sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Apenas uma vez

Assisti o filme "Apenas uma vez" hoje. Só pelas canções já vale, mas falar de uma história de amor fraternal, nessa velocidade, me fez acreditar.
O filme é divinamente bem feito, com direito a uma fotografia maravilhosa, misturada com músicas envolventes e uma história de amor, respeito e amizade além dos limites.
Foi apenas um final de semana junto que mudou a vida dos dois para sempre. As dores e os amores de ambos que lentamente foram se misturando, entrando um na vida do outro e assim conhecendo a alma através da música e da vontade de não ficar só.
Um filme que vale à pena ver, ouvir. E lembrar.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CLUBE DE CINEMA DE MARÍLIA

Falar sobre o Clube de Cinema de Marília é um prazer. Ao conhecer a história do Clube de Cinema, mergulhamos na própria história da cidade. Assim, discorrer sobre esse assunto tão vasto e tão rico em acontecimentos faz com que entremos num túnel do tempo, caminhando por lugares hoje tão distantes, mas que outrora fizeram parte de uma geração encantada e ciente da importância da sétima arte.
Em 1952, em um Brasil tomado por uma aura desenvolvimentista e tecnológica, um grupo de amigos em Marília tentava instaurar na cidade um novo olhar sobre a cultura através do cinema, estudando imagens em movimento que se faria presente no dia a dia de uma população tão carente e ávida de novidades.
Roberto Caetano Cimino e alguns outros começam a participar de um movimento cineclubista que acontecia em todo o interior do Estado na busca por um espaço cultural que mostrasse mais do que a realidade pudesse oferecer, com qualidade e reflexão social. Daí surge a idéia de criar o Clube de Cinema de Marília.
A primeira exibição é feita em 16 mm com o filme A Dama de Shangai (1948) do então cineasta Orson Welles, o mesmo do famigerado Cidadão Kaine (1939). A exibição foi um sucesso e em pouco tempo, cópias em 35 mm começaram a se fazer presente nas sessões marilienses. Foi então que na segunda sessão os convidados assistiram O encouraçado Potenkin (1925) de Sergei Eisentein um clássico do cinema russo.
E esses jovens não pararam por aí: em 1960 organizaram o I Festival de Cinema de Marília e também o primeiro do Brasil. Dá para acreditar? Em pleno começo de uma era turbulenta como foi a ditadura, o Clube de Cinema de Marília enfrentou a realidade e promoveu festivais e discussões em torno da sétima arte de forma brilhante. E ao mesmo tempo, avassaladora. Os próximos festivais ocorreram em 1967 e 1969, sempre cheios de novidades.
Cineastas de várias gerações aqui estiveram: Luis Sérgio Person, Arnaldo Jabor, Roberto Santos, Hugo Carvana, Domingos de Oliveira, Sergio Ricardo (que nasceu em Marília), Nelson Pereira dos Santos, Bruno Barreto, Hector Babenco, Leon Hirzman, Anselmo Duarte e tantos outros. Além de atores como Eva Vilma, Carlos Zara, Leila Diniz, Reginaldo Faria e personalidades como Wladimir Herzog.
Enfim, uma riqueza de história para orgulhar qualquer cidadão, imagine então os marilienses.
Além dos festivais, ocorria paralelamente os Encontros Paulistas de Cine Clubes, os cursos de cinema, a informação através do jornal Curumim e a instituição do prêmio de cinema mais famoso do país: o prêmio Curumim em 1966.
Entre 1975 e 1988 as exibições em 35 mm foram minguando devido ao descaso com a cultura. Nada mais de festivais, apenas exibições e alguns poucos cursos que ainda eram promovidos pelo Clube de Cinema com a direção do grande Benedito André, o seu Dito, que cuidava, como se fosse seu, jóia rara, do Clube de Cinema.
O clube decai em qualidade e atuação justamente pela falta de incentivo. A professora Regina Morales assume o Clube depois da morte do seu Dito fazendo o que pode e com os recursos que tem para que o Clube não parasse de funcionar. Entre exibições para escolas, debates e uma programação que se prima em oferecer filmes dos mais variados países e culturas, Regina tem feito o que é possível para manter essa instituição ainda de pé.
Em 12 de outubro de 2008, o Clube de Cinema de Marília completou 56 anos de história entre alegrias e tristezas. Uma história marcada pela perseverança de alguns e descaso, desconhecimento e descomprometimento de tantos outros.
Claro, não podemos culpar uma sociedade que não se interessa por cultura num país como o Brasil, onde pouco, ou quase nada, ainda se investe nisso. Por isso, acredito que iniciativas como a 1° Mostra de Cinema de Marília são louváveis e devem ser aplaudidas.
Devemos reconhecer, entretanto, que uma 1° Mostra como essa deve ser o pontapé inicial para uma nova fase do Clube de Cinema em Marília e para a própria cultura da cidade. O acervo, como vocês devem saber, está numa salinha no final do corredor, lugar onde parece estar indo toda a cultura em uma sociedade que não preza o valor histórico dos fatos. Poucos têm conhecimento da riqueza que é preservar a história e o acervo desse Clube.
Alguns “desbravadores” ainda insistem em cuidar do que existe, remando algumas vezes contra a maré e tentando preservar a memória do Clube de Cinema para que seus filhos, netos, bisnetos e toda uma sociedade possam vir a conhecer e pesquisar o que um dia existiu em Marília.
Sendo assim, acredito que só a cultura e em seu seio mais forte aqui, o cinema, pode salvar uma sociedade carente de refletir sobre si mesmo e sobre a realidade em que está.
Façam da cidade de vocês um lugar melhor. Mas não fiquem reclamando apenas: descruzem os braços, saibam o que está acontecendo, cobrem do poder público novas iniciativas e tenham novas idéias para melhorar a cidade em que vocês estão.
Façam cinema. Façam história.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Noel, o poeta da vila

