sábado, 23 de janeiro de 2010

Nome Próprio

Assisti o filme "Nome Próprio" de Murilo Salles.
Confesso, assisti há duas semanas. Mas só agora consigo escrever sobre o que esse filme representou pra mim.
Camila quer ser escritora. É apaixonada. Pelo mundo, pela leitura, pela vida, pelo sexo e principalmente pela solidão. Pra crescer, pra nascer, e principalmente pra morrer. Tudo se faz sozinho. Camila também. E se joga no mundo.
Camila é de Brasília e vai para São Paulo com o namorado.
Cena 1:
- Foda-se Camila! Some daqui!
- Seu estúpido, seu burro, vc me ama! Traição não é dar para outro cara é jogar fora nossos sonhos, Felipe!
- Foda-se! Some!
Camila está despida e fumando sentada numa poltrona. Numa interpretação visceral da Leandra Leal, de quem sou fã desde qdo ela era uma tímida adolescente em "Confissões de Adolescente". Qdo a vi em "A ostra e o vento" fiquei de cara. Queria ser amiga da Leandra.
Pois bem, houve vários conflitos entre o filme e Clara Averbouk do blog de quem se inspirou o diretor além dos livros "Máquina de Pinball".
Mas não quero entrar nessa questão, pra mim, o principal é ver que existe uma coisa chamada pele, sangue que não somos feitos de ferro.
Qdo a Camila surta pela primeira vez, ela resolver limpar todo o apartamento e depois vai limpando a escada, as janelas e td do prédio. Ela tá mal pra caramba, desfalecendo e chega o zelador.
- Moça, tudo bem?
- Quem é vc?
- O zelador.
e numa brincadeira:
- zelador, zela - dor....
e desmaia. a dor dela era intensa. a vida tb. e quem poderia zelar por isso? zelar aquela dor defunta....que a gente quer matar, mas que insiste em voltar qdo em qdo.
Camila se joga novamente.
O que ficou para mim foi principalmente uma forte dose de mulher, do que é trair, ser traída, amar e ser amada. se entregar de vdd. coisa que raramente eu consigo fazer. e das vezes que fiz, doeu. doeu que nem uma cicatriz que vai ser eterna. vc não sente mais a dor. mas a história dela está lá.
e eu que amei tão pouco e tão poucos, me vem esse filme e me atira pedras por todos os lados, mostrando o qto somos egoístas e mesquinhos. e o pior, não com os outros, conosco mesmo. Pq se encontrar, ter a gente de volta dói mto. dói mesmo. ainda mais depois de uma separação. e a separação às vezes, na maioria das vezes, não é do outro, é de nós mesmos e das expectativas que criamos na nossa própria cabeça. o outro geralmente não tem culpa. mas qdo tem é que dói.
- escuta, seu imbecil, pq vc fez isso? tá pensando que tá lidando com algo que vc usa e joga fora?
qtas vezes eu quis dizer isso. e não disse.
mas a camila disse e forte.
- o que a gente viveu não foi real?
- foi camila, mas acabou.
- como acabou? aqueles três dias no apartamento, juras de amor e depois vc sem me ligar uma semana, sem dar notícia, vc tá pensando o que dessa sua vidinha ridícula?
- camila, me escuta...
- me escuta vc: não quero nada de vc. nada. vai lá com a sua namoradinha, seus amigos, só quero uma coisa de volta, uma única coisinha:
- o quê?
- a confiança que eu tinha em mim. me devolve.
e bate a porta e encontra com ela mesma. de volta. ao espaço interno de solidão, que é onde a gente cresce. onde a gente se vê.
eu tb quero todas as minhas cicatrizes, cabelos brancos que já surgem e minhas rugas. são parte da minha história. da minha vida.
"Nome Próprio" é um filme forte, denso. Solitário. talvez pra assistir sozinho. ou pra ver com alguém que vc sabe que o silêncio não vai incomodar. pq a gente fica em silêncio, ouvindo lentamente cada espaço vazio do apartamento. cada palavra digitada no blog que vem em silêncio na tela, cada sonho. cada cigarro fumado.
como dizia leminski: amar é um elo entre o azul e o amarelo. e nesse caso, as cores nos permitem amar mais ainda. quem a gente é. e o que o outro nos fez para crescermos. sem toda a minha história eu não seria quem eu sou hoje.
Um dos filmes mais reflexivos que eu já vi. E olha, não me digam: ah, tá. mas é uma historinha de uma menina que quer se apaixonar, dá pra um monte de cara e blá blá blá. não.
"Nome Próprio" supera tudo isso. é mais. é a história de alguém em busca de si mesmo, de ter onde vazar tanto pensamento, tanta ideia e tanta paixão. Existem mtas Camilas pelo mundo. Muitas. Ou um pedacinho dela em cada uma de nós....

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Paródias

Puxa, achei um site mto bacana! traz as várias paródias clássicas feitas pelo mestre Roberto Gomes Bolaños, o eterno Chaves/Chapolin! http://chbr.manchete.net/mundo/clubedochaves/parodias.htm
os clássicos nunca morrem! me lembro de esses tempos mesmo procurar qual DVD do Chaves haveria isso...que legal!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fellini em tela grande

ontem assisti "la dolce vita" (1960) no clube de cinema. estou encantanda. pra começar, fellini não deixa por menos e faz um filme longo, cheio de histórias que dariam novos filmes. marcelo mastroianni lindo e não menos bom ator. (pq vcs sabem né? tem diferença tb...)
a veia jornalística de celebridade, a inocência apaixonante de Sylvia, o vazio de Marcello, as loucuras por amor, o encontro com o pai, que depois fica doente. enfim, dariam novos filmes dentro desse clássico.
claro que "cidade das mulheres" (1980) tem mto de "la dolce vita", claro. só agora me dei conta. "cidade das mulheres" eu assisti em araraquara, no clube de cinema do sesc de lá. divino tb.
mas o olhar vazio de marcello, a busca por algo a mais, se jogando na vida, as insanidades doidas das crianças que viam "madonna", o ciúme, o amor, a tragédia.
Fellini é genial. não dá pra classificar em menos do que espetacular.
durante o filme fiquei atenta tb aos comentários que se faziam na sala. (quem me conhece sabe que eu adoro ouvir conversa alheia...rs). e todos gostaram. até certa parte. deram risada, acharam interessante. mas o tempo é outro. e as pessoas não têm mais paciência pra ver um filme como esse e a sala esvazio antes das duas horas e cinquenta de filme.
pra assistir fellini tem que se dispor. tem que estar com vontade e saber o que vai enfrentar. não adianta estourar pipoca nem levar refri. fellini a gente não engole tão fácil.
divino.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Logan

