que temos vivido.
assistam um filme chamado "a montanha dos sete abutres" (1951) de Billy Wilder. o jornalismo de espetáculo está numa sociedade de espetáculo. onde o palhaço mesmo é a gente que engole tudo isso.

Sal

- acho que está bom, está pronto.
- deixa eu experimentar.
- agora? você vai experimentar agora? tá. mas está quente. assopre. veja se está faltando algo.
- hum...
- hum o quê? está bom?
- não sei, está faltando algo.
- e o que é?
- não sei. ainda não sei.
- mas eu coloquei tanta coisa, está tão cheirosa, tão apetitosa.
- pois é, pois é. eu sei, eu vi que colocou os temperos todos e picou os legumes e fez com carinho. mas não sei, está faltando algo.
- mas eu me concentrei na receita, li passo a passo. onde foi que eu errei?
- calma, você não errou. apenas se concentrou demais na receita e esqueceu de seguir sua intuição. a gente tem que ficar livre ao preparar um alimento. livre sabe? entender as combinações, saber o que pode ir para ficar melhor, essas coisas.
- entendi.
- é como a vida. tem que estar livre. nem que for no próprio pensamento. mas livre.
- sei...mas e daí? o que faltou?
- acho que já sei o que faltou: sal.
- sal?
- sim, o tempero principal dessa vida. sal. você tem sonhos, ana?
- alguns. não muitos.
- pois coloque sal.
- na sopa?
- também. mas nos sonhos.

e saiu. colocou um vinil. abriu um vinho.
a sopa estava na mesa.