Pois bem, uma das coisas que eu mais gosto de reparar é no humor das pessoas. Claro, no meu também,
oficorse. e olha que muda bastante. Contudo, reparar em como as pessoas se comportam está se tornando pra mim um hábito.
Por exemplo, a espera em um banco. Ah, eu chego e delirar.
De ódio? Sim, também porque ficar na fila, esperando pra ser atendido ninguém merece. Mas eu creio que não há nada tão rico quanto observar o comportamento das pessoas nos bancos. É quase uma aula.
Devido a alguns problemas no trabalho, tenho frequentado um pouco mais o "interior" do banco. Ou seja, algumas vezes tenho que ficar esperando pra sacar, pra depositar, pra alterar a conta e etc. Isso tem ocorrido algumas vezes e confesso que tem sido extremamente rico. Quando eu tenho tempo, claro.
Mas mesmo quando estou um tanto sem tempo na hora do almoço, correndo pra lá e pra cá, sentar e esperar pra ser antendida tem me surpreendido. Por exemplo a mulher que fica mau humorada porque o cachorro está no carro enquanto ela está na fila:
- Isso é um absurdo! - esbraveja aos quatro ventos, esperando que um olhar lhe confirme, "é mesmo, minha senhora"
- Mas como é isso, mudam de banco e fica pior? - falava alto o senhor de sandálias havianas e chapéu.
Parece um antro em que as pessoas já entram mau humoradas. ou saem mau humoradas e sem dinheiro. e legal também de observar são os senhores, os mais velhinhos no banco:
- filha, leia isso aqui para mim? não consigo ver. em que fila eu vou? filha, como eu coloco esse envelope aqui?
é uma judiação.
mas agora tenho observado também outras mudanças de humor, no caso, na televisão brasileira. Sempre fui fã de entender o que passa, o que acontece na tv e teve uma época que eu era viciada em "Casseta e Planeta".
Achava engraçadíssimo o jeito que os caras tratavam as notícias, o humor sarcástico...Mas vi de novo esses dias e parece que para mim, a fórmula esfriou. Não tem mais graça e é bem estranho de assistir.
Aquele humor escrachado da "Praça É Nossa" também fez histórias e revelou muitos talentos, mas o formato também se perdeu. Ficou "surdo" como a própria velha da praça. "Heeein??". Era muito bom.
Foi então que no auge na sem gracisse da tv brasileira, surge o "Zorra Total". Inteligência pra que te quero? Melhor mostrar a bunda e os peitos que fazem mais sucessos. Lembro-me quando era criança que assistia a um programa chamado "Chico Total" com o Chico Anísio (claro) e outros que agora se desdobram pra fazer algo no Zorra. Era engraçado porque tinham personagens e contextos também de uma época. E uma crítica velada a algumas coisas políticas. Não me lembro de peitudas e bundudas nesse programa. Vai ver até que tinha. Mas era bem menos. Agora, se não chama a atenção por inteligência, que chame pelo nu. Isso pra mim é subestimar a inteligência de qualquer um.
A televisão sempre foi para mim uma fonte de mistério, algo a ser decifrado, porque na realidade, ela nos devorava loucamente. Uma vez uma professora do mestrado deu uma aula sobre isso, explicando a questão da "antropofagia televisiva", o quanto a televisão nos suga e nos engole, engolindo também o nosso próprio tempo. A antropofagia a qual nos falava Oswald, onde o homem engole a si mesmo. No caso aqui, devora a arte e vomita algo pior do que saiu.
e dessa forma eu comecei a pensar no processo da mudança de humor na televisão. O que eles usavam antes, no rádio, na tv e no cinema para 'entreter" o telespctador, surge hoje numa revanche, numa reinvenção diária de como buscar salvar a audiência. E muito pouco a inteligência. Vide SuperPop, TVFama e coisas do gênero.
Então me pego a observar um programa como o "Pânico na TV", um programa que antes era de rádio e que sim, eu ouvia. Meu, eu ligava o rádio depois do almoço e dava boas risadas com aquela turma toda.
E os caras saíram do rádio e reinventaram o humor na TV e trouxeram algo extremamente novo que é a ironia escrachada do riso sobre as celebridades, sobre o cotidiano, com uns caras extremamente talentosos.
Mas daí só o talento e o humor não bastava mais, e eis que num (cópia?) outro canal surge o CQC para o delírio da sociedade. Putz, humor, jornalismo, denúncia e ironia num mesmo saco. E os caras foram pro Planalto! E os caras usam propaganda atrás de propaganda e um excesso de tom pastelão.
Achei simplesmente fantástico. Isso em uma televisão aberta.
E um belo dia me pego zapeando a tv e paro em um programa chamado "Furo MTV". Tá bom, mudou tudo agora, toda a minha concepção novamente.
Pessoas extremamente talentosas de um novo gênero de comédia no Brasil, o "Stand UP" importado do modelo (eficaz) americano, apresentam programas como "Furo MTV", "Comédia MTV" e "Quinta Categoria" numa nova possibilidade de ver uma tv, hã, musical.
Eu me lembro nos famosos idos dos anos 1990 os clipes da MTV, famosérrimos, delirantes e nos idos dos anos 2000, programas como"Fica Comigo" e "Beija Sapo" marcaram o cenário da emissora, com altos indíces de audiência.
Mas os famigerados de agora trazem mais um novo olhar sobre a televisão no Brasil e a necessidade de se reinventar, afinal a mensagem também está no meio. E a MTV parece que percebeu isso a tempo e está sabendo usar a seu favor.
Sobre o humor no banco, para finalizar esse texto, (porque se vc leu até aqui, parabéns), não podemos esquecer das mães que levam os filhos e entram na fila de atendimento preferencial.
- Fica quieto moleque, vc vai apanhar - dizia hoje uma "delicada" mamãe que entre umas e outras viu o filho pulando três cadeiras e correndo pela porta giratória.
Sim, dessa forma não tem humor que aguente. Mas o menino chegou a ficar quieto por alguns instantes. Explico porquê.
Enquanto a gente espera para ser atendido por senhores e senhoras sérios e bem vestidos, há uma televisão (no mínimo) ligada em algum canal. Nem sempre interessante, é claro.
Hoje estava (é óbvio) ligada em um jogo de futebol.
Acredito que percebendo o desespero da mamãe, alguém do banco ligou num canal a cabo de desenho. E não é que o dito moleque ficou quieto? Uma seda.
Mudança rápida de humor. Da mãe e do menino.