terça-feira, 3 de maio de 2011

Sal

- acho que está bom, está pronto.
- deixa eu experimentar.
- agora? você vai experimentar agora? tá. mas está quente. assopre. veja se está faltando algo.
- hum...
- hum o quê? está bom?
- não sei, está faltando algo.
- e o que é?
- não sei. ainda não sei.
- mas eu coloquei tanta coisa, está tão cheirosa, tão apetitosa.
- pois é, pois é. eu sei, eu vi que colocou os temperos todos e picou os legumes e fez com carinho. mas não sei, está faltando algo.
- mas eu me concentrei na receita, li passo a passo. onde foi que eu errei?
- calma, você não errou. apenas se concentrou demais na receita e esqueceu de seguir sua intuição. a gente tem que ficar livre ao preparar um alimento. livre sabe? entender as combinações, saber o que pode ir para ficar melhor, essas coisas.
- entendi.
- é como a vida. tem que estar livre. nem que for no próprio pensamento. mas livre.
- sei...mas e daí? o que faltou?
- acho que já sei o que faltou: sal.
- sal?
- sim, o tempero principal dessa vida. sal. você tem sonhos, ana?
- alguns. não muitos.
- pois coloque sal.
- na sopa?
- também. mas nos sonhos.

e saiu. colocou um vinil. abriu um vinho.
a sopa estava na mesa.

Um comentário:

Camila disse...

... nessa noite mega gélida... foi bom ter passado por aqui antes... "adoça", contraditoriamente (?), a vida!