quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pó de café

Acordou cedo, como habitual. Olhara o relógio e o objeto insistia em gritar anunciando que já era mais de seis da manhã.
Levantou, banhou-se e colocou uma roupa nova. Havia comprado há alguns dias aquele jeans e ainda não tinha tido a oportunidade de usar. Colocou, olhou no espelho e gostou do que viu.
A não ser pelo cabelo que ainda faltava pentear.
Desceu as escadas pé ante pé. Não queria fazer barulho naquela manhã ensolarada de primavera. Sempre gostou da primevera. A luz nessa época do ano fica mais forte e mais bonita e as árvores pareciam saudar as pessoas ao derrubarem, em cada um que passava, uma flor.
Olhou o relógio novamente e sentiu que estava atrasado. Entrou na cozinha, colocou a água pra ferver e passou margarina no pedaço de pão de havia sobrado.
Preparou tudo e montou para passar o café.
O cheiro da bebida ia exalando pela casa, subindo num charme quase que sensual as escadas, conquistando os narizes verticalizado nas camas e os olhos apertados de um sono profundo, sonhando com um cheiro que não podiam ver. E esses olhos, ah esses olhos, foram se abrindo.
Colocou o café na xícara e bebeu. Quente e forte. Com pouco açúcar.
Manoela desceu e o beijou.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Está com gosto de café. De pó de café na boca.
- E você gosta?
- Como assim, se gosto? Claro que gosto de você.
- De mim não, do café, de sentir o gosto do pó.
- É diferente, mas eu gosto.
Então, ele a beijou com força, mordia-lhe a boca misturando o gosto do pó de café com o sabor da pasta de dente. Beijava-lhe a boca, o pescoço, as bochechas a testa.
Parou e olhou para ela. Fixamente. E então mordeu o pão e saiu para trabalhar.
Era um dia agitado que estava por começar.

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