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- oi, bom dia!
- bom dia.
- ontem foi o dia do palhaço né? fizeram uma matéria comigo, eu vim buscar o jornal.
- palhaço? que palhaço? está doido?
- ontem foi o dia do palhaço e saiu um material sobre mim, sou palhaço há 20 anos aqui na cidade, queria guardar um exemplar.
- 1,50.
- mas é só um exemplar que eu queria...
- 1,50.
- eu não tenho dinheiro agora.
- então não tem jornal.
- mas será que eu não consigo unzinho só?
- 1,50.
- eu tenho dois reais aqui.
- vou pegar o troco.
- não tem como me ceder mais um?
- mais 1,50.
- mas senhora (a mesma dona janete), eu não tenho esse dinheiro.
- então não tem jornal. nós não podemos ficar dando jornal assim, pra qualquer um.
- mas eu não sou qualquer um, eu sou o palhaço que saiu no jornal!
- 1,50.
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é nessas horas que eu me questiono quanto vale a vida, qual o valor que se dá ao ser humano que está ao nosso lado. ou distante de nós. não é direito alguém humilhar o outro assim. não é. eu sei pq tive professores na faculdade que também me humilhavam ao lerem meu texto quando eu estava aprendendo. isso não é direito. as pessoas estão aprendendo. e a dona janete realmente existe, claro que com outro nome. ela é real. humilhou um amigo meu esses dias. e cobrou do palhaço 1,50. e despediu a moça repetindo várias vezes que ela não tem capacidade de aprender.
a palhaçada é outra aqui. é a falta de humanidade, de olhar e respeitar o outro, ter carinho e atenção. o mundo não vai acabar por causa das catástrofes naturais, o mundo vai acabar porque falta humanidade, falta respeito.
não vou falar que falta amor porque isso, aos olhos de muitos, soaria piegas. mas falta também. amor ao próximo. não nos quesitos "os ensinamentos de jesus". não. não entro em mérito de religião. cada um tem a sua. mas a verdade é que gentileza é algo único, real e verdadeiro. e mais do que a arte, só o respeito, só enxergar o outro vai fazer desse mundo um mundo melhor.
fiquei envergonhada pela situação a qual o palhaço foi submetido. demorei pra engolir. mas ainda não achei normal, nem natural. é social, é construído no dia a dia. no jeito como o pai trata a mãe na frente do filho ou vice-versa. ou como o pai ensina o filho a ser "comedor" ou a mãe ensina a filha a ser "submissa".
nada disso pode ser real. nada. é sobrenatural, e é isso que me assusta. não precisamos ter medo de chuva, de raios de nada. medo pra mim é dos homens e das atitudes desumanas que não se fazem nem com um cachorro.
e por falar nisso, a dona janete tem um cachorro que ela trata como filho e diz: "vem com a mamãe". isso me lembrou em muito a cena do auto da compadecida, "pra cadela, bife na manteiga, pra gente, trabalho".
porém, desculpem-me cadelas, ela não sabe o que diz. eu tb ficaria puta da vida se uma pessoa desse nível chamasse um filhote meu de filho. podem latir, porque talvez ela entenda essa língua. de seres humanos, dona janete não entende.
Um comentário:
eu queria ter uma bomba
um flit paralisante qualquer
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