terça-feira, 1 de novembro de 2011

Amanda

Sentou na varanda em silêncio. Os passos lentos iam da sala pequena até a varanda menor ainda, onde mal cabia uma cadeira. Passos lentos carregados por um chinelo de quarto fofo, macio, para ser usados nos dias de frio.
E naquele dia estava frio. Muito frio. Apesar de lá fora o Sol marcar mais de 27°, o coração de Amanda estava quase gelado. A varanda pouca era silênciosa como o que estava dentro dela, aquele silêncio profundo e dolorido.
Pegou um cobertor, voltou lentamente para a sala, fechou a porta e cortina escura e deitou-se. Olhando para o lado, deitada de lado, Amanda mal tinha força para chorar. Não tinha mais como viver naqueles 35 metros quadrados que 30 anos de trabalho público haviam lhe dado. Era triste ver que tinha sim, jogado a vida fora.
E por perceber isso, só agora, exatamente agora, no final do segundo tempo, Amanda se colocou em um silêncio perturbador. Não ouvia e muito menos atendia o telefone. Sua cabeça doía como se não tivesse dormido há meses e os olhos, com dor, não queriam enxergar o mundo novo que se abria ante seus desejos.
Estava triste, muito triste. Pesava-lhe a alma, os sentimentos, o coração. Não sabia em quem confiar, não tinha mais porque confiar.
Olhou-se no reflexo que a televisão de 45 polegadas exibia de volta. Demorou a levantar do sofá e lentamente colocou o copo vazio que estava no chão sobre a mesa.
A campainha toca e Amanda recusa-se a atender. Era o porteiro com uma carta.
- Para a senhora, dona Amanda.
Sorriu lentamente, pegou a carta e viu que o rementende havia lhe escrito à mão. Vinha da Bélgica.

Olá Amanda, tudo bem?
Espero que esteja tranquila.

Você ainda tem interesse em fazer o intercâmbio? Acabou de abrir uma vaga.



Abraços
Oscar

Amanda gargalhou, rasgou a carta e se voltou para o quarto.
Onde já se viu atrapalhar uma depressão com um convite desses?
Fechou os olhos e chorou. Copiosamente.
Já tinha seus 50 e tantos anos e a vida já tinha passado.

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