sexta-feira, 12 de junho de 2009

O girassol

Já era tarde, quase noite. O frio já era sentido no ar. Ela se vestia com as roupas de sempre, mas dessa vez ousou e colocou também um cachecol rosa. Era um presente da avó e achava que ficava bom pra usa naquela ocasião. Saiu mais cedo do trabalho, passou na floricultura e comprou um girassol. Sabia que ele gostava. Ou que achava diferente. "como é que pode essas plantas se mexerem assim, em busca de Sol?" ele sempre dizia isso. Independente do número de vezes que via um girassol. Chegou ao apartamento ansiosa. Subiu as escadas lentamente, respirando fundo e tentando se acalmar. Procurou as chaves na bolsa. Abriu a porta e tudo estava em silêncio. A sala vazia, o armário com livros bagunçado do mesmo jeito. Foi até a cozinha e abriu a geladeira, como fazia de costume. O barulho foi quase ensurdecedor. Apenas uma voz que falou: silêncio, acho que ela chegou. Ficou estática. Não, não achou que era uma supresa, não tinha porque ser. Era aniversário dele e não dela. Fechou a porta da geladeira, apagou a luz, pegou o girassol e sentou na sala. Não podia pensar em mais nada. A porta ficou entreaberta de repente. Ele saiu e se olharam. Com dor. Ela pediu licença, entrou no quarto e lá estava ela. Parada, sob os lençóis com ar de vítima, cara de traição. Respirou fundo e pegou a mala embaixo da cama. - onde você vai? - ele perguntou. - mas por que você quer saber? - não saia, por favor... - com licença, preciso pegar essa blusa. - Melissa, fique, vamos conversar. - conversar? ah, sim. vamos. e aí? tudo bem? como está? pronto. conversei, agora tenho que ir. Ao abrir o armário viu o último bilhete que ele lhe dexara na noite anterior. "te amo". as lágrimas escorriam enquanto dobrava as roupas e as colocava na mala. - Melissa, pare com isso... - Léo, chega. Por favor, isso já está humilhante demais... Fechou a mala, abriu a porta e foi para a sala. A flor estava sobre o sofá. Olhou e pensou um pouco. Foi até lá, pegou o girassol e o colocou na estante de livros. Abriu a porta da sala e saiu. Desceu as escadas com uma dor de cabeça latenjante, com o coração em pedaços. Não tinha para onde ir. Sentou na praça em frente ao prédio e chorou. Como há tempos não chorava. Leonardo desceu o prédio e a viu. Ela não o enxergou. Melissa abriu a mala com o papel escrito "te amo". Grudou o papel no poste, levantou-se e saiu em direção ao centro da cidade. O dia ainda não amanhecera, mas era a sua hora de buscar um novo Sol.

Nenhum comentário: