Quando eu estava na faculdade de jornalismo (há algum tempinho atrás) entrei em uma tremenda crise. Olhei para mim, para os meus trabalhos, os professores e pensei: "caraca, é isso que vou fazer pelo resto da vida?" e chorei compulsivamente.
Foi nesse momento que parei para pensar o que era o meu curso, o que estava fazendo e o que me esperava no futuro. Sempre fui muito (um horror isso) caxias. De estudar demais (o que nem sempre me levou pra bons caminhos, mas com certeza pra alguns caminhos seguros) e na época da crise vi muitos filmes, li mtos livros, e fui mto ao teatro. me lembro que me afundei no Sesc.
Me questionei o que eu estava fazendo da minha vida. Foi quando a minha mãe me deu um papelzinho escrito: "filha, dá uma olhada nesse escritor, Gay Talese, parece ser bom", escrito num post-it amarelo.
Colei na minha pasta e depois não vi mais. Procurei um pouco sobre ele, mas não me interessei muito na época. Acabei a faculdade, fiz pós, fiz mestrado, dou aulas e agora trabalho num jornal. Na área de cultura. Que é onde me encontrei. E também me perdi, pq cultura é algo viciante entende? A gente quer contar histórias, histórias interessantes de pessoas que a gente respeita.
Mas não era isso que eu ia falar. Queria dizer que acho que o meu salvou da minha crise foi ter estudado. Foi ter aprendido culturalmente o mundo. Conhecido coisas novas, ter feito pós e ter feito mestrado. Ter tido professores como a Karina Janz, o Rozinaldo Miani e o Marcelo Bulhões, na faculdade, na pós e no mestrado respectivamente, que me mostraram que o mundo é bem maior, cheio de possibilidades culturais, cinematográficas e literárias.
Ontem foi reprisada a entrevista com o Gay Talese (sim, o mesmo que minha mãe havia falado) na TV Cultura, no programa Roda Vida. E ao ouvir o mestre falando eu ia concordando, lentamente com a cabeça:
"jornalismo se faz na rua, se vai no fato" (joão do rio, apresentado a mim pelo marcelo)
- claro, claro!
"um bom editor te mostra um caminho, te acende uma luz e te faz crescer"
- é mesmo!
"eu busco observar as pessoas, saber seus gestos, seus comportamentos na hora de falar. entrevistar alguém não é apenas ouvir o que a pessoa fala, é vê-la ali na sua frente, gesticulando"
- eu também penso assim, talese.
eu não sei, mas há muitos tipos de jornalismo, de jornalistas. de formas de se pensar e observar o mundo e principalmente de exteriorizá-lo. mas através da cultura, para mim, fica bem mais prazeroso.
"eu só gosto de entrevistar e de fazer matérias com pessoas com que admiro".
eu também. e apesar das crises, é isso que me motiva.
trabalhar no que a gente gosta e acredita, é algo divino. mesmo que não seja pra sempre, nada vai me tirar a capacidade de observar, recriar, criar e de fazer jornalismo.
"para ser um bom jornalista é preciso: 1- curiosidade, 2 -paciência e 3 - apurar bem os dados e número 4, escrever. Sempre acreditei que os jornalistas deveriam escrever tão bem quanto os autores de ficção. O jornalismo pode ser tão bem feito quanto uma história de um contista, ou um romancista. A escrita jornalística deve ser como um romance, exceto que cada palavra é verdade. As situações podem ser descritivas, anedóticas, revelar um conflito, mas têm que ser verdadeiras. Como jornalista, você é um contador de histórias."
;D
ps: Talese é filho de um alfaiate. citando o Benett: "Assim como Groucho Marx e Gay Talese, Scorsese também era filho de alfaiate. Ser filho de alfaiate é meio caminho andado para ser uma pessoa talentosa. Vou tentar convencer meu pai a mudar de profissão... " rs.
Meu pai não é alfaiate. Estou ainda no caminho das pedras. Mas acho que um dia chego lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário