Pereirinha tinha lá seus 50 e poucos anos. Trabalhava num disque entrega. Aliás, em um não, trabalhava para vários estabelecimentos comerciais da cidade, da pequena cidade, onde morava.
Pereirinha não era o que podemos chamar de um homem bonito. Tinha um bom coração, era uma pessoa boa, daquelas que a gente percebe pelo olhar sabe? Mas não era exatamente um homem bonito. Nem muito agradável.
Se você desse trela, ele ficava horas no portão da sua casa contando das bandas de rock com as quais ele já tocou e fez turnê. Tudo uma mentira, é claro. Mas era legal incentivar o Pereirinha no seu próprio mundo da imaginação.
- Sabe que eu já fui baterista? É. de banda grande. Você nem imagina.
E lá ia o Pereirinha contar a história.
Contudo, Pereirinha era um homem solitário. Triste sabe? Morava com o pai doente. A mãe já tinha morrido há alguns anos.
Ele sentia muito a falta de uma namorada.
- Eu já tive várias namoradas, mas eu gosto de ficar assim do jeito que estou agora, na paz do nosso Senhor.
E lá ia ele para ele mesmo justificar a solidão.
Contudo, um dia Pereirinha teve uma ideia: o pai havia acabado de falecer, tinha isso uns dois meses. Deixara de herança para Pereirinha a casa e o imóvel do galpão, alugado agora para casa de ferragens.
Pereirinha então pensou, pensou e resolveu fazer algo até então inusitado para aqueles 50 anos: botou um anúncio no jornal e outro no rádio dizendo:
"homem bonito procura namorada. tenho boa aparência, amigos e um pouco dinheiro. procuro mulher acima dos 40, em forma e que queria dividir um teto com um homem romântico, sensível, porém, simples. sou um homem simples".
Mulheres da pequena cidade onde ele vivia e região se aglomeraram em frente à rádio e ao jornal, enlouquecidas atrás de um amor de verdade, atrás do mito Pereirinha.
Então que o pobre homem se esbaldou com as mulheres: loiras, morenas, japonesas, altas, gordas, magras. Pereirinha podia agora escolher.
Fez uma seleção: a mais cheirosa ganharia seu coração. Chamou as "meninas" para irem a sua casa e uma a uma ia cheirando o cangotinho.
Num gesto de amor e carinho, oferecia para as "moças" bombons por terem vindo.
Contudo, Pereirinha comeu todas as moças, transou com todas porque dizia que tinha que experimentar. O irmão mais velho de Pereirinha descobriu a algazarra do irmão, e devoto de São Sebastião, rezou um terço, colocou um copo de água pra benzer no rádio na oração da manhã e pediu a Deus que iluminasse a cabeça do pobre Pereirinha.
Chegou de surpresa um dia na casa de Pereirinha, só para pegá-lo no flagra:
- O que é isso, Pereirinha? Que bagunça é essa?
- Ganhei na loteria meu irmão! Bilhete premiado!
E saiu para o quarto com as gêmeas de 40 anos, que tinham os cabelos tingidos de loiro descolorado e usavam brincos gigantes azuis comprados na loja do 1,99.
As meninas pareciam estar ali, por, hã, amor ao Pereirinha, esse homem simples que naquela noite abusara no charme, passando creme rinse no cabelo e loção Phebo.
Pereirinha queria arrasar mesmo.
Um comentário:
Olá Lidia, gostei muito da história do Pereirinha. Estava procurando alguma coisa sobre o Vladimir Herzog e encontrei seu blog, vou segui-lo. convido você a visitar o meu blog "jovemguardasempre.blogspot.com". abraços
Roberto Bahy
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