Assisti o filme "Noel, o poeta da Vila", segunda-feira, aqui no Sesi. Era uma dia muito chuvoso, o céu estava carregado de nuvens e uma garoa fina cobria a cidade. Achei que só teria duas pessoas na sessão. Estava enganada: Noel levou uma galera ao cinema.
Bom, para começar a excelente fotografia do filme, com imagens maravilhosas da Vila Isabel (que não conheço, mas um dia...) e das personagens mais famosas da época. Os bares, as pessoas e a boemia.
Rafael Raposo, o intérprete do Noel, estava perfeito. Me lembrei das noites em PG nos bares onde o Cabide tocava Noel e o Luciano (Perereca) fazia o cara direitinho! rs noites muito legais, regadas a música e bons amigos.
enfim, voltando ao filme: Rafael interpreta um Noel divino, em crise com um mundo que não sabe acolher os grandes gênios que aqui estão. Ele fuma e bebe compulsivamente. Para esquecer Ceci, interpretada por Camila Pitanga? Talvez, mas também para esquecer a tuberculose que lhe atacava a vida.
Olha o que Noel escreve para o seu médico quando estava em BH tentando se recuperar:
Já apresento melhoras,
Pois levanto muito cedo
E deitar às nove horas
Para mim é um brinquedo.
A injeção me tortura
E muito medo me mete,
Mas minha temperatura
Não passa de trinta e sete!
Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro
Pois não há material
Para o exame de escarro!
Noel foi um grande poeta e o filme retrata tudo isso. Saí da sessão encantada, não só com o filme, mas com o tanto de gente que foi ver. Ao buscar mais informações achei um texto que dizia que Noel ilustrou com suas canções vários filmes, desde a Atlântida quanto o cinema marginal.
Em uma organização do acervo do Clube de Cinema, achei um cartaz do filme "Perdida" de 1975, que tem a trilha sonora com a música "Quem Dá Mais?" (1932), na voz do próprio Noel Rosa. Essa música "ilumina" a cena, mas, bom, "(in)convencional" do filme...rs
Enfim, Noel é pra ver, ouvir e estudar. Gostar mesmo.
Parafraseando o doc "Cartola, música para os olhos" de Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, que também amo de paixão e também tem a direção de arte do grande Claudio do Amaral Peixoto, diria que Noel Rosa é música para os olhos também. E para a alma.

sábado, 4 de outubro de 2008

Vera Alice, o vento e a chuva

E foi então que Vera Alice saiu debaixo da árvore em que estave com o passarinho que voou com o seu segredo e pensou:
- Preciso ver onde vai dar um novo caminho...
E avistou, ao longe, uma estrada de terra vermelha batida, com vegetação rasteira ao lado e galhos retorcidos. Acreditou que dali para frente, onde a estrada daria, ela encontraria um lugar para passar a noite. e andou.
Seus sapatos marrons já estavam vermelhos e desgastados, seus cabelos molhados de suor de tanto andar e seus sonhos quase indo por terra abaixo quando avistou uma porteira.
- Deve haver aqui alguma fazenda, uma casa, um celeiro. Vou entrar...
E foi então que ao abrir a porteira avistou cavalos e gados pastando. O sol estava se pondo e naquela paisagem distante, Vera Alice pensou mais uma vez que iria morrer, ou que não passaria daquela noite. Apesar de estar feliz vendo o Sol se abaixar e beijar lentamente o horizonte, Vera Alice não estava vendo um futuro para ela ali.
Andou mais um pouco e avistou o curral. Parou. E mais que de repente uma chuva fina, depois um tanto mais forte começou a cair. O céu que estava escuro, clareava com os trovões e os raios. E a calma daquele pôr do Sol se transformava agora em uma ventania sem tamanho.
entrou no primeiro celeiro que encontrou e fechou a porta. rezou e pediu que fosse apenas uma tormenta, daquelas que a gente também tem quando está em crise. E adormeceu.
Sonhou que voava e que conseguia sentir alegria.
contudo, um barulho na manhã seguinte a acordou. Mas para ela o sonho estava apenas começando...
- Essa chuva que veio lavou tudo. Acho que limpou minha alma e meus pensamentos. O dia está claro, mas acho que ainda tenho tempo para sonhar...
E fechou lentamente os olhos.
Para ela, o barulho maior estava dentro dela e batia agora num pulsar sereno.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O tempo

Bem provável que todos nós tenhamos a mesma sensação de angústia acumulada por um esgotar de tempo. Daquele tempo do relógio, minuto a minuto, onde não vai dar tempo de fazer nada e ainda temos tudo por fazer.
Os tempos são diferentes...Diferentes porque para mim, o tempo requer...tempo. E é o que menos eu tenho tido. Tempo para refletir, pensar mesmo no dia a dia. Aqueles momentos em que paramos para olhar o nada e pensar em tudo. é disso que falo.
Mais raro ainda é parar e perceber o outro. Olhá-lo com mais calma. E para si mesmo também.
E ainda assim a vida vai. Ou se esvai. E espero que fiquem os momentos tranquilos disso tudo, desse rodamoinho...

Across the universe

já havia ouvido falar do filme, mas não tinha assistido ainda. Não sei o que mais me chamou a atenção: a história, a trilha sonora, o contexto, as imagens lindas e bem fotografadas, o amor ou a saudade.
e não é uma saudade comum, daquelas que a gente pode ligar. é daquelas que apertam o peito, porque é uma saudade mal acontecida. Como assim? explico.
Nostalgia mesmo. Ou saudade, vá lá. Vou dar o nome que eu quiser.
Jude encontra Lucy e eles se apaixonam perdidamente. Lucy se apaixona também pelas causas sociais, enquanto Sadie detona musicalmente. A guitarra de Jo-Jo eleva-se e o que pode ser afirmado é que nós não nos jogamos mais. Em nada. No sentido de sentir a dor em si, abandonar o medo e seguir em frente.
Assiti o filme com mil pensamentos, pensando em mil coisas e em algumas pessoas.... e em uma em especial. Se existe um mundo possível ainda, mesmo que dentro de nossas mentes, seria justo que o mundo rodasse e rodasse e rodasse. E as chances voltassem e o medo partisse junto. Mas acho que os meus erros são parte da minha vida e têm uma marca profunda naquilo que podemos chamar de "experiência", ou melhor, de "tempo".
Across the universe é Beatles puro, numa emoção contagiante. Tanto de alegrias quanto de tristezas. As músicas embalam momentos e histórias de maneira única. e o filme tem ainda pegadas clássicas de Yellow Submarine. dá vontades de empurrar os móveis e dançar, cantar. E viver. intensamente.
Yeah, Strawberry Fields Forever...