segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Tempo Suspenso ou Hiato

Porque na maioria das vezes buscamos palavras para definir um estado de espírito ou uma situação? Será que as palavras podem mesmo defenir? E mais, que palavra define quem somos?
Eu sempre busco uma palavra para definir um espaço, uma ideia, ou um sentimento. Tem pessoas que buscam a música, outros o desenho, a imagem em movimento. Outras tantas ainda buscam o vento, a luz do Sol. Eu busco palavras.
Para mim hoje a palavra que pode definir é a palavra, ou a frase no caso, "tempo suspenso". Aquela palavra que fica na iminência, no desejo, naquilo que ainda não aconteceu, ou não teve tempo de acontecer. Ou que aconteceu apenas em nosso pensamento, em nosso desejo. No tempo suspenso, fora do tempo real.
Talvez que o "tempo suspenso" seja aquele mesmo da condição da solidão. Não de si, nem do outro. Mas da condição de solidão de uma ação, aquele eterno vir-a-ser do desejo, o desejo sozinho consigo mesmo, sem a condição de agir, de ousar.
Essa condição de não ser, de não estar do "tempo suspenso" beira a dimensão do "em haver", daquilo que nos devemos, que devemos a nós mesmos, ao que queremos, ao que somos e desejamos. Para mim essa é condição de subdesenvolvimento social que nos envolvemos, a qual somos inteiramente presentes, de corpo e alma. Essa iminência do vir-a-ser bom, do vir-a-ser tudo o que desejamos, mas que se encontra no "tempo suspenso", no desejo.
Para mim não existe situação mais difícil do que a tentativa, a mola propulsora do erro e do acerto. O tentar ser algo, sair da condição do "tempo suspenso", na vida, no relacionamento, no desejo é o que tem de mais humano, de mais difícil para quem acredita. Esse acreditar está diretamente próximo à condição do desejo, do que se quer materializar, mas não há condições.
Sabe aquele hiato existente entre um momento e outro, entre o momento da concretização do tempo suspenso antes que o desejo volte a imperar? Pois é isso, momentos de hiato. Nossa vida é permeada de tempo suspenso e o hiato desse tempo, quando ele se cansa, quando há uma pausa.
Tal qual um ditongo de fato, quando duas vogais devem estar juntas na mesma linha para que a palavra exista do seu modo mais profundo, muitas vezes o que se tem, são as palavras separadas, as sílabas separadas entre uma linha e outra para que a frase, enfim, possa continuar.
É na vida que os hiatos de um momento e outro separam o tempo suspenso e tentam, em vão, concretizar os desejos. É daqueles dias em que mesmo que se queira que a palavra esteja completa, ausente de separações para que se dignifique a ser exatamente o que se é, que a palavra não cabe, que a palavra separa-se entre um momento e outro do tempo suspenso.
E é assim que a gente se divide para continuar a existir. Para ter mais uma linha, mais um fio de esperança para que o ponto final não chegue, para que mesmo entre um tempo suspenso que outro onde exista um ponto e vírgula, se configure o desejo, se concretize o tempo suspenso.
É dele que a esperança se alimenta. E é ele que a mata também quando o tempo suspenso continua suspenso. Por horas, por dias, por segundos...