quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Despedidas

Eu sempre considerei as despedidas como algo ruim.
Por exemplo, você estar na praia e ter que se despedir de lá porque tem que voltar a trabalhar. Ruim.
Outro exemplo é você estar com uma pessoa fantástica, trocando uma ideia incrível e ter que se despedir porque está na hora de ir embora, porque o bar fechou, enfim. Ruim.
Você é criança e está na casa dos seus avós, tem bolo, primos, brincadeiras. E você tem que ir embora porque as férias acabaram. Ruim.
Despedir-se de alguém, um lugar sempre é algo que nos incomoda.
A morte, por exemplo, é uma despedida dolorida. De inúmeras formas, na idade que for, ver alguém que você gosta, que você ama morto e não ter como dar um último abraço é mais do que ruim. É péssimo, é doloroso, é triste demais.
E isso me faz lembrar que as despedidas, por mais assim, assadas que sejam, são necessárias para que comecemos algo novo. Com a gente mesmo, com o espaço que a gente está, enfim.
Esses dias eu vi um garotinho chorando desesperadamente abraçado ao avô na rodoviária. Ele chorava e dizia que não queria que o avô fosse embora. O avô pacientemente o agradava, o acalmava dizia "semana que vem eu estarei de volta, netinho, não chore" e dava dinheiro (cinco reais que era o que ele tinha no bolso) e o menininho continuava chorando.
Foi triste de ver porque as nossas dores não podem ser comparadas. A dor desse garotinho não é menor do que a dor de alguém que se despede de um amigo muito querido, mesmo que ambos sejam adultos. Não é menor que a dor de uma separação. Dor não se mede. Despedidas não têm cheiro, apenas tem gosto. Aquele gosto forte das lágrimas escorrendo, seja antes ou depois de você partir ou ver alguém partindo.
Pensei nisso porque muitas vezes a despedida necessária é aquela que fazemos de nós mesmos. Sim, de nós, da antiga capa que usamos, do que costumávamos ser.
Quem era aquela garota que aos 20 anos tinha medo de tudo? Quem era aquela menina apavorada na primeira festa que tinha bailinho porque sabia que não ia dançar com ninguém? Quem era aquela adulta cheia de sonhos e incertezas?
Despedir-se de nós mesmos é muito dolorido. Talvez tanto quanto um corte que depois de aberto você joga álcool nele e fecha os olhos não querendo sentir aquela dor, não querendo ver o que mudou no lugar onde está aquele corte ou que o sangue não está parando de estancar.
Despedir-se deve ter um caminho muito mais amplo do que apenas sentir dor, sentir saudade.
Claro, a gente tem saudade de uma época, do que a gente viveu, das pessoas com quem convivemos e lógico, daquilo que fez a gente ser o que é hoje.
Mas a despedida de verdade deve ter um olhar altivo, para frente, enxergando que no espaço que antes havia um amigo, uma praia, um avô, agora pode ter outras coisas. Novos lugares para conhecer, novos amigos e quiçá a esperança de você rever o avô que foi embora.
Despedir-se de nós mesmo, do que costumávamos ser deve ter um pouco disso: esperança. Não de um mundo melhor, balela, mas de um EU melhor, de uma pessoa melhor, de novas formas de ver como viver nesse mundo repleto de sensações, de desejos, de saudades. De sentimentos profundos e latentes que fazem mesmo a gente ser quem a gente é.
Mas mais do que isso, eu acho que despedir-se é um reencontrar-se novo, passível de mudanças internas, externas e principalmente de enxergar novos horizontes.
Despedir-se de alguém, de um lugar, de si mesmo é como colocar óculos e ver que por mais novo e diferente que seja, ainda há de se enxergar melhor o que está por vir...