quarta-feira, 8 de julho de 2009

Dos bombons de banana e bicicleta

Éramos em mais ou menos cinco pessoas em casa. Eu, a maiorzinha, tinha sete anos. O resto vinha em escadinha. Morávamos numa casa pequena, apenas dois quartos, um banheiro, sala e cozinha. Era tudo muito simples, mas nunca nos faltou nada. Quanto eu tinha essa idade, um dia disse para minha mãe que queria chamar os amiguinhos e fazer um amigo secreto. Nessa época, papai já trabalhava muito, mas o salário não era alto. Tínhamos pouca coisa, nada de luxo. Mas sempre tinha história pra contar na rede e gibi no sebo aos domingo. Era muito bom. Então que decidi, com 7 anos fazer o amigo secreto. Mamãe pegou a bicicleta, que era o que tínhamos na época para transporte de todos em casa, e foi comprar algumas coisas no mercado. E a festinha começou. Mamãe chegou com duas sacolas penduradas no guidão da bicicleta, uma com suco em pó e outra com milho de pipoca. Era só isso que dava pra festinha. E então que os amiguinhos começaram a chegar. Meus irmãos eram quase bebês e ficavam pra lá e pra cá sem saber o que estava acontecendo. Ganhei uma caixa de bombons. A gente quase nunca tinha caixa de bombons em casa. não era justo eu, com sete anos, dois irmãos, sem carro e vendo o esforço dos meus pais, comer a caixa de bombons sozinha. mas era o que eu queria fazer. era simplesmente tudo ver uma caixa de bombons inteirinha, pra mim. Mas no jantar abri a caixa. Na mesa. O correto seria dividir com todos. Mamãe pegou um. Não me lembro qual. Meus irmãos nem sabiam o que era aquilo direito. Mas o meu pai disse que não gostava de bombom. Não acreditei naquilo. Como alguém pode não gostar de bombom? insisti. ele pegou um de banana. o mais ruinzinho da caixa. E disse que adorava aquele, que o de banana e o de ameixa eram os melhores. Nunca entendi isso. para mim, eram os piores. até que um dia, depois de muitos anos o vi comendo um bombom sonho de valsa, se deliciando com o doce. Mas, como assim? não eram os de banana os preferidos? sim, na época eram. daí sobrariam os de sonho de valsa pra mim. se alguma coisa ficou disso é que mais do que presentes de amigos secretos, o que valeu foi ter o presente de haver convivido com o verdadeiro valor real das coisas: o amor, a generosidade. talvez seja isso que faça com que seres humanos se deparem que mais do que ganhar milhões e ter um corpo perfeito o mais importante mesmo é ser ser humano. ser verdadeiro. e desse dia em diante soube que os bombons podem ter o sabor que for, mas o mais gostoso vai ser o sabor dos olhos do outro, de quem está devorando não apenas um bombom, mas um amor incondicional.

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