O tapete vermelho da entrada cheirava a mofo. A pouca luz denunciava que o pó sobre os móveis não tem sido tirado há algum tempo. Havia jornais da cidade da semana passada sobre a mesinha de centro, coberta com vidro trincado e cercada por três sofás de plástico verde. Pequenos sofás, encolhidos e miúdos. Pequenos como numa casinha de boneca.
- Está bom esse hotel para você?
Ela não respondeu. Continuou imóvel olhando o movimento fora do prédio iluminado com luz neon no letreiro. A letra H do Hotel estava falha e piscava como aquelas luzinhas de natal.
- Deve estar. Ela não falou nada. Veja dois quartos pra gente.
Entrou, sentiu-se cansada.
O banheiro no final do corredor era um convite para mijar em qualquer lugar do quarto que tinha apenas um vitral que entrava a luz de fora. Ar não entrava e o lugar cheirava a cigarro.
Deu vontade de fumar. Abriu um maço, pegou um, dois, três cigarros.
Bebeu o café barato e frio que estava à disposição no fim do corredor. Enquanto andava ia dando baforadas sensuais no cigarro pelo corredor, lembrando aos outros hóspedes que não era proibido fumar no local.
Voltou para o quarto, tirou os sapatos e pisou no chão sujo, no carpete que parecia ter areia. Esfregou os pés, fechou os olhos e sentiu prazer. Continuou a esfregar os pés no chão, na cama e nos lençóis que cheiravam a trepadas antigas.
Bateu na porta do quarto dele. Descabelada.
- Quer trepar?
Ele sorriu, botou a camisa branca e de cueca foi arrastando-a pelo corredor vermelho. Beijava-lhe a boca, o pescoço, mordia seus lábios tentando comê-la, sentir seu gosto. Apertou suas nádeas, seus seios e ela, num típico charme, o empurrava, tirava a boca de perto da sua enquanto desfilava sensualmente ia pelo corredor longo.
Passaram pela pequena sala escura com sofás verdes. Juvenal, o porteiro daquela noite no hotel sem agá, olhou, observou as sinuosas curvas da mulher que tinha ali uma sensualidade sem limites. Ela andava tocando o homem em suas partes íntimas. Com olhar febril a mulher ia andando para o quarto segurando um cigarro aceso nas mãos e o gosto de café velho na boca.
O homem estava estático encostado na parede amarelada pelo tempo e suja de gordura. Ela ia descendo mordendo-lhe o corpo todo, apertando e comprimindo o peito, a nuca do homem que gemia baixo.
Juvenal lambeu os beiços, tremeu e se masturbou olhando os minutos que cena durou. Depois, temente a Deus, se benzeu e voltou o olhar para a leitura do jornal da semana passada.
Enquanto isso, aquele homem e aquela mulher entraram no quarto e foderam a noite toda, o dia seguinte todo e a noite toda de novo. Entre cigarros e trepadas, ele sentiu que ainda a amava. Puxava-lhe os cabelos, rasgava-lhe a pouca roupa que tinha. A calcinha barata de algodão da mulher perdeu-se entre as fronhas e os lençóis amassados de sexo.
Entre uma trepada e outra, ele a matou sufocada numa tentativa de segurar o gozo. Apertou-lhe o pescoço.
Quando percebeu, bateu na mulher com força para que ela voltasse, mas ela não voltou. Então ele lambeu-lhe pela última vez, tocou os seios arredondados e firmes e fodeu com ela pela última vez.
Acendeu um cigarro e sentou na beirada da cama, esperando o que ia fazer. Pediu um café na portaria. Juvenal levou o café velho e frio e tentou olhar no quarto, mas só conseguiu ver os pés da mulher. Excitou-se.
Naquela noite, na entrada no hotel sem agá em luzes neon, outro casal chegava.
Juvenal tomava o que restou do café velho e frio.
Enquanto a mulher sentava no pequeno sofá verde e lia os jornais antigos, o homem de chapéu preto perguntou:
- Tem quarto vago?
Ainda tinha pó na mesa da sala. Os jornais eram mais antigos ainda.
- Quantos quartos? - perguntou Juvenal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário