- Bom dia - murmurou ao entrar na cozinha.
Carregava uma sacola de roupas sujas e um olhar cansado. Apesar do dia frio, aquele casaco fino de lã parecia esquentar uma alma que estava desolada.
- Bom dia - a moça respondeu. e continuou tomando seu café.
O homem então parou na mesa e sem se sentar encheu uma xícara de café, daquelas xícaras pequenas que se usa quando se faz um café para a visita. Pegou a xícara pequena e tomou o remédio.
Tinha esse costume. Tomava remédios com café. Ninguém sabia ao certo o motivo.
Deixou a xícara sobre a mesa e saiu. Não disse mais nada.
Subiu as escadas cansado, como se não tivesse dormido a noite toda. Aliás, dizem que dormiu na sala, sentado na poltrona. Sem cobertor. E foi dormir lá pelas tantas.
Na noite anterior, a moça ainda ouvia sua voz murmurando algo na sala, como se estivesse bravo. Por isso que no café da manhã a moça não disse nada. Não abriu a boca para falar uma palavra.
As palavras soariam vazias naquela momento. E o velho homem parecia que estava vazio também no olhar.
Era um piano muito pesado que levava nas costas. A vida lhe obrigou a ser assim.
tinha a testa franzida ao dizer "bom dia".
Sempre franzida entre os olhos. E até o Sol já tinha feito uma marca ali.
Mesmo sem franzir a testa, parecia franzida, o que dava ao homem o aspecto de alguém sempre bravo.
Talvez com a vida, talvez consigo mesmo.
Acendeu um cigarro e foi para o trabalho. Era mais um dia que começava. ou no caso do homem cansado, não terminava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário