terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre os medos

Quando eu tinha lá pelos meus 8 anos, comecei a pensar no tempo como algo um tanto mágico e também impiedoso. Nessa época o meu maior medo era de que meus pais morressem. A ideia da morte para mim estava muito próxima porque eu tinha acabado de perder um tio. Não me lembro de tê-lo visto no caixão ou algo assim, mas me lembro de ter visto minha mãe muito perturbada. Era irmão dela.
Nessa época eu comecei a ter alguns medos muito estranhos, muito próximos de uma realidade que não existia, quer dizer, existia apenas na minha cabeça de oito anos. Tinha medos e manias. Medo de morrer apareceu como um dos pontos mais fortes, seguido como eu disse, de perder meus pais. Depois, medo de ladrão. Eu ficava acordada, só dormia depois que todo mundo dormia e ia conferir todos os trincos da casa que eu morava.
Era uma casa pequena, dessas bem pequenininhas mesmo. De esquina. O muro era baixo e eu costumava esperar o guardinha da rua assoviar pra dormir tranquila. Mas ao menor barulhinho eu acordava. E sentia medo de novo.
Quando a gente é criança e sente medo, o mais fácil é ir para a cama dos pais, acordar chorando, gritar ou algo assim. É simples ter medo quando a gente é criança e é fácil de perder esse medo também se a gente tem o pai e a mãe por perto.
Mas acho que na maioria das vezes eu não me dava o direito de sentir medo. O que eu mais sentia era culpa por sentir medo e uma sensação estranha de que naquela época, por minha mãe ter perdido o meu tio e por não ter mãe, eu ter que cuidar dela. E tinha o meu pai também. E tinha mais dois irmãos menores. Era muita gente para pouco eu. E muito medo em mim.
Mas quando se é criança, os medos estão muito mais próximos do que a gente inventa do que realmente a verdade. E é fácil gritar.
Mas quando a gente cresce, os medos são outros e não temos para onde gritar. O meu processo é um processo deveras silencioso. As minhas dores, amores, frustrações e desesperos são todos guardados quase que a sete chaves. Poucas pessoas sabem o que sinto de verdade. Poucas pessoas conhecem os meus medos.
Não tem cama dos pais para correr, não tem para onde ir e nem para onde gritar. A questão é saber como lidar com esses medos, com o tempo que insiste em ser implacável e com aquele dorzinha amiga que acompanha as pessoas solitárias.
Eu não sei direito o caminho, não ouço mais as vozes que gostaria de ouvir e os medos não são mais medos de crianças, de fantasma, de morte de ladrão. São os medos de adulto. Aqueles medos de viver de verdade.

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