terça-feira, 9 de junho de 2009

Poesia, música e pensamento

Por questionar somos humanos. Sim, humanos.
Por amar somos também humanos. Mas talvez e principalmente, por fazer escolhas somos humanos. Escolhemos um caminho ou outro, uma fala ou outra, um momento ou outro. E por isso às vezes me pego um tanto quanto preocupada em pensar que algumas pessoas depositam a sua própria felicidade nas mãos de outro.
Isso não é humano, é desumano.
Ninguém é feliz porque "tem" o outro, mas sim porque "compartilha" com o outro momentos bons e ruins, porque ali cabe confiar algo. Isso sim é a felicidade. Saber compartilhar. Jogar para o outro o seu futuro, ou a necessidade de ser feliz é egoísmo.
Muitos relacionamentos hoje estão fadados ao fracasso justamente por não confiarem, por culparem o outro de suas tristezas, por acharem que o outro é sua "metade".
Metade do quê? Somos seres completos, dotados de sabedoria para buscarmos nossas alegrias e convivermos com tristezas e frustrações. Não existe metade, somos inteiros querendo somar.
E chega o dia dos namorados e fica uma ladainha besta nos meios de comunicação, nas propagandas, nas lojas. "Agrade sua alma gêmea". E geralmente é uma mulher, com lingerie se expondo para agradar. Ou um homem, de espécie perfeita, com flores na mão.
Um certo romantismo até que é bom, mas isso é exagero. Não existe ideal.
Dessa forma, acredito que apaixonar-se de verdade não é algo eterno. Sim, gostamos da pessoa, mas na verdade nos apaixonamos por momentos que passamos com ela e não por ela em si. O que gostamos é de estar com a pessoa que escolhemos. Veja bem, que escolhemos.
Os momentos é que são apaixonantes, as falas, as cenas. Do resto o que ocorre é a necessidade de compartilhar. Acasalar.
Não existe metade, existe complemento do que já é.
Diz Oswaldo Montenegro na música Quando a gente ama:
Me apaixonei por um olhar
Por um gesto de ternura
Mesmo sem palavra
Alguma pra falar
deveria ser isso então a mover a espécie humana. Mas acredito que ainda estamos fadados ao fracasso quando a questão principal, a comunicação ainda está ausente. Quando acredita-se que disse algo que não disse. Mas que o olhar deveria dizer.
E assim, as culpas, sentimento humano e não divino, aumentam junto às cobranças de atenção. Atenção a gente dá porque a gente quer dar e não porque o outro pede. Senão vira tarefa.
Relacionamento não é tarefa. é paciência.
Tem outra música do Oswaldo que se chama "Metade" que confirma que metade não é o outro, é a gente mesmo.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão.
e que então esses pensamentos se transformem em vulcão, na ideia que mereço.
em um novo começo. e que os relacionamentos sejam maiores, somem uns aos outros.
pois só assim, nessa liberdade é que se constrói algo.

Nenhum comentário: