quinta-feira, 21 de julho de 2011

whisky

Bebia um gole de whisky. Já não sabia mais se com ou sem gelo que gostava. Era apenas whisky em seu copo e um vazio em sua alma.
A cabeça a mil, o corpo dava voltas em voltas de si mesmo sem sair do lugar. Na vitrola, um jazz riscado.
Acende um cigarro, desses cigarros velhos de filtros.
- Não há solução - resmunga.
Leva o cigarro à boca, dá uma baforada, lentamente coça os olhos com o polegar e o dedo anelar enquanto segura o cigarro com o indicador e o dedo do meio. Fecha os olhos.
Dá mais uma baforada no cigarro e perde de vista o desespero. Olha para o lado, para cima e para baixo. Faz não com a cabeça.
Pega o whisky com o polegar e o dedo anelar. Não tem mais dedo para segura o copo enquanto segura também o cigarro.
- O que você tem para me dizer?
Silêncio.
- Nada? Nada mesmo?
Silêncio.
- Porra Ana! Eu te amei, caralho!
Joga o copo de whisky já vazio no chão. Dá mais uma baforada no cigarro.
- Eu fiz tudo por você, Ana. Tudo. E é assim que você me agradece? Trepando com o menino? Um menino, Ana. Porra! vai pra puta que te pariu! ele tinha só 15 anos, Ana!
Silêncio.
Dá mais uma baforada no cigarro. Joga a bituca no chão e pisa com o chinelo de dedo.
Ana levanta e lentamente vai para o quarto. Andando devagar, ainda com a cabeça erguida. No caminho, para perto de Pedro, acariciando seu peito pega um cigarro no bolso da camisa.
- Acende pra mim?
Dá uma baforada, põe mais whiski no copo.
Pega lentamente. Suga o que sobrou do whiski com a lingua. Olha para o Pedro e diz:
- Me come.
Treparam na sala. Em cima da bituca de cigarro, dos cacos de vidro do copo de whisky que Pedro jogou no chão. Em cima das roupas usadas por Ana pra trepar com o molecote.
Em cima das lembranças e das dores.
Se amaram loucamente.
Terminaram e Ana colocou a camisa do Pedro. Amassada de raiva e suor. Pedro vestiu-se e de cueca foi ao quarto. Voltou com uma nota de 100.
- Toma, pega essa porra por essa trepada de despedida.
- Pedro, o que é isso?
- Pega essa porra, Ana! Vamos! sai da minha casa.
Ana levantou-se, vestiu a calça, arrumou o cabelo com o cigarro pendurado no canto da boca.
- Você vai se arrepender, Pedro.
- Vai logo, porra! Vai se fuder!
Ana deu mais uma baforada e saiu. Bateu a porta, terminou de colocar o tênis no vão do prédio.
Desceu as escadas, os 9 andares.
Pedro ia se arrepender do que fez.

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