Pois bem, pessoal. Eis que vem a vida e nos toma de assalto. Desde agosto do ano passado, eu entrei num programinha diferente de internet, um tal de twitter. puxa, que dificuldade para me acostumar no começo, que diferente. E para que serve isso?
O Serginho me disse:
- Lídia, vai ser bacana pra divulgar seu trabalho e conhecer novas pessoas. Vamos fazer seu twitter.
E lá fomos nós. O Serginho, meu pareceiro, sempre me dando força.
Fiz o twitter e pronto. E blá blá blá.
Pessoas novas, twittadas e etc. Pô, uma bela ferramenta, eu pensei.
E então, não sei como, talvez pelo Quarto Mundo ou pelo meu contato com os quadrinhos, apareceu um cara, o Flávio Soarez, no meu twitter. Na vdd eu não sei se eu o adicionei ou se ele me adicionou. O lance foi que eu fui vendo as tirinhas dele "A Vida com Logan" e fui gostando bastante.
- Puxa, mas que material bacana! Tem tanto de Calvin & Haroldo nas tirinhas, é tão rico de elementos, tão interessante...
E fui conhecendo mais e retuwittando (é assim que escreve?) as tirinhas.
Pois bem. até que um dia resolvi ler o blog inteiro do flávio. e qual não foi a minha surpresa? O Logan é real. E mais, portador da Síndrome de Down.
O blog: http://www.avidacomlogan.com.br/ é lindo e cheio de informações sobre saúde, cultura e rico em tirinhas. A vida de um pai com um filho.
Brilho. Ideia.
- Pauta: Editor, o que vc acha de fazermos uma matéria com um cara de sampa que blá blá blá.
- Puxa vida, que interessante. Faz sim! (primeira vez que ouvi isso dele...)
Brilho.
Escrevi no twitter que queria falar com o Flávio, em 140 caracteres. Ele mandou uma msg com os emails dele. Escrevi. com vários caracteres. Ele me respondeu. com mais e mais caracteres. Liguei pra ele ontem.
- Flávio, é a Lídia, do jornal da manhã.
- Oi, Lídia!
Eu não sei, mas acho que o que um amigo meu, o Danilo, me falou um dia é vdd: qdo a gente fala com alguém no telefone, mesmo que não estamos vendo a pessoa, dá pra saber se ela está sorrindo ou não.
Eu sorria de um lado e o Flávio de outro. Tenho certeza disso.
E a conversa rendeu trilhões de caracteres. Ficamos no telefone no mínimo uma hora. E enquanto falávamos, eu ouvia o Logan cantando, brincando e rindo.
Interessante vc ouvir um personagem que vc gosta....
E a conversa engrenou. O Flávio e eu conversamos mto. e de repente:
- Oi.
- Logan?
silêncio.
- Papá.
era a hora da janta do loirinho. me emocionei. eu falei com ele...
Essa matéria vai ficar mais do que boa....
Por favor, leiam o "sobre" no blog do Flávio. Vocês vão entender do que eu estou falando...http://www.avidacomlogan.com.br/index.php/sobre/

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Os bastidores do cinema

eu fiz isso ontem...
Um dos meus filmes preferidos, Cinema Paradiso (1988 - Giuseppe Tornatore), voltou ao meu pensamento esses dias. Estive conversando com o Mauro que é um dos responsáveis pela distribuição dos filmes nas salas de cinema do shopping. Discutimos sobre vários assuntos, desde a questão "filme do Lula" até a importância de se ver e conhecer Chaplin.
Enfim que foi produtivo. Ao sair, antes de ir embora eu perguntei:
- Mauro, tenho curiosidade em conhecer como se faz projeção de cinema. Posso vir conhecer um dia? - Quando vc quiser. Brilho. Cheguei no jornal com uma ideia fixa: fazer uma pauta sobre as modernas projeções de cinema. O hoje versus o ontem. Como funciona? E lá fui eu. - Alô, Mauro? É a Lídia de novo. Tudo bem? Pode falar um minutinho? - Oi Lídia, claro. blá blá blá. - Só marcar. Venha aqui conhecer, aliás, acho que vc vai gostar mto já que o João, o nosso projetista que vc conhece, era o operador cinematográfico (que é como chama quem passa o filme) do Cine Peduti, há mais de 25 anos. Tem história pra contar. Briho de novo. Pauta marcada, horário agendado. - Oi João! - Oi Lídia, quer falar com o Mauro? - Também. Mas principalmente com vc. - Comigo? - É querido, já to sabendo da sua história de vida. Projetista então, hã? Como escondeu isso de mim? Ele riu gostoso. - Vou te alugar hoje. Entramos nas projeções, era 17 horas. Um mundo à parte. Mesmo. Rolos antigos e atuais, histórias, histórias e histórias. Como funciona um filme. A parte do som. Rebubinando. As latas novas. As salas de cinema vistas de cima. Equipamentos imensos. Os equipamentos antigos no coração. As lâmpadas lumiére. O trailler em película. Uma bobina imensa de filme. História, história e história. - Lídia, tem o Carlitos que foi operador cinematográfico desde o Cine Marília. - Não creio. - Quer falar com ele? - Pra ontem, João. Acho que essa matéria vai render horrores. Estou encantada. Assim que ficar pronta, posto no meu outro blog: http://www.culturajm.blogspot.com/

Liniers, sempre

E não é que é verdade? ;D

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Jornalismos

Quando eu estava na faculdade de jornalismo (há algum tempinho atrás) entrei em uma tremenda crise. Olhei para mim, para os meus trabalhos, os professores e pensei: "caraca, é isso que vou fazer pelo resto da vida?" e chorei compulsivamente.
Foi nesse momento que parei para pensar o que era o meu curso, o que estava fazendo e o que me esperava no futuro. Sempre fui muito (um horror isso) caxias. De estudar demais (o que nem sempre me levou pra bons caminhos, mas com certeza pra alguns caminhos seguros) e na época da crise vi muitos filmes, li mtos livros, e fui mto ao teatro. me lembro que me afundei no Sesc.
Me questionei o que eu estava fazendo da minha vida. Foi quando a minha mãe me deu um papelzinho escrito: "filha, dá uma olhada nesse escritor, Gay Talese, parece ser bom", escrito num post-it amarelo.
Colei na minha pasta e depois não vi mais. Procurei um pouco sobre ele, mas não me interessei muito na época. Acabei a faculdade, fiz pós, fiz mestrado, dou aulas e agora trabalho num jornal. Na área de cultura. Que é onde me encontrei. E também me perdi, pq cultura é algo viciante entende? A gente quer contar histórias, histórias interessantes de pessoas que a gente respeita.
Mas não era isso que eu ia falar. Queria dizer que acho que o meu salvou da minha crise foi ter estudado. Foi ter aprendido culturalmente o mundo. Conhecido coisas novas, ter feito pós e ter feito mestrado. Ter tido professores como a Karina Janz, o Rozinaldo Miani e o Marcelo Bulhões, na faculdade, na pós e no mestrado respectivamente, que me mostraram que o mundo é bem maior, cheio de possibilidades culturais, cinematográficas e literárias.
Ontem foi reprisada a entrevista com o Gay Talese (sim, o mesmo que minha mãe havia falado) na TV Cultura, no programa Roda Vida. E ao ouvir o mestre falando eu ia concordando, lentamente com a cabeça:
"jornalismo se faz na rua, se vai no fato" (joão do rio, apresentado a mim pelo marcelo)
- claro, claro!
"um bom editor te mostra um caminho, te acende uma luz e te faz crescer"
- é mesmo!
"eu busco observar as pessoas, saber seus gestos, seus comportamentos na hora de falar. entrevistar alguém não é apenas ouvir o que a pessoa fala, é vê-la ali na sua frente, gesticulando"
- eu também penso assim, talese.
eu não sei, mas há muitos tipos de jornalismo, de jornalistas. de formas de se pensar e observar o mundo e principalmente de exteriorizá-lo. mas através da cultura, para mim, fica bem mais prazeroso.
"eu só gosto de entrevistar e de fazer matérias com pessoas com que admiro".
eu também. e apesar das crises, é isso que me motiva.
trabalhar no que a gente gosta e acredita, é algo divino. mesmo que não seja pra sempre, nada vai me tirar a capacidade de observar, recriar, criar e de fazer jornalismo.
"para ser um bom jornalista é preciso: 1- curiosidade, 2 -paciência e 3 - apurar bem os dados e número 4, escrever. Sempre acreditei que os jornalistas deveriam escrever tão bem quanto os autores de ficção. O jornalismo pode ser tão bem feito quanto uma história de um contista, ou um romancista. A escrita jornalística deve ser como um romance, exceto que cada palavra é verdade. As situações podem ser descritivas, anedóticas, revelar um conflito, mas têm que ser verdadeiras. Como jornalista, você é um contador de histórias."
;D
ps: Talese é filho de um alfaiate. citando o Benett: "Assim como Groucho Marx e Gay Talese, Scorsese também era filho de alfaiate. Ser filho de alfaiate é meio caminho andado para ser uma pessoa talentosa. Vou tentar convencer meu pai a mudar de profissão... " rs.
Meu pai não é alfaiate. Estou ainda no caminho das pedras. Mas acho que um dia chego lá.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade