segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Sobre a Morte

Estive pensando esses dias sobre a efemeridade da vida, sobre o tempo, sobre os meus cabelos brancos, sobre a minha pele que não é mais a mesma. E sempre que me pego pensando isso, sobre essa velocidade do tempo, me pego vendo uma imagem muito simples: o tempo em formato humano é bem parecido com a morte, sim, a morte. Aquela morte que a gente vê de cajado, sem rosto.
O Tempo é o parceiro mais forte da Morte, seu melhor amigo, seu amante, aquele por quem ela faz o que quiser fazer.
Vejo o tempo também como um trator, como um primo próximo das casualidades, dos encontros e desencontros. Parceiro da Morte, primo das Casualidades, funcionário do Destino.
E em meio a tudo isso, culpamos sempre a Morte, sendo egoístas, não entendendo seu sentido, sua função. A Morte é apenas uma obscecada pela Vida que não conseguindo viver, tenta ao máximo empurrar o Tempo, descontrolar os Destinos, desandar os Encontros e seus irmãos Desencontros.
Eu nunca tive um contato direto com a Morte. Sei que ela existe, que está aqui, que está perto. Não no sentido de que vai acontecer agora, se bem que eu posso nem terminar esse artigo, mas sei que ela está perto na proposta de acompanhar a Vida onde quer que ela vá. E isso me dá uma certa Insegurança, a mais medrosa das sensações, em suportar ou em continuar a viver quando a Morte insiste em mostrar seu rosto para quem a gente gosta, para quem a gente admira.
O mundo ficou mais triste desde ontem, menos colorido, um pouco mais dolorido com a partida da Márcia Sielski, uma amiga com quem tive o privilégio de conviver quatro anos enquanto fiz faculdade no Paraná. A Márcia para mim não tinha idade. Dizem que ela partiu com 50 anos ontem. Eu acho que a Márcia partiu com todas as idades do mundo e com tudo o que o mundo ainda podia ter dessa mulher que ainda era tão nova, tão feliz e que, quer queira quer não, me deixava reconfortada em saber que ainda tínhamos seres humanos no mundo enquanto a Márcia estava viva.
Hoje, no restaurante onde almoço, vi o peixinho do Cauã, o garotinho bacana de 8 anos, morrer. Ele tinha sido tirado do aquário para limpar o vidrinho, a pequena caixa de vidro onde morava. Quando voltou para lá, ficou no fundinho, entre as pedras e as plantinhas. Sem se mexer.
A dor que o Cauã sentiu foi ouvida no restaurante todo enquanto ele chorava na cozinha. Era um peixe, mas era o peixe preferido dele.
A Márcia me ensinou mais o do que posso descrever aqui, porque ela, assim como tantas outras pessoas em Ponta Grossa, foram para mim, pessoas de luz, que me ensinaram o valor de amar as pessoas, valorizar a arte, as ideias, o respeito ao outro e principalmente ao ser humano.
A falta que ela vai fazer vai ser incrível. Não para mim, porque estaria sendo egoísta ao falar dessa forma, mas para a humanidade.
A mãe do Cauã vai comprar um peixinho novo para ele hoje.
E eu vou procurar uma estrela nova no céu.