tag:blogger.com,1999:blog-39617602680338287502024-03-12T22:02:45.288-03:00Alice Via"Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase" p. leminiskiLidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.comBlogger254125tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-24954963512123174332016-12-14T22:26:00.002-02:002016-12-14T22:26:44.045-02:00HiatoSussuros, eram sussurros que se ouvia pela noite adentro. Não se sabia mais que horas eram, nem qual música tocava na velha vitrola que insistia em repetir a última estrofe de uma letra que não tinha a ver com o momento, mas a melodia ecoava nos pelos arrepiados, no coração acelerado como uma injeção de tesão, de ânimo.<br />
Olhos fechados e gota a gota o suor ia escorrendo pelos corpos quentes, úmidos que molhavam a cama, o que restava do lençol que tentava em vão ficar esticado, o travesseiro amassado e as roupas perdidas entre as mordidas, o cheiro....<br />
Apelos e apertos na imensidão de desejo que o momento servia.<br />
"Fica mais...fica mais".<br />
<br />
E a vida volta ao normal, a casa continua vazia, o café continua sem passar acumulando o pó próprio do tempo que passa, o pão sem margarina, o banheiro impecavelmente enxuto, o sofá para uma pessoa apenas e a casa sem os sapatos misturados espalhados pelo chão.<br />
E o sexo é ótimo, a conversa é tão boa quanto o sexo, vocês riem da mesma coisa. E por isso que não dá para pedir que a pessoa fique mais. Simplesmente não dá. Não dá porque você não tem coragem de dizer que mudaria sua vida toda para ter esses momentos constantemente. Não dá porque você não tem coragem de dizer que ela é a pessoa da sua vida e que vocês teriam os melhores momentos da vida de vocês juntos e que você é louca pra ter um filho com ele, com aquele cabelo, com aquela cor de olho, com aquele jeito lindo e manso. Não dá simplesmente porque se você tentar novamente se apaixonar por essa pessoa não vai dar certo e porque você sabe que essa vida foi feita para você ficar sozinha. Não dá porque você sabe que vai sofrer todas aquelas dores de novo porque de um momento para o outro a pessoa vai aparecer com outra pessoa, na maioria das vezes, mais interessante do que você, ao lado dela. Não dá para pedir que fique porque você tem plena consciência do tanto que você é egoísta e incapaz de dividir algo bom com alguém e mais egoísta ainda porque você não quer dividir nada porque sabe que não vai dar em nada todos aqueles sussurros. Eles se perdem no tempo, no vazio das paredes acumuladas de um branco mais vazio ainda.<br />
<br />
E o melhor a dizer nessas horas é: que pena que não ficaremos juntos. é uma pena. E sair de cena com o coração estraçalhado em pedaços mínimos. Sabendo realmente que esse mundo de amor, de troca, de sentir o outro é apenas momentâneo. E fim. <br />
<br />
<br />Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-12719001999446911042016-12-14T22:24:00.000-02:002016-12-14T22:24:05.961-02:00Bailarina - A Caixinha de MúsicaRodava e rodopiava. Em movimentos leves, lentos e delicados, a pequena bailarina da caixinha de música ousava se mexer e chamar a atenção mais do que as joias que, guardadas há algum tempo, insistiam em brilhar.<br />
A bailarininha tinha um sonho: dançar também em frente em espelho grande da casa. Ela já havia visto que no corredor que dava para os quartos havia um espelho grande, bem grande. Desses que dá para ver o corpo inteiro.<br />
Apesar do corpo da bailarininha ser pequeno, bem pequenininho, ela queria ser enxergar inteira. Na caixinha de música, apenas a metade do seu corpo podia ser vista. A bailarina tinha uma roupa rosada, rodada, com colãn, brilhos e um tule como saia. Os cabelos presos em um coque davam o toque final.<br />
Todos os dias, Amélia abria a caixinha de música, mais pela bailarina do que pela música, mais pelas joias do que pela bailarina, para escolher um brinco que lhe agradasse. E então a bailarininha como quem quer ser vista, dançava, dançava e dançava. Mas continuava triste em ficar presa na caixinha de música.<br />
Então um dia Amélia esqueceu a caixinha de música aberta e a música tocou, tocou e a bailarininha dançou até a música acabar. E então saiu da caixinha de música e se pôs a andar pelo quarto. Andou pelas rendas rendadas das camas, pelo chão de taco, passou pelo perfume e atravessou a porta.<br />
E assim, diante dela, viu no fim do corredor o grande espelho, no qual ela ia dançar e se ver por inteira. E então correu para o espelho e começou a se olhar. Olhou as roupas, olhou o cabelo, olhou a sapatilha.<br />
E da cozinha vinha um som diferente, uma música que ela nunca tinha ouvido. Na verdade não sabia nem que existia a cozinha. Mas seguindo a música chegou até lá e ouviu uma doce melodia vindo de uma senhorinha bem velhinha que descascava cenouras para cozinhar.<br />
E ela cantava bem baixinho: só a bailarina que não tem...todo mundo tem...<br />
E a bailarininha levou um susto. Será que tinha sido vista?<br />
Se escondeu rapidamente atrás da porta, perto da tomada e voltou para o espelho. Com o coração acelerado se questionou: o que eu não tenho?<br />
E se lembrou de uma palavrinha bonita que combinava com a palavra bailarina: liberdade.<br />
E então dançou, dançou e dançou procurando a tal liberdade. <br />
<br />
<br />Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-85128581572964705942015-09-21T18:45:00.002-03:002015-09-21T18:45:38.641-03:00O PerdãoEra uma tarde normal, uma pouco mais abafada do que as outras por falta de chuva, mas uma tarde de quinta-feira como qualquer outra. As folhas pouco se mexiam nos galhos por falta de vento e os mosquitos, desses pequenos mosquitos de frutas estavam aos montes na sala do Altair.<br />
<br />
Bom, para quem não conhece o Altair (homem alto e honesto) a questão principal é saber que Altair, no alto de sua vida, aos 40 e poucos anos, nessa tarde de quinta-feira resolveu que ia fazer as pazes com o passado. Sim, resolveu que ia perdoar a família, os amigos e as ex-namoradas de todas as dores que teve na vida. Saiu do trabalho naquela tarde de quinta-feira abafada e passou no mercado. Comprou pães, queijo, massa de macarrão e um molho especial.<br />
<br />
Chegou em casa em silêncio, mesmo morando sozinho o que se torna a partir daí algo a ser pensado, chegou em casa em silêncio como se não quisesse fazer barulho para acordar a esposa e começou a pensar o que iria fazer para perdoar aquele que tirou o seu sono durante anos: o seu tio Virgínio.<br />
<br />
Virgínio até que era um homem bom, parecia pelo menos, mas ao longo da vida (Altair e Virgínio tinham a mesma idade, quer dizer, Virgínio era exatos 6 anos e meio mais velho que Altair) Virgínio acabou extrapolando algumas questões e roubando de Altair aquela que tinha sido seu amor: Neusa, a morena mais bonita da vila.<br />
<br />
Altair nunca perdoara Virgínio por isso. Nunca. E Virgínio, para variar, se fazia meio de sonso, de bobo, confessando para Altair o tanto que gostava de Neusa. Para você ter uma ideia, quando ambos eram jovenzinhos, Virgínio percebeu que Altair gostava de Neusa e para evitar que algo a mais acontecesse, zás, se antecipou e contou ao sobrinho:<br />
<br />
- Altair, acho que estou gostando de alguém.<br />
- Quem, Virgínio?<br />
- Da Neusa, a morena mais bonita da vila.<br />
<br />
Altair, boa alma que era ouviu atentamente, piscou os olhos, os dois juntos, respirou fundo e disse:<br />
<br />
-Virgínio, se ela é seu amor, vá atrás dela.<br />
<br />
E assim Virgínio fez por toda a vida. Enchia o Altair com mentiras, sorrisinhos bobos, vivia na casa da mãe de Altair, sua irmã, almoçava, jantava e veja bem, pedia favores ao pai de Altair: dinheiro é claro e servicinhos em geral que não sabia fazer.<br />
<br />
Mas nessa tarde quente de quinta-feira, nessa tarde abafada, Altair decidiu que aquilo não iria mais atormentar seus sonhos, seus piores sonhos no qual Virgínio aparecia sempre, sorrindo e roubando-lhe algo. Discussões homéricas aconteciam em seus sonhos e Altair acordava cansado, mal humorado e a culpa ali era de Virgínio.<br />
<br />
Pois muito que bem: naquela tarde passou no mercado e como eu disse comprou pão, queijo, macarrão e um molho especial. Ligou para Virgínio.<br />
<br />
- Virgínio, sou eu, Altair.<br />
-....<br />
- Sim, estou bem e você?<br />
- ....<br />
- Pois é, há quanto tempo rapaz...<br />
- ...<br />
- Não, não tenho raiva de você, já passou. Aliás, por isso estou te ligando. Venha jantar aqui em casa.<br />
- ....<br />
- É, jantar, nós dois, Vamos conversar, vamos nos perdoar.<br />
- ....<br />
- Não não, não precisa trazer nada não.<br />
- ....<br />
- Tá. um vinho então, Traga um vinho.<br />
<br />
E assim a campainha tocou e Altair abriu a porta. Virgínio, homem alto como ele, estava um pouco mais careca, mais gordo, mas ainda assim era Virgínio com sua cara de sem vergonha e seu riso faceiro de anos atrás.<br />
<br />
- Eu trouxe o vinho. Posso entrar? - perguntou Virgínio.<br />
<br />
Os dois então se abraçaram e o jantar começou. Festa, era festa aquele dia. Como um Natal, um renascimento. Os dois celebraram, riram, choraram e se diga-se de passagem, se perdoaram. Neusa, a morena mais bonita da vila, casou-se com Alcides, amigo de Altair e Virgínio, mas que era baixo e gordinho. Cheio de dinheiro, isso lá é verdade, Alcides era cheio de dinheiro. Mas Neusa era agora uma senhora casada, gorda, mãe de 3 filhos e avó de 7 netos.<br />
<br />
Altair e Virgínio comeram o macarrão, o pão com queijo, beberam o vinho e dormiram. Dormiram bem. Virgínio na sala e Altair no quarto. Dormiram bêbados, felizes e naquela noite, pela primeira vez em anos, Altair dormiu bem, tranquilo, descansado. Tirou um peso das suas costas ao celebrar com Virgínio uma nova vida, um recomeço.<br />
<br />
Acordou tranquilo.<br />
<br />
Mas, não sei bem o motivo, Virgínio não acordou pela manhã, e nem pela tarde. E muito menos à noite. Havia morrido. Deitado ali no sofá de Altair, como se estivesse em sono profundo, e estava, Virgínio havia morrido.<br />
<br />
Altair saiu para trabalhar normalmente. Viu que havia louças para lavar. Viu que Virgínio não levantou e que não se mexia. Viu que a garrafa de vinho estava vazia. Mas saiu feliz pela porta. Perdoado da vida.<br />
<br />
Mas antes de fechar a porta, olhou para a sala, a cena toda, Virgínio deitado imóvel, e pensou:<br />
<br />
- Quando chegar à noite limpo essa bagunça.<br />
<br />
E fechou a porta.<br />
<br />
O dia amanheceu abafado de novo, mas dessa vez, Altair tinha certeza de iria chover. Certeza.<br />
E sorriu jogando a chave do carro para cima com uma mão e pegando com a outra antes de abrir o veículo.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-23621863488941735932015-06-04T20:01:00.001-03:002015-06-04T20:01:58.488-03:00O novo- Acredita em mim?<br />
- Como vou acreditar em vc agora? depois de tudo o que aconteceu, acreditar em vc seria uma grande perda de tempo.<br />
- mas é sério, acredita em mim, só isso que te peço.<br />
<br />
era como pedir a Deus uma segunda chance. minhas mãos tremiam, meu coração acelerado, tudo doía, menos a sensação de alívio que eu queria muito ter há algum tempo. está tudo novo de novo, tudo diferente e não sei mais como lidar com isso, com essa maneira nova de enxergar a vida.<br />
como entender todos esses processos de mudanças, como saber para que lado correr, para que lado ir. será que eu nunca consegui ser o que eu queria ser de vdd? estava tudo tão estranho, tão absurdamente diferente que o meu corpo ainda não havia acostumado, nem mesmo a minha mente. pedir ao joão uma segunda chance para ser feliz era só o que precisava naquele momento, como se realmente eu precisasse do perdão, ou melhor, da concessão de alguém para ser eu mesma, para ser o que eu queria ou quisesse ser.<br />
e acredita em mim, estava difícil demais ser eu mesma nesse mundo, nesse absurdo de mundo que eu tão pouco entendia, que eu tão pouco sabia como viver. era como se eu tivesse que reaprender a andar com as duas pernas, no caso, com as minhas pernas, com o meu pensamento e a minha direção.<br />
a saudade que eu tinha do joão, das coisas que vivemos juntos, a saudade que eu tinha de mim quando estava com ele era algo quase absurdo. de doer a alma, de corroer o coração. e eu sabia que me lançar em um desafio novo, em tentar algo diferente em uma cidade tão diferente de mim, valeria a pena. o que eu não sabia é que estar comigo de novo me traria dúvidas, reflexões sobre o que eu gostaria de ser, o que fui e o que pretendo da vida.<br />
era como se todas as minhas pretensões e sonhos tivessem sido jogados dentro de um saco, desses de plástico mesmo, e tivessem amarrado, dando um nó nesse saco. os sonhos lá, pulando de um lado para o outro e eu sem força para rasgar o maldito saco plástico. sem saber se pego uma tesoura, se rasgo com as mãos ou se penso que deixar os sonhos ali, guardados, ensacados é a melhor solução para que eles sejam eternos.<br />
eu não sei quem sou de verdade e misturei o joão em meio a tudo isso, em meio a esse desespero. pedir um tempo porque quero ficar comigo é, na visão dele, quase que uma traição. é uma traição. e eu repetia:<br />
- acredita em mim, acredita em mim...<br />
quase como um mantra. talvez que fosse para que eu acreditasse em mim também de novo. e eu não sei por onde ir e não sei se é isso mesmo, se tenho que confiar em mim, se algo vai dar certo. eu não sei.<br />
definir o lugar que estamos é mais difícil do que definir como estamos. o exterior reflete tudo, e, no meu caso, o exterior deixava de refletir a cada minuto os meus sonhos e a minha vida. para que eu estudei tanto? para que tanta dedicação?<br />
sim, eu estava perdida.<br />
- acredita em mim.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-29022328072910176682014-12-15T11:28:00.002-02:002014-12-15T11:29:58.382-02:00SangueSubi as escadas passo a passo. A ladeira para a casa que dava para o fundo daquele quintal imenso, enlameado e cheio de grama era ingrime. E mesmo assim, ao chegar lá no fundo, bem no fundo do quintalzinho, tinha essa escada de mais ou menos 8 degraus. Era uma escadinha, na verdade. Sem ajuda para subir ou para descer. Era feita apenas de concreto e ela dava para uma cozinha escura, com uma mesa de lata, tipo dessas mesas de boteco com três ou quatro garrafas de cervejas vazias sobre ela. A porta ao lado da cozinha dava para uma sala com madeira de taco, desses tacos antigos e uma janela grande que abria-se em duas partes e onde entrava muita luz. E dali, perto da janela, a porta para o quarto.<br />
<br />
Pé ante pé, fui entrando. Pés sujos e assim mesmo eu esfreguei um pé contra o outro na hora de entrar na casa. Sinal de respeito, não sei. Tentei limpar, mas meus pés tinha barro e grama. E sujaram o tapete velho e laranja que segurava a mesinha de centro da sala.<br />
<br />
Duas pessoas estavam na porta do quarto perto da janela grande olhando lá para dentro. Eu já sabia do que se tratava, ou não. Nossa mente nos confunde quando tentamos nos enganar. Não há de ser nada, pensei. E assim me vi olhando para a televisão desligada e cumprimentando as pessoas perto da janela. Oi, disse.<br />
<br />
O homem de bigodes dourados e olho azul saiu do quarto. Passou por mim na sala e perguntou: quer bala? Eu gostava de bala. E ele tinha daquelas balas chamadas 7 Belos. Sabor morango e maçã. Peguei duas de casa sem dizer se aceitava ou não. Apenas acenei com a cabeça. Ele me deu as balas e foi para a cozinha. Ouvi a pia começar a funcionar. A água ia escorrendo da torneira atingindo em cheio o copo sujo há dias de cerveja e os pratos manchados de um feijão preto com arroz. As garrafas de cerveja vazias foram levadas para a lavanderia, junto à caixa veja de papelão que abrigava outros cacos. Acredito que de cerveja também. A água continuava a escorrer na pia e o homem abriu a geladeira e pegou um pedaço generoso de queijo. Colocou inteiro na boca e abriu uma lata de refrigerante. Quer? Perguntou de novo para mim. Fiz que sim com a cabeça.<br />
<br />
As pessoas continuavam entrando e saindo do quarto. E a janela, apesar do tempo de chuva, continuava aberta e recebendo vento, batendo lentamente os vidros contra a parede. Eu achei que em algum momento o vidro ia se quebrar, espatifando-se para fora da casa e causando um pouco mais de transtorno para aqueles que estavam lá, com cara de preocupados na porta do quarto.<br />
<br />
Foi quando eu ouvi um choro copioso vindo de lá de dentro. Um choro profundo, silencioso na dor e estrondoso no desespero. O homem de bigodes dourados e olho azul foi para o quarto. Algumas pessoas saíram do quarto se lamentando com a cabeça, outros abaixavam os olhos e outros choravam também.<br />
<br />
Ali, perto do quarto eu fui e a única coisa que consegui ver foi os pés de uma mulher e um lençol manchado de sangue no chão. Ouvia ao longe a torneira do banheiro pingar naquele azulejo azul e ela com as mãos nos olhos e no rosto. Não vi quem era a mulher. Apenas tinha algumas falas como "meu bebê". E o homem de bigode dourado e olho azul saiu da cozinha, olhou para mim e disse: não deixarei rastro nenhum meu nesse mundo. Ninguém ficará para contar história.<br />
<br />
Eu apenas acenei e tomei mais um gole do refrigerante. Eu ainda tinha duas balas e começava a chover. As janelas batiam mais forte e o vento soprava lá fora de um jeito que eu nunca tinha ouvido.<br />
<br />
Liguei a televisão.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-46482745329179460122014-09-17T21:26:00.002-03:002014-09-17T21:26:17.256-03:00DespedidasEu sempre considerei as despedidas como algo ruim.<br />
Por exemplo, você estar na praia e ter que se despedir de lá porque tem que voltar a trabalhar. Ruim.<br />
Outro exemplo é você estar com uma pessoa fantástica, trocando uma ideia incrível e ter que se despedir porque está na hora de ir embora, porque o bar fechou, enfim. Ruim.<br />
Você é criança e está na casa dos seus avós, tem bolo, primos, brincadeiras. E você tem que ir embora porque as férias acabaram. Ruim.<br />
Despedir-se de alguém, um lugar sempre é algo que nos incomoda.<br />
A morte, por exemplo, é uma despedida dolorida. De inúmeras formas, na idade que for, ver alguém que você gosta, que você ama morto e não ter como dar um último abraço é mais do que ruim. É péssimo, é doloroso, é triste demais.<br />
E isso me faz lembrar que as despedidas, por mais assim, assadas que sejam, são necessárias para que comecemos algo novo. Com a gente mesmo, com o espaço que a gente está, enfim.<br />
Esses dias eu vi um garotinho chorando desesperadamente abraçado ao avô na rodoviária. Ele chorava e dizia que não queria que o avô fosse embora. O avô pacientemente o agradava, o acalmava dizia "semana que vem eu estarei de volta, netinho, não chore" e dava dinheiro (cinco reais que era o que ele tinha no bolso) e o menininho continuava chorando.<br />
Foi triste de ver porque as nossas dores não podem ser comparadas. A dor desse garotinho não é menor do que a dor de alguém que se despede de um amigo muito querido, mesmo que ambos sejam adultos. Não é menor que a dor de uma separação. Dor não se mede. Despedidas não têm cheiro, apenas tem gosto. Aquele gosto forte das lágrimas escorrendo, seja antes ou depois de você partir ou ver alguém partindo.<br />
Pensei nisso porque muitas vezes a despedida necessária é aquela que fazemos de nós mesmos. Sim, de nós, da antiga capa que usamos, do que costumávamos ser.<br />
Quem era aquela garota que aos 20 anos tinha medo de tudo? Quem era aquela menina apavorada na primeira festa que tinha bailinho porque sabia que não ia dançar com ninguém? Quem era aquela adulta cheia de sonhos e incertezas?<br />
Despedir-se de nós mesmos é muito dolorido. Talvez tanto quanto um corte que depois de aberto você joga álcool nele e fecha os olhos não querendo sentir aquela dor, não querendo ver o que mudou no lugar onde está aquele corte ou que o sangue não está parando de estancar. <br />
Despedir-se deve ter um caminho muito mais amplo do que apenas sentir dor, sentir saudade.<br />
Claro, a gente tem saudade de uma época, do que a gente viveu, das pessoas com quem convivemos e lógico, daquilo que fez a gente ser o que é hoje.<br />
Mas a despedida de verdade deve ter um olhar altivo, para frente, enxergando que no espaço que antes havia um amigo, uma praia, um avô, agora pode ter outras coisas. Novos lugares para conhecer, novos amigos e quiçá a esperança de você rever o avô que foi embora.<br />
Despedir-se de nós mesmo, do que costumávamos ser deve ter um pouco disso: esperança. Não de um mundo melhor, balela, mas de um EU melhor, de uma pessoa melhor, de novas formas de ver como viver nesse mundo repleto de sensações, de desejos, de saudades. De sentimentos profundos e latentes que fazem mesmo a gente ser quem a gente é.<br />
Mas mais do que isso, eu acho que despedir-se é um reencontrar-se novo, passível de mudanças internas, externas e principalmente de enxergar novos horizontes.<br />
Despedir-se de alguém, de um lugar, de si mesmo é como colocar óculos e ver que por mais novo e diferente que seja, ainda há de se enxergar melhor o que está por vir...Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-4604198731534394262014-07-13T10:54:00.001-03:002014-07-13T10:55:11.652-03:00Sobre a Morte e a VidaUma das coisas que me faz pensar sobre a Vida, vejam só que curioso, é a sua antítese e alma gêmea, a Morte, essa desconhecida que nos ronda a cada minuto do nosso dia. Eu pensei muito nisso quando vi o filme "Sétimo Selo" (Ingmar Bergman, 1956) em que a Morte aparece como uma personagem viva, olha só, que joga xadrez, que ouve confissões e que faz pactos.<br />
<br />
Pois é, pensar na Morte é algo que não me assombra. Claro, no sentido de saber para onde é que a gente vai depois disso aqui, é lógico que dá medo, contudo, pensar na Morte é claramente tentar entender e viver também os minutos que nos seguem no cotidiano de nossa estrada.<br />
<br />
Aquelas perguntas claras sem respostas, claro, desde os gregos, "quem somos nós, para onde vamos, o que queremos", essas pequenas questões internas que nos fazem movimentar esse trocinho chamado mente e encher de questionamentos esse outro trocinho chamado coração.<br />
<br />
Ora, mas é claro que se a Morte existe, pesa dentro dela também a questão da vivência, a necessidade de conhecer bem a Vida para que possa levá-la, sabe-se lá para onde, a alcançar outro patamar, outra dimensão, enfim, outro eu.<br />
<br />
E é nesse Eu que eu penso em chegar.<br />
<br />
Li ontem o livro "O Conto da Ilha Desconhecida" de José Saramago. Nele, o Rei atende as pessoas por algumas portas. A porta do "obséquio", a porta dos "pedidos" e etc. Mas tem um homem que insiste em ser atendido e cai na porta do pedido sem tirar nem pôr. Na verdade, para mim, as portas são duas: as portas do Rei e as nossas portas internas, porque ele estava na porta da Decisão, tal qual a empregada que carregava os pedidos para o Rei saiu. Ela tomou uma decisão e saiu pela porta da Decisão. Não tinha volta. E o Rei avisou. O que o homem queria era um barco para ir para uma ilha desconhecida. O Rei insistia em dizer que todas as ilhas eram conhecidas, todas. E ele dizia que não, que tem uma ilha que ninguém conhece. E ele iria para lá. E perguntaram se ele sabia navegar. E ele disse que não. Mas que o mar iria ensinar.<br />
<br />
Para mim essa é uma metáfora clara da Vida e da Morte. A gente vive cercado de obséquios, de pedidos, mas de decisões não. A Morte toma a decisão, está claro que você vai sair dessa Vida, mas e a Vida, em que porta ela está? Em que porta o meu Eu está?<br />
<br />
Se a Morte é tão assim, certa, decisiva, a Vida deve ser incerta e isso é bom. É bom porque com a incerteza buscamos nos mover, o "será" abarca o que pensamos ser bom, o que pensamos ser interessante, mas não necessariamente o que queremos de verdade. A Morte sabe o que quer. E isso é fascinante.<br />
<br />
Talvez por isso nos cause tanto medo, tanta estranheza ela existir. Ela estar viva, apesar de ser a Morte. Talvez seja ela que nos empurre para a Vida, para as nossas incertezas, para o nosso desconhecido tão íntimo, tão íntimo que não sabemos ao certo nem mesmo como chegar lá.<br />
<br />
Mas a Vida há de ensinar. Isso lá é verdade....Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-32400117573020378552013-10-08T19:29:00.001-03:002013-10-08T19:30:22.483-03:00Carro Céu...E eram assim que as imagens iam e vinham. Passando lentamente pela minha cabeça, lentamente pelo meu olhar. Algumas eram memórias de infância; brincadeiras, o pé na grama, a água da mangueira esguichando feito um arco e formando logo ali, na esquina um arco-íris.<br />
<br />
Outras eram lembranças de um lugar qualquer, pouco a pouco, tempo a tempo, as casas, as ruas, os carros, os poucos carros, os sofás, as camas, o chão batido de terra, o forro de madeira. E as falas de feliz dia, feliz aniversário, feliz dia dos pais, feliz dia das mães. Apenas feliz. Era isso.<br />
<br />
E as principais, as que pausadamente, feito uma caixinha de música iam e vinham, eram as imagens que marcariam para sempre as memórias, a memória que eu tinha, a memória que eu não tinha e a que eu queria ter.<br />
<br />
Imagens de rostos, de pessoas passando feito um carrossel ao meu redor, rodando, rodopiando e de longe, lá de longe um algodão-doce enchia a boca de alegria, e essas pessoas iam acenando, sorrindo, cantando e girando no lugar onde eu estava, onde eu vivi.<br />
<br />
Como eu imaginava que seria o céu...As imagens da janela de um carro em movimento, as lembranças tecendo uma figura, um fio condutor que me levaria de volta ao mais precioso dos tempos, ao mais precioso dos lugares: ao coração.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-82916771587494008852013-08-27T19:43:00.002-03:002013-08-27T19:43:20.088-03:00Pé de MangaEram mais ou menos os dias quentes de um verão qualquer. A tarde quase depois do almoço, quase depois do sono ia chegando sonolenta, a passos lentos, como quem está com preguiça de andar no calor de um sol escaldante.<br />
Embaixo de um pé de manga tinha uma sombra fresca, dessas tão frescas e tão boas que pareciam o suco de limão que a vó fazia, que parecia travesseiro fofo, que parecia lençol lavado e secando no varal, de tão fresca e de tão aconchegante.<br />
O pé de manga ficava no sítio onde passávamos as férias da escola, onde a gente se distraía dos lápis, imaginando que ao invés de contas e cálculos, ele podia ser amigo da borracha e se tornar um herói, um lutador que salvava a canetinha rosa das garras de uma bic sem tampa. Nas férias de verão no sítio, perto do pé de manga, o caderno servia para servir as folhas para se transformarem em barcos de papel que iam, riozinho abaixo junto com as histórias que contávamos.<br />
Nesse sítio e perto do pé de manga tinha uma casinha de madeira, dessas que a gente quer viver no verão porque tem frestas em todos os lados e dessas que a gente quer viver no inverno porque tem forno à lenha e um cheiro de bolo de fubá que toma os olfatos e nos faz fechar os olhos. Involuntáriamente.<br />
Nessa casinha morava dona Nenê, uma senhora gorda, baixa, negra e que tinha apenas dois dentes e um sorriso largo. Sorria assim, com a alma toda, com o corpo todo quando a gente chegava e tinha lá seus sessenta e todos os anos.<br />
Dona Nenê morava nessa casinha de madeira com frestas por todos os lados que eu via o vento entrar e insistir em dançar com o fogo do fogão à lenha. Eles dançavam nesses dias de calor de um lado para o outro. O pouco vento que entrava tocava gentilmente esse fogo, como se pedisse a honra de poder dançar. E era tanto desejo que a lenha estalava pequenas estrelinhas de calor que eu imagina ser o amor de ambos, a necessidade que tinham de terem um ao outro.<br />
Nas férias no sítio ao pé de mangueira, Dona Nenê nos vinha servir um sorvetinho que ela fazia em modestas forminhas de gelo. Sorvetinho feito de água, açúcar queimado, côco ralado e leite. Eu ainda hoje sinto o sabor desse sorvete lambido com a alma infantil que eu tinha e com o vento tocando os cabelos, emaranhando-os aos poucos, roubando e levando o perfume do shampoo aos quatro cantos.<br />
Nessas férias de verão, o pé de mangueira era a nossa casa. E ali a gente morava, fazia casinha, bolinhos de terra e sentia que nada, nada de ruim no mundo poderia nos acontecer. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-51304383113028925402013-08-23T09:16:00.000-03:002013-08-23T09:16:28.561-03:00Deus Dará"Deus é um cara gozador,<br />
Adora brincadeira"<br />
<br />
A música "Partido Alto" de Chico Buarque tem vindo muito a minha cabeça nesses dias. Eu sempre fui uma pessoa de fé, no sentido literal da palavra. Cresci em uma família católica, fui batizada, fiz catequse, fiz crisma, participei de grupo de jovens da igreja e veja bem, até dei aula de catequese. É, eu também não acredito que fiz isso, mas faz parte da minha história, não tenho como negar.<br />
<br />
Eu tenho até nas minhas lembranças de infância uma discussão muito importante que acontecia em casa aos domingos, talvez a primeira grande escolha que tive que fazer na minha vida: como todo bom católico, domingo é dia de missa.<br />
<br />
Não importava a idade, o tempo, o vento, aos domingos lá ia a família Basoli toda para a missa. A minha primeira discussão, se bem me lembro com os meus pais (sim, houve outras) era que dia de domingo era dia de ir à missa. Eu podia escolher que horário queria ir: tinha a missa das nove da manhã e das sete da noite.<br />
<br />
Na verdade, de domingo eu queria ficar dormindo, eu não queria ir à missa e à noite, sete horas passava o programa "Os Trapalhões". Ah, belo anos 1980...<br />
<br />
Está bem, serei sincera: a discussão principal para mim era que de manhã também passava o programa da Disney com desenhos do Mickey e do Pato Donald (Indústria Cultural) e eu tinha que escolher: ou ia na missa de manhã pra ver "Os Trapalhões" à noite ou via os desenhos da Disney e ia à missa à noite e perdia "Os Trapalhões".<br />
<br />
Foi um grande dilema na minha vida. E me lembro mais ainda que preferia que a gente ficasse em casa, todos, tomando café da manhã e conversando do que ir à missa. Mas que enfim eu preferia ver "Os Trapalhões" e acordava cedo indo à missa. As pessoas achavam lindo a família Basoli inteira na missa, todos os filhos, sentadinhos, ouvindo o padre.<br />
<br />
Eu achava um porre. Ficava quieta, sentada observando as pessoas e inventando histórias. E o que era aquilo que as pessoas comiam? Eu queria era ver o gosto daquele pãozinho e um dia eu tive a blasfêmia de perguntar se passavam patê antes de servir paara aquela fila de gente...levei um esculacho. rs<br />
<br />
Mas enfim, contei essa história porque hoje me veio à cabeça novamente a questão da fé, de acreditar em Deus. Sério, eu não duvido que possa haver, existir algo maior que nós.<b><i> Excumuguem-me cientistas!</i></b> Mas não sei, penso em Deus como um cara gozador, tal qual Chico descreve na música.<br />
<br />
Ao acordar hoje, ouvi na janela de casa uma senhora no celular conversando. Ela dizia para amiga:<br />
- Mas é assim mesmo, Deus <b><i>qué </i></b>que seja assim.<br />
- ...<br />
- Eu sei, mas Deus é que sabe.<br />
- ...<br />
- Deus é mais, Deus é maior e há de prover.<br />
-...<br />
- Fica com Deus você também.<br />
<br />
Eu sou uma pessoa que também falo isso. Tal qual um mantra, acho. Deus é uma palavra bonita. Mesmo. Falar para alguém "Fica com Deus" acalenta um tanto nossa alma. Dá uma sensação de proteção de que se eu estou longe, Deus que cuide. Algo assim. Eu sempre falo isso para os meus irmãos: Fica com Deus. Talvez por amá-los muito.<br />
<br />
Mas eis que pensei nisso e imaginei: bem, Deus está ferrado. Tem um povo imenso aí pedindo, pedindo, pedindo. E como eu sempre imaginei ele como um cara barbudo, barrigudo e meio gozador, penso que nessas horas ele olha e diz: Caralho, tenho coisa pra cacete pra fazer.<br />
<br />
Está todo mundo pedindo algo: força, saúde, dinheiro, emprego, amor, proteção e que Deus cuide, que Deus dará e etc. Um vez li um livro da Carol Bensimon "Pó de Parede", em que o primeiro capítulo "A Caixa" a personagem Alice questiona a situação das nossas escolhas: se é assim é porque Deus quer. E ela questiona isso discutindo a questão do destino, se é assim é porque estava escrito e etc.<br />
<br />
E eu parei para pensar nisso hoje.<br />
<br />
Deus está ferrado. Tem um mundo aí cheio, cheio de problemas. Gente morrendo, gente se matando. Guerra, morte por fome, morte por morte e tantas outras questões. E eu lembrei dessa música ao imaginar que Deus é um cara gozador e adora brincadeiras, pois pra me botar no mundo tinha o mundo inteiro.<br />
<br />
E eu questiono meus pais e pergunto "Porque vocês não ficaram na Europa? Porque vieram para o Brasil e eu tive que nascer aqui? Eu podia estar morando na Suécia agora, na Suíça..." e daí me lembro que, bem, pode ter sido Deus. Deus quis assim e há de prover o que eu necessito.<br />
<br />
<b><i>Ahã</i></b>.<br />
<br />
Mas eu acho que antes da gente vir pra cá, deve ter uma escolha no céu, ou sabe-se lá Deus onde, onde a gente mesmo escolhe o que a gente quer: quem vai ser nossos pais, irmãos, onde vamos nascer, o que vamos fazer e etc. E eu imagino esse lugar com várias, várias filas inteiras em que as pessoas ficam paradas esperando pra receber seu dom.<br />
<br />
Por exemplo, tem a fila da beleza. Um monte de gente está nela, mas do lado, tem a fila do "bonitinha, mas ordinhária". E uma galera dessa fila da beleza, cai nessa outra fila e vem pra Terra assim. Vem bonitinha, mas ordinária.<br />
<br />
Tem também a fila do sucesso, no qual Gisele Bunchen entrou por vias ilícias três vezes. Eu entrei nessa fila também porque sou do mesmo ano que Gisele nasceu, mas ela me empurrou, lembro claramente para a fila do esforço. E eu nasci bem, bem esforçada. Eu sou uma pessoa esforça. Tenho certeza que esse é o meu dom.<br />
<br />
Tem a fila dos sem vergonhas, no qual muitos políticos se infiltraram sem vergonha alguma e entraram umas 20 vezes pedindo esse dom. "Deus, quero ser sem vergonha, cara de pau".<br />
<br />
E por aí vai. Daí eu imagino que Deus, esse cara gozador, fica em um escritório, no canto, bem no canto, perto da saleta do café protocolando pedidos que chegam aos milhares. Ele olha, analisa e vê se vai conceder a benção ou não. Os meus pedidos sei que estão numa pasta vermelha, perdidos<br />
<br />
Quando chega algo que eu peço Deus olha e diz: Ai Lídia, por favor.. dá uma risadinha de deboche e deixa no canto. E assim vai.<br />
<br />
Ele olha da janela desse escritório para a Terra e pensa: porque raios eu dei o livre arbítrio pra esse povo? <br />
<br />
Deus é um cara gozador mesmo. Mas há de prover. Isso há.<br />
É só ter fé. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-80935844547096810412013-07-04T09:07:00.000-03:002013-07-04T09:07:19.759-03:00A cidadezinha de Não TemEra uma vez um cidade, dessas cidades bem pequenininhas que não tem espaço chamada Não Tem. Era uma cidade que o povo, os nãotenhenses não tinham nada. Aliás, tinham sim, tinham uma casinha bem pequena, dessas bem pequenininhas em que não tem lugar para colocar uma simples geladeira e uma cama de casal.<br />
A praça da cidade de Não Tem não tinha árvores, não tinha bancos e não tinha passarinhos. E os nãotenhenses passavam lá todos os dias não tendo vontade de parar para ver o pôr-do-sol porque eles diziam que não tinha graça.<br />
Na cidade de Não Tem tinha lojas. Lojas bem pequenas e com produtos diversos. Mas qualquer produto que vc perguntava se tinha para a vendedora nãotinhense que também não tinha educação ela respondia seco: não tem.<br />
E assim a cidade de não tem ia. O prefeito da cidade, o Coronel Isso Serve era o mandatário, ele comandava o que devia não ter em cada lugar daquela pequena vila, porque convenhamos, a cidade não tinha condições de ser chamada de cidade.<br />
Como as pessoas não tinham educação, saúde, lazer, transporte e trabalho elas também não tinham o que fazer. A não ser falar da vida dos nãotinhenses alheios. Contudo, à noite tinha uma diversão garantida em Não Tem: tinha uma televisão ligada em um bar que não tinha cerveja gelada e nem petiscos. As pessoas iam lá ver novela. Sim, novela tinha. Mas não tinha cadeiras para eles sentarem para ver a novela e muitas vezes não tinha energia na cidade de Não Tem.<br />
O prefeito Isso Serve tinha o sobrenome Acomodado. Nome dos fundadores da cidade, daí o prestígio que, por certo, ele tinha. A população o chamava assim: Senhor Acomodado.<br />
Um dia um nãotenhense resolveu ousar e saiu da cidade de Não Tem sem ter nada em mãos. Andando sem ter rumo encontrou uma outra cidadezinha. A cidade se chamava Boa Vontade e era coordenada não por um prefeito, mas por um senhor que entendia de administração pública chamado Constante. O sobrenome dele era Esforço e todo mundo o chamava assim: Senhor Esforço.<br />
O cidadão nãotenhense não tinha nome, era apenas uma pessoa qualquer de Não Tem e ficou impressionado com a capacidade da cidade de ter as coisas: as casas tinham luz, gás e água. A população tinha segurança. As crianças tinham creches e escolas e olha só, o dinheiro utilizado da cobrança irrisória de impostos (em Não Tem tinha impostos) era revertido para educação, saúde e pesquisa. Em Boa Vontade tinham médicos, professores, dentistas e todos veneravam o Senhor Esforço.<br />
O cidadão nãotenhense ficou tão impressionado que levou a ideia para o Senhor Acomodado. Tentou marcar um horário, mas não tinha horário. Fez plantão em frente à prefeitura da cidade de Não tem e percebeu que não tinha paciência para aquela demora toda. Mas daí lembrou-se do Senhor Esforço e da cidadezinha de Boa Vontade e esperou. De dia e de noite. De Sol a Sol porque em Não Tem também não tinha chuva. E um dia o Senhor acomodado resolveu sair de seu gabinete para andar pela cidade de Não Tem e encontrou o cidadão a esperá-lo.<br />
O cidadão conversou com o Senhor Acomodado e passou para ele todas as ideias da cidade de Boa Vontade, falou de como as coisas funcionavam lá, o que tinha, o quanto os cidadão boavontadeenses eram felizes e etc.<br />
O Senhor Acomodado disse:<br />
- Para que isso aconteça aqui em Não Tem você teria que ter feito e pedido e ter protocolado antes, um mês, dois meses antes. Em Não Tem não temos verbas, mas temos a coordenadora das verbas que é a Senhora Burocracia.<br />
O cidadão nãotenhense sem nome ficou triste e pela primeira vez na vida teve vontade de chorar. As pessoas de Não Tem nunca tinham vontade de chorar porque não sabiam que existiam outras coisas e também porque a família Isso Serve Acomodado não mudava e nem dava direção de nada para mudar.<br />
Então o nãotenhense voltou à cidade de Boa Vontade e estagiou com o Senhor Constante Esforço.<br />
Dia a após dia, o cidadão foi aprendendo, aprendendo e quando viu era o braço direito do Senhor Esforço e então um dia, na Câmara Municipal de Boa Vontade o cidadão nãotenhense recebeu o título de cidadão boavontadeense e um nome: Senhor Dignidade.<br />
E então ele saiu de Boa Vontade e percorreu o mundo levando as ideias tão bonitas daquela cidadezinha.<br />
<br />
Ah é, vocês querem saber o que aconteceu com a cidade de Não Tem? Eu não sei, não tenho notícias. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-57975406476997036842013-06-05T22:10:00.000-03:002013-06-05T22:10:19.599-03:00NoiteE o único sorriso que tinha era um sorriso forçado. Arrancado à força, meio termo entre um dente e outro. Tal qual uma dentadura em um copo de vidro transparente com água: ri porque tem que rir. Apenas por isso.<br />
E a noite que era a mais temida de todas chegava lentamente, junto com aquele sorriso forçado de tentar um bem-estar falso, uma alegria comprada em banca de jornal. E com a noite vinham todos os medos, um a um entrando e dando boa noite, porta à dentro. Mundo à dentro, noite à fora.<br />
E era como se nada mais existisse. E os medos, um a um iam sentando lentamente ao pé da cama. E por mais que fossem muitos, cabiam todos. Apertadinhos, todos. Sorrindo.<br />
E tentava dormir e a cama ia se tornando uma massa de pão a sovar, apertada, rodando, amassada, sem ar, socada. E nada mais importava.<br />
Apertava ali perto daquele sorriso forçado uma dor amargurada da vida, da dor de ser quem se era e nem ao menos sabia quem era de verdade, do que gostava, do que queria e o que ia rir de verdade. Não sabia mais rir alto. Ria baixo, com poucos dentes.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-38800673082648275532013-05-25T15:06:00.000-03:002013-05-25T15:06:37.780-03:00BonsaiEm meio à correria que tomava conta da casa onde Alice morava, o que mais se notava era que haviam plantas espalhadas por todo o espaço. Mesmo quem entrasse e saísse rapidamente topava com uma rosa, flores em pequenos vasos, plantas em vasos grandes e um vaso de coqueiro recém-chegado e que deveria ser plantado, como tudo na casa de Alice, urgentemente.<br />
Era tudo urgente onde Alice morava, precisamos ver a vó, urgente, dizia um, precisamos ver o carro, urgente, respondia outro, precisamos comprar um computador, urgente, falava um terceiro, tem que fazer compra, urgente, respondia a empregada.<br />
Era tudo urgente, menos os desejos de Alice que se fundiam e se confundiam no mundo em que ela morava. Uma parede do quarto pintada de azul, outra pintada de rosa, outra branca. Uma cama de madeira no meio do quarto encarpetado mostrava que, mesmo tendo um entra-e-sai de gente o tempo todo na casa, Alice permanecia sozinha, dormia sozinha, sonhava sozinha.<br />
O tempo que Alice ficava na casa ela usava para observar, ver as pessoas entrando e saindo e ver as formigas que teimavam em se espalhar na pia da cozinha, por que andam em fila? por que moram em um buraco tão apertado? Alice se questionava. E de pouco, entendia.<br />
Ela também se sentia apertada ali onde morava em meio às plantas, em meio às pessoas.<br />
A casa era grande e todos admiravam como ela funcionava bem, tal qual uma máquina as pessoas conseguiam ir vivendo, e Alice não sabia se viviam suas vidas, mas iam vivendo. O apito do sorveteiro insistia em tocar, os carros insistiam em buzinar na rua que Alice morava e mesmo assim, mesmo em meio a todo o caos que se instalava em barulhos, Alice ouvia o galo do vizinho cantar. E era bonito. Alice gostava de ouvir e de mexer com o galo.<br />
Alice tinha onze anos e mal conseguia conversar com os pais. As conversas giravam em torno de tentar entender porque Alice agora já tinha peitinhos, o perigo que era ser mulher, o problema que era viver. Nunca ninguém perguntava para ela o que ela sentia. Os outros sentiam e diziam você deve estar sentindo isso, Alice e se desesperavam em busca de médicos, de padres, de psicólogos e de conversas com a vizinha que malemá sabia a idade de Alice.<br />
Sim, ela sente isso, ah, deve ser porque está crescendo, mas é normal? questionava uma desesperada mãe, deve ser, respondia a vizinha sem muito interesse no rumo que a vidinha de Alice ia tomando.<br />
E então um dia um amigo oriental do pai de Alice chegou em casa com um presente. Alice não conseguia distinguir muito bem essa questão das pessoas serem diferentes. Achava bonito os olhinhos puxados, achava bonito e diferente. Mas não conseguia entender o que é e como seria se ver assim e enxergar o mundo com os olhos tão apertados. A não ser quando Alice queria chorar e sentia também oriental. Seus olhos apertavam-se e escorria uma lágrima. E então Alice abria os olhos bem devagar para ver se enxergava igual ao amigo oriental de seu pai. Mas não enxergava.<br />
Alice era pequena e tinha os cabelos claros, ralos e era muito, muito magrinha, dessas meninas que as pessoas se preocupam quando venta. Tinha sardas e longos cílios que a mãe fazia questão de dizer, essa puxou a mim, mesmo os cílios da mãe sendo curtos. Alice não entendia. Ela tinha onze anos e uma preocupação excessiva em ser boa, muito boa. Tanto que é que quando amigo oriental do pai chegou na casa de Alice com um presente, Alice foi logo dizendo, boa tarde, tudo bem? quer um café? mas Alice nunca souber passar café. Era só uma forma educada de continuar com a preocupação excessiva que tinha em ser boa.<br />
O amigo oriental do pai lhe trouxe um presente que deixou Alice muito, muito curiosa. Era uma planta, tal qual uma planta grande, uma árvore grande, mas era uma planta pequena. Bem pequena, mas tinha as característcas de uma árvore de mais de cem anos. Alice era curiosa e adorou o presente que o pai ganhou. Mesmo que o presente fosse para o seu pai, Alice ficou feliz em ver uma planta, mais uma planta, diferente em casa. E era uma planta curiosa, Alice pensou.<br />
O amigo oriental o pai de Alice foi explicando como e porque a planta ficava daquele jeito. Primeiro você escolhe uma árvore, e vai podando, mesmo quando ela ainda é jovem, vai podando e podando, desde a raiz, tire toda a terra da raiz e coloque a planta em um ambiente, um vaso decorativo para ela ser e ficar bonita, coloque um pedaço de plástico no fundo para evitar que a raiz cresça e coloque terra, o suficiente, nem muito nem pouco. O suficiente para a planta crescer. Corte o caule, os ramos e vá podando sempre. A arvorezinha permanecerá pequena para sempre.<br />
E Alice prestou muita, muita atenção no que o amigo oriental de seu pai falou. E ficou a observar o pequeno bonsai por um bom tempo. Por horas a fio, não se sabe.<br />
Apenas percebeu um certo tempo depois, quando adulta, quando mais velha, lá pelos seus vinte e poucos anos que a arvorezinha do bonsai ainda estava do mesmo tamanho, do mesmo jeito. E a casa onde Alice morava também. As pessoas entravam e saíam, entravam e saíam aos montes. Os pais de Alice continuavam preocupados com tudo e com todos. A casa ainda estava cheia de plantas e a arvorezinha de bonsai continuava lá, no mesmo lugar, insistindo em crescer e o pai de Alice insistindo em cortar a mesma a cada novo galho que saía. E Alice apesar de adulta também continuava do mesmo jeito.<br />
Alice então percebeu que se parecia com o bonsai. A cada tentativa de ser ela mesma, alguém lhe podava a alma. Aos poucos. E Alice foi ficando grande e pequena ao mesmo tempo, enraizada naquele espaço que ela mal conseguia respirar.<br />
E então um dia Alice voltou do trabalho e pegou o bonsai. Pegou o bonsai, olhou-o firmemente e danou a ir ao quintal, perto do muro onde ela ainda ouvia o galo de quando era criança cantar. O galo deve estar velho, pensou Alice.<br />
Então pegou o bonsai e colocou fogo na arvorezinha e foi vendo pouco a pouco os galinhos do bonsai sumirem, lentamente irem virando pó. Alice olhava atentamente a cena. Os galinhos do bonsai iam-se esfarelando, tornado-se migalhas do que um dia podia ser uma planta forte.<br />
Alice deitou-se no quintal abraçada ao pequeno bonsai que queimava. Foi olhando aos poucos o Sol se pôr e a Lua chegar. Quando finalmente não se sabia mais o que era o bonsai e o que era a roupa de Alice, sua pele, seu relógio, quando tudo tornou-se um só, Alice abriu os olhos viu a Lua e sorriu.<br />
E nunca mais acordou. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-55219633647392081312013-05-14T19:07:00.002-03:002013-05-14T19:07:50.166-03:00A CasaQuando eu era criança, eu imaginava que seríamos eternos. Seria eterna a dor da despedida da sua melhor amiga da escola que iria para outra escola, seria eterna aquela noite que antecedia a temível prova de física, seria eterna a presença dos seus pais, seria eterno o lugar onde a gente nasceu.<br />
Eu vivi em uma casa de esquina pequena, bem pequena, até os 17 anos.<br />
Era pequena mesmo, de ter dois quartos, uma sala, um banheiro (dividido em várias pessoas) e uma cozinha que tinha o chão feito de uma pedra vermelha forte, queimada que ficava bonito quando se passava a enceradeira, quando se agachava no chão para passar cera, quando se comparava o piso da cozinha com o taco da sala.<br />
E a casa era o que tínhamos de melhor.<br />
A porta da sala ainda tinha aquelas aberturas, tipo uma portinha sabe? que era para ver quem chegava antes de abrir a porta. Mesmo que tivéssemos portão, a porta da sala tinha isso. Eu achava isso estranho e bonito ao mesmo tempo. Porque a porta da sala quando aberta ficava refletida no piano que a gente tinha em casa e encostada no som onde meu pai ouvia os discos dos Beatles e do Creedence. E era nessa casa onde a gente morava.<br />
Lembro da minha mãe grávida sentada na cadeira de área no pequeno jardim com os pés na grama tentando aliviar o calor de um mês de dezembro da década de noventa. A casa era número oito-um-oito.<br />
Depois, mudamos de casa, para a casa de trás, maior, espaçosa, com mais quartos. E a casinha da frente continou a existir. Com suas paredes, seus dois quartos, sala, banheiro e cozinha.<br />
E eu nunca mais tive vontade de entrar na casa. Eu passo sempre em frente a casa de número oito-um-oito que tem o mesmo muro de quando eu era criança e me arriscava com meus irmãos e meus primos nas férias a pular de cima desse muro na grama, competindo para ver quem pulava mais alto.<br />
A casa está lá, as paredes estão lá, está tudo lá. Até mesmo a minha memória que ficou presa lá, danada, insistindo em permanecer em se reproduzir entre assombros e lembranças descabidas de saudade. Como em um filme antigo, preto e branco, delicado, feito em película.<br />
Uma construção antiga, pequena, tijolo a tijolo como a minha lembrança insiste em construir cada vez que fecho os meus olhos. E é dentro desses olhos que o coração passa o filme da minha infância, os personagens que lá estiveram, dos meus irmãos pequenos brincando no quintal, na área, da chegada do Papai Noel pela primeira vez e quando eu vi quem era o Papai Noel de verdade depois que numa madrugada qualquer naquela área da pequena casa meu pai tirou os presentes do porta-mala do carro...<br />
Eu não sei ao certo quando terei vontade de voltar lá, naquelas paredes cobertas de lembranças, naquela sofá de alvenaria coberto da gente sentado vendo televisão e da minha mãe trazendo o mingau para a gente comer vendo os filmes que passavam na sessão da tarde.<br />
Eu não sei ao certo mesmo se isso vai acontecer um dia, se eu vou voltar lá mesmo, se vou conseguir entrar na casa.<br />
Só sei que a minha memória mora lá. E liga todos os dias para o meu coração me passando informações precisas acerca daquele espaço que hoje existe porque foi construído na lembrança mais doce de um: <i>manhê, paiê! tive um sonho ruim, posso dormir com vocês?</i><br />
E aconchegada, os sonhos bons voltavam naquela casinha pequena de esquina. <br />
<br />
<br />Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-45852885551912776242012-12-16T03:11:00.000-02:002012-12-16T03:11:54.223-02:00Cicatrizeu sempre achei a palavra cicatriz uma palavra bonita. me lembrava "por um triz". e "por um triz" muitas coisas podem acontecer.<br />
o cenário é uma família que pensa que é uma família, mas na verdade são conhecidos que convivem no mesmo espaço, ou que suportam-se em espaços diferentes. pessoas que têm o número do celular de todas as outras, mas que não se ligam, que não se comunicam.<br />
se tomássemos o cenário como uma família típica dos anos 1930 em um espaço rural teríamos uma mesa de madeira bem grossa, membros sentados nas cadeiras, uma cruz na parede que cortava a sala e um silêncio profundo, daqueles silêncios de fazer barulho e zunido no ouvido.<br />
- pai, embuchei.<br />
- pai, matei um homem.<br />
- pai, tirei o cabaço da moça.<br />
- pai, acabou a farinha.<br />
- pai, vou casar com o fulano.<br />
o remeter contar ao pai os fatos do que acontece ou aconteceu tem um sentido muito forte de confissão. de desabafo, ou também e tanto, de tentar uma comunicação.<br />
e o pai, lentamente tomando a sopa rala de farinha de mandioca diria:<br />
- embuchou sua puta?<br />
- cadê o sangue?<br />
- esse é meu filho, cabra macho.<br />
- se vira, mulher!<br />
- não casa de jeito nenhum. só por cima do meu cadáver. casar e com um negro, onde já se viu...meto uma porrada sem tamanho em ti e nele...<br />
e o isolamento, necessário para o convívio, ou suportamento dos membros da família, estaria garantido no caso de uma tentativa de rompimento. o pai manda e acabou. e ponto final.<br />
e nada que se faça iria alterar essa situação. nada.<br />
ele bateria com força na mesa, cuspindo um pouco de sopa, gritando e impondo o que pensa. sim, estavam todos bem ao redor da mesa, todos que estavam lá estavam bem e com saúde. mas isso não era o mais importante. o mais importante era se impor, dizer quem era e quem mandava ali.<br />
a mãe fazia o nome do pai e pedia a deus que nada de mais grave acontecesse à filha embuchada, que nada de mais grave tomasse força com o casamento da moça loira com o negro, que o menino tivesse sido ao menos delicado em retirar o cabaço da moça, que a morte tenha sido em função de defesa pessoal que houvesse ainda um pouco de farinha.<br />
que a cruz de madeira pendurada atrás da mesa, acima da cabeça do pai caísse com força sobre ele e o matasse. que formasse uma cicatriz ali, bem naquele ponto. <br />
mas por um triz isso não aconteceu. e por um triz a moça embuchada não levou um soco do pai alterado e a moça enamorada do rapaz negro não levou um pontapé.<br />
por um triz a faca que a mãe segurava não acertou em cheio a cabeça do marido.<br />
tudo por um triz. um triz. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-7602597574043432792012-11-19T22:30:00.000-02:002012-11-19T22:30:47.799-02:00Tempo Suspenso ou HiatoPorque na maioria das vezes buscamos palavras para definir um estado de espírito ou uma situação? Será que as palavras podem mesmo defenir? E mais, que palavra define quem somos?<br />
Eu sempre busco uma palavra para definir um espaço, uma ideia, ou um sentimento. Tem pessoas que buscam a música, outros o desenho, a imagem em movimento. Outras tantas ainda buscam o vento, a luz do Sol. Eu busco palavras.<br />
Para mim hoje a palavra que pode definir é a palavra, ou a frase no caso, "tempo suspenso". Aquela palavra que fica na iminência, no desejo, naquilo que ainda não aconteceu, ou não teve tempo de acontecer. Ou que aconteceu apenas em nosso pensamento, em nosso desejo. No tempo suspenso, fora do tempo real.<br />
Talvez que o "tempo suspenso" seja aquele mesmo da condição da solidão. Não de si, nem do outro. Mas da condição de solidão de uma ação, aquele eterno vir-a-ser do desejo, o desejo sozinho consigo mesmo, sem a condição de agir, de ousar.<br />
Essa condição de não ser, de não estar do "tempo suspenso" beira a dimensão do "em haver", daquilo que nos devemos, que devemos a nós mesmos, ao que queremos, ao que somos e desejamos. Para mim essa é condição de subdesenvolvimento social que nos envolvemos, a qual somos inteiramente presentes, de corpo e alma. Essa iminência do vir-a-ser bom, do vir-a-ser tudo o que desejamos, mas que se encontra no "tempo suspenso", no desejo.<br />
Para mim não existe situação mais difícil do que a tentativa, a mola propulsora do erro e do acerto. O tentar ser algo, sair da condição do "tempo suspenso", na vida, no relacionamento, no desejo é o que tem de mais humano, de mais difícil para quem acredita. Esse acreditar está diretamente próximo à condição do desejo, do que se quer materializar, mas não há condições.<br />
Sabe aquele hiato existente entre um momento e outro, entre o momento da concretização do tempo suspenso antes que o desejo volte a imperar? Pois é isso, momentos de hiato. Nossa vida é permeada de tempo suspenso e o hiato desse tempo, quando ele se cansa, quando há uma pausa.<br />
Tal qual um ditongo de fato, quando duas vogais devem estar juntas na mesma linha para que a palavra exista do seu modo mais profundo, muitas vezes o que se tem, são as palavras separadas, as sílabas separadas entre uma linha e outra para que a frase, enfim, possa continuar.<br />
É na vida que os hiatos de um momento e outro separam o tempo suspenso e tentam, em vão, concretizar os desejos. É daqueles dias em que mesmo que se queira que a palavra esteja completa, ausente de separações para que se dignifique a ser exatamente o que se é, que a palavra não cabe, que a palavra separa-se entre um momento e outro do tempo suspenso.<br />
E é assim que a gente se divide para continuar a existir. Para ter mais uma linha, mais um fio de esperança para que o ponto final não chegue, para que mesmo entre um tempo suspenso que outro onde exista um ponto e vírgula, se configure o desejo, se concretize o tempo suspenso.<br />
É dele que a esperança se alimenta. E é ele que a mata também quando o tempo suspenso continua suspenso. Por horas, por dias, por segundos...Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-15947388141569487322012-10-08T15:53:00.000-03:002012-10-08T15:53:21.806-03:00Sobre a MorteEstive pensando esses dias sobre a efemeridade da vida, sobre o tempo, sobre os meus cabelos brancos, sobre a minha pele que não é mais a mesma. E sempre que me pego pensando isso, sobre essa velocidade do tempo, me pego vendo uma imagem muito simples: o tempo em formato humano é bem parecido com a morte, sim, a morte. Aquela morte que a gente vê de cajado, sem rosto.<br />
O Tempo é o parceiro mais forte da Morte, seu melhor amigo, seu amante, aquele por quem ela faz o que quiser fazer.<br />
Vejo o tempo também como um trator, como um primo próximo das casualidades, dos encontros e desencontros. Parceiro da Morte, primo das Casualidades, funcionário do Destino.<br />
E em meio a tudo isso, culpamos sempre a Morte, sendo egoístas, não entendendo seu sentido, sua função. A Morte é apenas uma obscecada pela Vida que não conseguindo viver, tenta ao máximo empurrar o Tempo, descontrolar os Destinos, desandar os Encontros e seus irmãos Desencontros.<br />
Eu nunca tive um contato direto com a Morte. Sei que ela existe, que está aqui, que está perto. Não no sentido de que vai acontecer agora, se bem que eu posso nem terminar esse artigo, mas sei que ela está perto na proposta de acompanhar a Vida onde quer que ela vá. E isso me dá uma certa Insegurança, a mais medrosa das sensações, em suportar ou em continuar a viver quando a Morte insiste em mostrar seu rosto para quem a gente gosta, para quem a gente admira.<br />
O mundo ficou mais triste desde ontem, menos colorido, um pouco mais dolorido com a partida da Márcia Sielski, uma amiga com quem tive o privilégio de conviver quatro anos enquanto fiz faculdade no Paraná. A Márcia para mim não tinha idade. Dizem que ela partiu com 50 anos ontem. Eu acho que a Márcia partiu com todas as idades do mundo e com tudo o que o mundo ainda podia ter dessa mulher que ainda era tão nova, tão feliz e que, quer queira quer não, me deixava reconfortada em saber que ainda tínhamos seres humanos no mundo enquanto a Márcia estava viva.<br />
Hoje, no restaurante onde almoço, vi o peixinho do Cauã, o garotinho bacana de 8 anos, morrer. Ele tinha sido tirado do aquário para limpar o vidrinho, a pequena caixa de vidro onde morava. Quando voltou para lá, ficou no fundinho, entre as pedras e as plantinhas. Sem se mexer.<br />
A dor que o Cauã sentiu foi ouvida no restaurante todo enquanto ele chorava na cozinha. Era um peixe, mas era o peixe preferido dele.<br />
A Márcia me ensinou mais o do que posso descrever aqui, porque ela, assim como tantas outras pessoas em Ponta Grossa, foram para mim, pessoas de luz, que me ensinaram o valor de amar as pessoas, valorizar a arte, as ideias, o respeito ao outro e principalmente ao ser humano.<br />
A falta que ela vai fazer vai ser incrível. Não para mim, porque estaria sendo egoísta ao falar dessa forma, mas para a humanidade.<br />
A mãe do Cauã vai comprar um peixinho novo para ele hoje.<br />
E eu vou procurar uma estrela nova no céu. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-53662132393808135532012-09-20T15:39:00.000-03:002012-09-20T15:39:38.098-03:00Sobre “pagar peitinho” no País do carnaval<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:DontVertAlignCellWithSp/>
<w:DontBreakConstrainedForcedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
<w:Word11KerningPairs/>
<w:CachedColBalance/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
Pois bem que nossos meios de comunicação estão cada vez mais
pudicos, cada vez mais pregando a moral e os bons costumes. Sim meus amigos, mais
do que o dinheiro da classe média, secas, enchentes e nova novela das seis,
temos visto na nossa sociedade (um tanto quanto esquizofrênica) revistas de
fofocas que pipocam em todos os cantos, programas de televisão dedicados a
falar da vida de famosos e sites que comemoram quanto um peitinho aparece.</div>
<div class="MsoNormal">
Estamos em um País medíocre do ponto de vista da moral. Sim,
medíocre. Que País pode falar e julgar se alguém “pagar peitinho” sendo que tem
(e vive) o maior carnaval do mundo, com mulheres nuas e seminuas o tempo todo,
com a maior vastidão de praias, e por conseqüência de coleção de biquínis de
bolinha amarelinha tão pequenininho, com um calor insuportável, com
meninas/mulheres exibindo peitos e pernas em cada esquina se oferecendo aos
gringos, aos não gringos e com programas de baixo calão como BBB e Fazenda onde
o que se mais faz (e o mais importante) é manter o corpitcho em ordem, dar
flagras surpreendentes no mamilo e nas bundas das moçoilas, mantendo uma academia
no reality para que os corpos malhados e suados possam depois ser fotografados
por revistas que vendem (e muito) o chamado “nú artístico”?</div>
<div class="MsoNormal">
Que país é esse que preza a família, a instituição do
matrimônio, a monogamia e o marido e os filhos das celebridades quando a maioria
da população ainda não sabe ao menos usar uma camisinha, onde o sexo na
televisão é explícito e onde a educação e a saúde estão comprometidas em dar o
seu fundo, o que lhe resta de dignidade, para fazer a Copa do Mundo?</div>
<div class="MsoNormal">
Li a matéria sobre a modelo Alessandra Ambrósio que se
“descuidou” e mostrou um dos seios no supermercado em que estava, veja bem, com
os dois filhos, um bebê e uma criança de quatro anos.</div>
<div class="MsoNormal">
(<a href="http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1155795-alessandra-ambrosio-se-abaixa-e-deixa-seio-a-mostra-em-mercado.shtml">http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1155795-alessandra-ambrosio-se-abaixa-e-deixa-seio-a-mostra-em-mercado.shtml</a>)
</div>
<div class="MsoNormal">
Em primeiro lugar, que notícia é essa? De que forma é
relevante para minha ou para sua vida saber que a modelo deixou um, UM dos
seios à mostra?</div>
<div class="MsoNormal">
O paparazzo fez a fotos, publicou e ainda chama a atenção da
moçoila por não usar sutiã. Desculpe, estamos em um país, em um mundo
completamente equivocado de valores, de modelos e de respeito. E uma mídia que
se impõe às mães que devem, DEVEM ficar magras logo após parir, que devem ser
lindas, devem ser supermulheres, supersensuais, supermães, mas não, nunca
mostrar o peito. Mostrar o peito, “ó, nossa”, é um absurdo.</div>
<div class="MsoNormal">
Acho que está na hora de revermos nosso conceito, de
desligar as baboseiras que Sônia Abrão, Adriane Galisteu, Nelson Rubens e
tantos outros dizem a torto e a direito na televisão. De não ler essas notícias
que estampam capas de revistas e de sites, veja bem, até conceituados como o
site da Folha. </div>
<div class="MsoNormal">
Está na hora de vermos que a Alessandra aí nessa foto apenas
foi ao mercado com os filhos. Só isso. Nada fora do comum. Ela não se produziu,
ela não pediu para ser fotografada e nem para ser moralizada sobre o que ela
deve ou não fazer. E nem se deve ou não usar sutiã. </div>
<div class="MsoNormal">
Está na hora de termos um pouco mais de respeito. No caso,
conosco mesmo, com a sociedade e com a humanidade que ainda existe dentro de
nós. </div>
<div class="MsoNormal">
Vá ler um livro e cuidar da sua vida. Deixe as Alessandras e
tantas outras em paz. A vida é maior que um peitinho. </div>
Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-45750221588269205962012-08-23T15:40:00.002-03:002015-06-04T20:02:34.455-03:00Lápis dos Ursinhos Carinhosos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-NJcL99xF67U/UDVn_WDUXTI/AAAAAAAAAw8/yA2xQLxcHsk/s1600/faber-castell.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="241" src="http://2.bp.blogspot.com/-NJcL99xF67U/UDVn_WDUXTI/AAAAAAAAAw8/yA2xQLxcHsk/s320/faber-castell.jpg" width="320" /></a></div>
Uma das febres dos anos 1980 foi o desenho dos Ursinhos Carinhosos. Muito bonitinhos, os fofinhos viviam no céus, tinham cores, eram realmente suuuper carinhosos e tinham um apelo incrível junto a criançada.<br />
Lembro de todas essas caixas de lápis de cor, canetinha, giz, borracha, apontador dos Ursinhos Carinhosos. Além delas tínhamos também os Ursinhos Carinhosos em formato de ursinhos de pelúcia. O fofo que tinha um coração no peito, tinha também um coração no peito de pelúcia. Era incrível.<br />
E como não podia deixar de ser, eu, quando criança, também queria ter o lápis dos Ursinhos Carinhosos. Estudava em uma escola que meus pais se esforçavam para pagar, ou seja, nessa frase já fica claro que eu não tinha o mesmo padrão de vida das outras amiguinhas. Estudava ali porque meus pais ralavam muito e, consequentemente, não teria como eu ter os mesmos brinquedos, lápis, estojos e etc das amiguinhas.<br />
Uma das coisas que a gente fazia era trocar o estojo. Isso era realmente incrível porque eu conseguia ter, por pelo menos um dia, um estojo do paraguai - lembram-se?- daqueles que abriam pra tudo quanto é lado.<br />
Mas enfim que meu sonho era um pouco menor do que ter um estojo do paraguai. Eu queria ter o lápis dos Ursinhos Carinhosos. Era lindo. Todo cheio de Ursinhos Carinhosos por todos os lados. Uma graça.<br />
Um dia fui na casa do meu avô e eu devia ter lá pelos meus sete anos, mais ou menos. A casa dele ficava a três quarterões da minha casa, como ainda é hoje. E então, eu sentei na sala e de longe eu vi que tinha um estojo no escritório ou em cima da mesa, não me lembro. Só sei que fui olhar o estojo e a minha surpresa foi que havia sim, um lápis lindo, lindo dos Ursinhos Carinhosos lá dentro. Era do Ursinho Carinhoso verde, cujo qual agora eu não me lembro o nome.<br />
E então eu pedi para algum adulto, acho que para a esposa do meu avô, se eu podia ficar com o lápis. Não sei bem o que aconteceu, mas ouvi a resposta não. Para uma criança de sete anos que queria MUITO um lápis dos Ursinhos Carinhosos aquela não era bem a resposta que eu gostaria de ouvir. E então, que rapidamente, me apoderei do lápis. E passei a noite na casa do meu avô com o lápis na mão, escrevendo em papéis, pra lá e pra cá.<br />
Na hora de ir embora eu tinha plena consciência que o lápis não era meu - mas eu queria tanto que fosse - que levei o lápis embora.<br />
Fomos para casa e quando chegamos lá a esposa do meu avô ligou perguntando se o lápis estava comigo. Quem atendeu o telefone - ainda com fio - foi o meu pai.<br />
- Lídia, você está com algum lápis?<br />
Eu tremi de medo e disse que sim, que queria muito o lápis, que achava lindo que tinha pegado pra mim e etc etc etc e a cara de choro, e o medo e tudo veio junto.<br />
Foi então que meu pai chegou bem perto de mim e disse:<br />
- Filha, isso é um lápis, é pouco, eu posso comprar, mas o que você tem que saber é que esse lápis não é seu, é de outra pessoa e isso não é certo. Você tem que ir devolver esse lápis e aprender que o que não é seu, não é seu e você não deve pegar.<br />
Meu pai pegou na minha mão, à noite e fomos à pé para a casa do meu avô. Ele me fez devolver o lápis e pedir desculpa pelo o que eu tinha feito. E isso hoje parece pouco, parece uma história banal e até mesmo cruel, porque, oras, era apenas um lápis.<br />
Mas o que sei é que o mais importante foi que aquela menina de 7 anos nunca mais pegou nada que fosse de outra pessoa, não se apropriou de nada que quissesse se não pudesse comprar. E isso foi uma lição para a minha vida.<br />
De honestidade. De integridade.<br />
Naquele dia eu entendi que nada que não fosse meu, era para ser meu se eu não pudesse adquirir com dignidade o material, se eu não pudesse tê-lo nas minhas mãos por mim.<br />
Em meio a campanhas eleitorais de bolsos cheios, em meio a uma sociedade que se corrompe por tão pouco, imagino que a dor e vergonha que eu tive em ir à casa do meu avô, foi uma bela lição de vida.<br />
Veja bem, não sou melhor do que ninguém, não é disso que estou falando. Estou falando de honestidade e de como aprendemos a ser honestos na vida.<br />
Meus pais são para mim e para os meus irmãos sinônimos de honestidade. Eu nunca vi meu pai dever nada e não pagar, nunca vi minha mãe fazer uma dívida e nunca tivemos mais do que pudemos.<br />
E a casa onde eu morava, de esquina, que era muito pequena, abrigou uma família que não tinha muito dinheiro, mas que compensava em honestidade e em amor.<br />
Eu gostaria muito que todas as crianças pudessem ter a sorte que eu tive. <br />
<br />
ps: eu ganhei o lápis dos Ursinhos Carinhosos um tempo depois. Era meu. E era tão meu e eu gostei tanto que usei e o que sobrou em guardei. Está em alguma das caixas na casa dos meus pais que guardam, como tesouro, as coisas que fizeram parte da minha vida. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-73590603669680247832012-08-21T16:54:00.001-03:002012-08-21T16:54:02.737-03:00A CozinhaA cozinha era toda moldada com azulejos. Eram azulejos marrons, de um marrom bem clarinho, quase bege, mas ainda assim marrom. Todos tinham um filetinho de marrom bem escuro, como se fosse um enfeite. Os armários também eram marrons e a geladeira, bege, cor de areia escura. A pia era de aço inox, um avanço para uma casa tão antiga. Ter uma pia de aço inox na cozinha toda marrom e antiga destoava um pouco do propósito de ser uma cozinha marrom, mas o aço refletia algumas vezes a luz que se acendia raramente, como quem diz que ainda vive, como quem se lembra que respira. O fogão, bege com tonalidades de marrom, tinha seis bocas. Um exagero, mas tinha.<br />
No final da tarde, a mesa, que também era marrom, abrigava uma garrafa térmica de café. A garrafa era preta e estava sempre cheia de um café bem mal coado, que ficava marrom quando colocado, raramente, no copo.<br />
Contudo, na manhã do outro dia, era necessário jogar todo o café na pia. Ninguém tinha tomado um golinho sequer do café. E o café bem mal coado, quase bege, era jogado pelo ralo. Um ralo escuro também. Quase não se via seu fundo.<br />
A casa grande e antiga parecia estar vazia o dia todo e o final da tarde trazia o Sol que batia na janela pequenininha acima, bem acima, quase no teto, perto da pia. Junto com o Sol sempre entrava um vento que balançava lentamente a cortina de rendinha que estava mais para bege do que para branco.<br />
Ao anoitecer daquele dia, o único barulho que se ouviu foi o som do motor da geladeira bege e antiga. E também os passos de Clarice em direção à cozinha. Ouvi-se então o barulho da gaveta de talheres abrindo, coisa rara. Os talheres tinham os cabos pretos e ficavam espalhados na gaveta. Nunca ninguém os usava. Clarice então pegou uma faca de cortar bife que tinha o cabo bem preto com pinos que a prendia. Os pinos eram prateados.<br />
Clarice olhou a faca e viu seu reflexo, um reflexto também um tanto marrom. E então o tom marrom e bege que moldava toda a cozinha ganhou um tom de vermelho. Tons de vermelho escorriam no azulejo bege e no chão de piso marrom e bege.<br />
E mesmo depois do vermelho pintar a cozinha, garrafa de café continuou cheia por alguns dias. Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-90838822215592577272012-07-09T21:59:00.003-03:002012-08-21T16:56:24.085-03:00A velha e o marAs ondas que vão e vem no mar formando uma espuma branca e espessa iam tentando clarear os meus pensamentos pouco a pouco. No infinito, a tempestade que se formava ia de encontro ao mar, enfurecendo-o, fazendo as ondas ficarem cada vez mais altas, cada vez mais fortes.<br />
A praia vazia denunciava o inverno que insistia em ficar, em queimar as bochechas e cortar os rostos. O vento gelado, apesar de dolorido, nos faz ver que estamos vivos, que somos feitos de carne, calor e frio. <br />
A praia vazia tinha naquele dia quatro pequenos passarinhos em busca de alimentos que bicavam o chão, ia para perto e para longe das ondinhas fracas que arrebentavam na beira da praia.<br />
Foi nessa praia que sentei. A escadaria íngrime tinha muito a ver com a vazão rápida dos meus pensamentos: era preciso tomar cuidado ao pensar, assim como descer aquela escada, pensar muito rápido era perigoso. A cada olhar para o mar uma reflexão, uma dor, um consolo. Eu estava como a praia gelada daquela tarde: vazia. Pensando no futuro, nas dores do passado, nas alegrias que condicionavam um seco presente. <br />
Nesse momento, seis surfistas chegaram. O mar vazio e as ondas altas eram um convite para que entrassem no mar gelado, desafiando algo interno muito forte, acredito eu.<br />
E meio a descida dos surfistas para a orla, uma senhora velha que andava de bicicleta parou na minha frente e disse que precisava falar comigo, que era urgente. Perguntei o que ela queria, se eu podia ajudar e ela disse:<br />
- Ninguém acredita em mim, mas é verdade e eu preciso te falar: está vendo esses surfistas? Pois é, minha filha, eu vi. Eu vi sem ninguém me dizer. Eu saí de casa hoje com isso na cabeça. Minha irmã diz que sou louca que não devo falar nada, mas sei que para você eu posso falar: um deles vai morrer. Vai ter um afogamento. <br />
Olhei desconfiada, assustada ou, na melhor das hipóteses, pasmada. Quis rir, mas depois pensei que isso poderia ser um sinal de desrespeito. Tentei acalmá-la. Ou me acalmar. Não é toda hora que eu recebo uma notícia dessas em primeira mão. Você está sentado em algum lugar, perdido em pensamentos e alguém vem contar que a morte está perto. Oras, disso que já sei. Mas te anunciam a morte, o cenário fica diferente. <br />
- Entendo a senhora, pode deixar que vou ficar de olho neles. <br />
- É verdade, fique de olho. Um deles vai se afogar, o mar está muito bravo. <br />
Olhei novamente para o mar, os surfistas haviam entrado. O vento insistia em balançar meus cabelos, em tampar a visão dos meus olhos. <br />
As ondas continuavam a ficar agitadas, mas eu já não tinha muito o que fazer. Fiquei ainda, por meia hora, olhando os surfistas. Via ao longe seis pequenos pontos pretos que iam se arrastando na correnteza, junto com a maré. Sem perceber, eram carregados de um lado para o outro, conforme o vento queria, conforme o mar desejava. <br />
Nenhum deles se afogou. O que afogou, o que invadiu de verdade, foram os meus pensamentos, os meus anseios que insistiam em formar ondas dentro de mim.<br />
Olhei para frente e o mar continuava a se movimentar. Independente da minha vontade, da vontade de velha ou dos seis surfistas, o mar não ia parar, as ondas iam insistir até fazer Sol novamente, até a maré abaixar, até o vento sentir que não tinha mais para onde ventar, para onde espalhar os tormentos. <br />
Naquele dia, quem estava afogada era eu.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-87746470194584152912012-02-08T21:30:00.002-02:002012-08-21T17:02:13.115-03:00Quarto de dormirQuando a gente tem uns sete anos, mais ou menos, a gente começa a perceber o mundo a nossa volta. Eu, com sete anos, tinha mais dois irmãos menores e começava a perceber que o mundo a minha volta nunca seria o mesmo mundo das amigas que não tinham irmãos.<br />
Tudo era um tanto diferente para mim nesse sentido porque ter dois irmãos com sete anos não é uma coisa fácil. E eu falo do ponto de vista de uma criança que teve que aprender a dividir tudo. Até os pais.<br />
A atenção se volta para o bebê caçula, o seu outro irmão, no mínimo ainda está aprendendo a dar o laço no tênis e assim por diante.<br />
A gente morava numa casa pequena, dessas pequenas mesmo. De esquina. Tinha um muro baixo que meu pai tratou logo de erguer quando o bairro foi recebendo novos moradores, quando a cidade foi crescendo e quando o perigo podia chegar. Antes do bairro se encher de gente que se enchia de falar com os vizinhos, ou antes da gente sentir medo do outro, o muro era baixo e eu gostava de ficar sentada no muro no final da tarde enquanto minha irmã andava de andador e meu irmão de motoca.<br />
E a casa que a gente morava tinha dois quartos, um banheiro, uma sala e uma cozinha. Só. E uma antena na TV antiga que a gente tinha que ir lá fora mexer para o sinal pegar. <br />
eu gostava de subir na antena. Era um passatempo bom e divertido. <br />
Eu, como irmã mais velha, tinha habilidades que os pequenos ainda não tinham, e como irmã mais velha, isso me dava um certo poder. <br />
Lembro que dormíamos todos no mesmo quarto, nós 3. Dividíamos o guarda-roupa e o saquinho de Fandagos. E dividíamos também as historinhas que meus pais contavam à noite. Eu acho que tivemos uma vida bem comunitária na infância. Era tudo muito dividido. Uma vez me lembro de termos dividido um sorvete. E também já dividimos chiclete, paçoquinha e bombons como o sonho de valsa. <br />
Quando eu fiz 12 anos meu terceiro irmão nasceu. Éramos em 4 agora e o quarto ia ficando cada vez mais apertado, o guarda-roupa também e todas as mãos no saco de fandangos tomavam agora uma proporção diferente. <br />
E a gente dormia todo mundo junto. <br />
Por ordem, o Lean, eu, o Lucas e a Laura. os menores dormiam encostados na parede para não terem perigo de cair da cama. E eu e o Lucas davámos um jeito nisso ficando no meio, com duas camas que eram puxadas debaixo das outras camas. À noite, minha mãe costumava dizer que para beijar todos os filhos tinha que ir rolando de uma cama para outra. <br />
Eu achava isso engraçado. <br />
E até os 17, 18 anos quando mudamos de casa foi assim. Todo mundo no mesmo quarto.<br />
Na mudança, uma casa maior, a Laura e eu dormíamos juntas. E o Lean e Lucas em outro quarto. Mas vira e mexe eu dava eu jeito de dormir com os meninos também. Um pouco acho para matar a saudade daquele tempo. Muitas vezes, depois que o Lucas casou, pedi para o Lean colocar o colchão no meu quarto. E a Laura dizia que eu fosse dormir no quarto dele, pois tinha uma cama sobrando. Mas não era a mesma coisa. <br />
E então eu saí de casa e fui morar fora. E depois eu voltei. Daí a Laura saiu de casa e foi morar fora. E daí voltou. E o Lucas foi morar fora, voltou e casou. E então não voltou mais. E a Laura foi morar fora. E não voltou mais. E o Lean passou na faculdade. E voltou para casa. E então eu fui morar fora de novo. E agora o Lean passou na faculdade de novo e foi morar fora outra vez.<br />
E não tem ninguém mais morando no mesmo lugar. Não tem mais ninguém dormindo no mesmo quarto ou em quartos perto um do outro. <br />
E nesses dias, quando me dei conta disso, de que a vida tinha passado, de que não via mais o Lucas brincando com o Kart dele, a Laura brincado na areinha no fundo de casa e o Lean fazendo os barulhos mais incríveis do mundo brincando de Power Rangers e depois do dia todo de brincar a gente indo dormir junto, eu chorei. Chorei fundo.<br />
E hoje quando eu falei com o Lean que estava indo fazer a matrícula dele na faculdade, e quando eu falei com a Laura que estava estudando para o mestrado e quando eu falei com o Lucas que está procurando um apartamento maior para quando tiver filho, eu chorei de novo. E meu peito apertou.<br />
Porque eu vi que nunca mais a gente vai viver assim, daquele jeito, naquela vida meio comunitária, cheia de gente, de bagunça, de dividir onde guardar a roupa e quem vai dobrar os lençóis e cobertores numa manhã fria de domingo.<br />
E eu pensei que se um dia eu pudesse escolher, eu gostaria muito de morrer beeeeem velhinha. Bem velhinha mesmo. E se eu pudesse escolher de novo, que eu pudesse passar uma última noite no mesmo quarto com todos os meus irmãos. <br />
Lembrando de uma época que na minha cabeça parece estar em preto em branco de tão antiga, mas no meu coração está pintada de dourado, de um dourado forte, feito ouro, raridade.<br />
E então eu dormiria e diria: boa noite Lucas, boa noite Laura, boa noite Lê.<br />
E pronto. Fecharia meus olhos e dormiria em paz.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-71241606985141311752012-01-17T14:33:00.000-02:002012-01-17T14:33:58.235-02:00Roupas no varalPendurou a roupa no varal com delicadeza. O vento espalhava o cheiro do amaciante pela varanda e ia dançando com a roupa estendida e com a saia de algodão que Ana usava.<br />
Os cabelos de Ana, presos em um coque, iam se desmanchando a cada roupa pendurada. Os fios molhados moldavam o cabelo da moça, fazendo graça com os fios ligeiramente soltos que teimavam em encostar no seu rosto e nos seus olhos.<br />
A bacia com as roupas molhava o chão da varanda que deixava a água escorrer até a rua, formando um pequeno riozinho de água doce. O vento continuava a bater e Ana acariciava a roupa no varal como quem estivesse delicadamente decorando cada centímetro do corpo da outra pessoa.<br />
Seus pensamentos vagavam com o vento, com os fios de cabelo soltos e a cada movimento para se abaixar e pegar a roupa, Ana sentia mais e mais vontade de chorar.<br />
Tirou os chinelos e sentiu a água que escorria da bacia. Dedo a dedo, por todo o pé.<br />
Voltou a sentir o cheiro do amaciante na roupa limpa, e chorou. <br />
Quando voltou a si as roupas estavam manchadas de vermelho, um vermelho sangue. O riozinho de água doce estava respingado de dor e de lágrimas.<br />
E o vento agora insistia em secar os olhos de Ana, insistia em tentar fechá-los de uma vez. O mesmo vento derrubou o lençol manchado por cima do corpo da moça e soprou forte, muito forte.<br />
Mas nada mais havia de ser feito.<br />
Os fios de cabelo estavam agora espalhados pelo chão da varanda que teimava em evidenciar aquele cheiro de amaciante por toda a casa.<br />
Ninguém viu. Só o vento.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-87443998511280755372012-01-08T23:29:00.000-02:002012-01-08T23:29:21.042-02:00A casaPor favor, fique à vontade. Pode entrar, a casa é sua.<br />
Desculpe a bagunça. A bagunça interna no caso. <br />
Mas pode entrar. <br />
Limpe os pés. E o coração.<br />
Pode entrar. A porta está aberta.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3961760268033828750.post-54499785021848561352012-01-04T21:21:00.000-02:002012-01-04T21:21:59.650-02:00A velhaAndava lentamente pela calçada esburacada. As ancas iam de um lado para o outro como que fazendo um molejo, mas que na verdade retomava a lembrança de que havia ali dores intensas, daquelas que existiam desde que era criança e trabalhava no canavial.<br />
Andava lentamente com uma sacola de plástico na mão carregada com algumas coisas que não conseguíamos ver. Usava uma camiseta esgarçada onde lia-se "I Love New York". Jamais esteve em Nova York. Mal sabia ler. Suas mãos cheiravam a alho cru e cebola que a velha descascava para o almoço na casa dos Mendes, família rica e tradicional da cidade. <br />
A velha então tropeçou na calçada esburacada e derrubou a sacola. Espalhou-se no chão e no asfalto doces e mais doces. Os sonhos que a velha tanto gostava.Lidiahttp://www.blogger.com/profile/13386924895815087786noreply@blogger.com0