Saulo tinha um blog. Se dizia escritor, um grande pensador. "ainda vou publicar um livro", costumávamos ouvir. Morava sozinho desde os 17 anos. Sozinho mesmo. De tudo. Disse que não conseguia se adaptar as pessoas. "gente me cansa muito", e abria o notebook.
Saulo não tinha mãe. Por isso, em todos os dias das mães presenteava as mães de suas amigas com uma flor. "é simples, mas é de coração". Não conheceu a mãe, foi criado com a tia que morreu há pouco tempo de um avc. Presenteava todas as mães de amigas e dona Cleonice também, a vizinha da frente, que como ele, vivia sozinha. Apesar de não ter filhos, Saulo lhe presenteava e dizia que por ser mulher, era uma mãe em potencial.
Dona Cleonice sorria com seus dois únicos dentes e agradecia, mas na verdade ela nunca quis ser mãe mesmo. No fundo do seu coração, ela sempre quis ficar sozinha.
Saulo era muito apegado aos seus escritos. Escrevia dia e noite, dia e noite. Foi quando um dia um rapaz, Hugo, lhe escreveu no blog dizendo que havia gostado de seus textos. Saulo sentiu um frio na espinha, arrepiou-se todo e pensou: "será?"
Respondeu para Hugo e a partir daí iniciaram uma série de troca de emails diariamente. Mais de 10 emails por dia. E assim foram ao longo de um mês quando resolveram se conhecer. "já está na hora né?" dizia Saulo para as amigas.
Saulo morava numa cidade do interior de Minas. Uma cidade pequena, bem pequena, bem pequenininha. Daquelas que quando a gente passa a gente pensa: "Jesus, que cidade pequena!".
Hugo morava em Salvador.Cidade grande, descolada. Era músico e já tinha vivido boa parte da vida em várias cidades pelo mundo. Tinha muito a apresentar para o Saulo.
Se conheceram. Marcaram de se encontrar em bêagá. Jantaram, conversaram e se encantaram. Tiveram um relacionamento por anos. Saulo um dia resolveu publicar os textos de seu blog em um apanhado para virar livro. Tentou em três editoras e fora recusado. Hugo tentou ajudar e entrou em contato com uma editora de Salvador (sim, Hugo mudou-se para a pequena cidade de Saulo).
Conseguiram. Finalmente, o livro de Saulo seria publicado. A noite de autógrafos foi um sucesso. Então que um dia, Saulo saiu de casa e disse: "publiquei um livro, devo agora plantar uma árvore".
E foi. Plantou um pé de acerola na praça perto de casa. E todos os dias Hugo ia até lá regar. Foi então que Saulo foi sentindo vontade de ser mãe. Mãe mesmo, daquelas mãezonas, igual sua tia que morrera foi para ele.
Dona Cleonice acompanhava tudo do novo casal. E não gostava muito. "é estranho. dois homens juntos! onde já se viu?"
Saulo disse a Hugo que queria ser mãe. Adotaram uma barriga de aluguel e pronto. Fizeram um filho. Só dona Cleonice que não gostava. "Imagine, ter um filho! dois homens! onde já se viu?"
No dia das mães, a criança nasceu. Saudável, robusto. Um meninão. Se chamaria Orlando, em homenagem ao avô de Hugo.
Foi então que quando chegaram em casa, na mesma casinha que morava perto dona Cleonice, Hugo e Saulo, com Orlandinho no colo, levaram flores para Dona Cleonice com um cartão: "parabéns vovó, afinal, vó é mãe duas vezes".
Dona Cleonice chorou ao segurar Orlandinho, que sem querer tinha o mesmo nome do grande amor de sua vida. Hoje dona Cleonice leva Orlandinho para lá e para cá. Mostra para todo mundo e diz: "você já viu menino mais bonito? onde já viu um garoto tão bonito assim?"
E encheu os olhos de água.
2 comentários:
Arrepiei!Muito linda,uma história flor,de tão delicada =D amei!
linda a história!!!
bjos até!
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