sábado, 29 de novembro de 2008

Henfil

Texto publicado no fanzine Justiça Eterna Zine (http://www.fotolog.com/justicaeterna) n° 27.
HENFIL E SEU TRAÇO CIRÚRGICO "Quando eu faço um desenho, eu não tenho a intenção que as pessoas riam. A intenção é de abrir, e de tirar o escuro das coisas" Depois de alguns textos sobre criações fantásticas dos quadrinhos no mundo como o Calvin, a Mafalda e o Charlie Brown, chegou a hora de falar de um criador (é, ele foi mais do que um cartunista ou um chargista; ele ouvia o que não se falava): Henrique de Sousa Filho, Henfil, para os mais íntimos. Muuuito prazer. Aliás, um prazer preciso, funcional, em um traço quase que invisível, mas que de tão profundo, deixa marcas sobre quem o lê. Henfil fez um tanto assim de gente pensar, através de desenhos sólidos, mas ao mesmo tempo, leves, que se desmanchavam em traços gargalhados de ironia, sarcasmo e acidez. Henfil nasceu em Minas no ano de 1944. Bom, talvez Henfil não tenha nascido. Acho mesmo é que ele brotou da voz de um povo humilhado, massacrado e redimido de várias partes do Brasil. E como é costume dos grandes gênios, Henfil partiu cedo, em 1988, com apenas 43 anos, nos deixando órfãos de uma visão humorística acerca de um Brasil que ainda não mudou. Mas essa partida breve não o impediu de ser intenso, de ser profundo, de criar personagens com uma velocidade espantosa, com a mesma gana que o cara tinha de viver. É, porque viver para ele é que era urgente. O resto não importava tanto. Henfil, assim como seu irmão, Betinho (é, o cara genial da Campanha da Cidadania e da Ação contra a fome) era hemofílico. E em uma das transfusões de sangue, recebeu também o vírus HIV. Mas isso não tirou dele a vontade de existir no mundo, de deixar sua marca, ou melhor, o seu traço. E o Henfil era tão inteligente que conseguiu subverter todo um contexto de ditadura no período em que viveu. Na verdade, não o contexto em si, mas fazia dos seus traços a arma para lutar numa guerrilha quase solitária em torno dos direitos do povo, na busca por uma suposta democracia que podia demorar, mas que não tardaria a chegar. Deu vida a personagens intrigantes como “Os Fradinhos” (Frandins, no sotaque lindamente mineiro), uma dupla impossível formada pela acidez do “Baixim” e pela bondade ingênua do “Cumprido”, que juntos colocavam à prova o riso contido do leitor. Também havia o “trio da caatinga” que criticava o Sul Maravilha, formado pela Graúna, Bode Orelana e o Capitão Zeferino. Sem contar é claro, o personagem típico do contexto da ditadura, aquele cara paranóico, Ubaldo, que de tão preocupado, tornava-se engraçado, numa caricatura invertida da realidade brasileira da época. Ubaldo foi criado por Henfil depois da morte de Wladimir Herzog, em 1975, com o jornalista Tárik de Souza, mas só estreou em 1976, devido, olha só a ironia, à paranóia da época. Henfil chacoalhou o país com as cartas que ele escrevia para a sua mãe, Dona Maria, no Pasquim e depois, em 1976, na revista Isto É, onde tinha liberdade para usar a mãe, através de uma literatura bem rasgada, para falar dos problemas do Brasil. Um gênio esse cara. Uma pena que Henfil não conseguiu viver tempo suficiente para ver a democracia. Mas ele eternizou-se em seu desenho, tão veloz quanto seu pensamento, e que, creio eu, não eram apenas charges, mas sim cartuns de um passado político ainda bem atual aos nossos olhos. Acho que no tinteiro que ele usava tinha sangue. E voz. - Ah, Lídia, imagina, eu nem era tanto assim.... - Você ainda é Henfil... - Sério? Então vou escrever uma carta para minha mãe falando sobre isso... - Pois é, pra você ver... - É, mas o que eu to vendo é uma esperança...igual a Graúna via quando a democracia estava próxima... - Esperança? Do que, Henfil? - De que o pão de queijo já assou... e de que ainda há muito a ser feito pelo Brasil...

Relacionamentos

um textinho do Jabor muito bacana, que faz a gente pensar...
Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa: 'Ah,terminei o namoro...' 'Nossa, quanto tempo?' 'Cinco anos... Mas não deu certo...acabou' 'É não deu...' Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos esta coisa completa. Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é malhada, mas não é sensível. Tudo, nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele. Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona... Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate..se joga... senão bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama! Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós.
Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói! Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar... Ou se apaixonar... Ou se culpar.
Enfim... quem disse que ser adulto é fácil?
Relacionamento não é tão complicado quanto pensamos, a gente é que complica demais...por insegurança, medo, mil coisas.... a grande questão é pensarmos em relacionamento num mundo tão efêmero quanto o mundo de hoje, onde as pessoas também se consomem e aos poucos se esvaem, vão longe, buscam a si mesmas....
Deu certo sim. Mas acabou. E pronto. Sem lamentos; apenas as boas lembranças, as ruins o tempo se encarrega de levar pro lugar mais distante do nosso coração.
Bom mesmo é se apaixonar. Nem que seja por um dia, uma hora, um momento...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

THE PEANUTS (Charlie Brown)

é, agora os textos...Charlie Brown, com sua cabeça grande e questionamentos intensos, é mais do que uma personagem, é um amigo nosso...
*texto publicado originalmente no fanzine Justiça Eterna Zine n° 26 (http://www.fotolog.com/justicaeterna/23567478)
MEU AMIGO CHARLIE BROWN
Não. Ele não é um ser humano e não existe em carne e osso, mas é meu amigo. Imaginário? Também não. Charlie Brown existe, sim. Só que em um mundo paralelo, onde a humanidade e seus conflitos são retratados pela personalidade de crianças passíveis de análise para qualquer psicólogo... Mas espere aí: como assim? Charlie Brown não é um personagem de história em quadrinhos? Então ele não existe em um mundo paralelo e sim no mundo da arte seqüencial... Para alguns sim. Para outros, ele é o melhor amigo, o irmão, o primo, o colega de sala. Ou um espelho dos fatos que acontecem com qualquer um no nosso dia-a-dia. Charlie Brown é um retrato de nós mesmos em um menininho de cabeça grande e redonda, de poucas risadas e de olhar doce. Ele está sempre aberto a um mundo de novas possibilidades, mesmo sendo difícil para ele enfrentar esse mundo... O jeito de ser de Charlie Brown mostra que apesar da timidez explícita há uma curiosidade pulsante da realidade que o cerca. O garotinho fracassado que não consegue arrumar uma namorada sequer nem jogar bem na liga de beisebol carrega consigo algumas das verdades que mais nos atormentam: o medo de enfrentar a própria vida. Medo, ansiedade, agonia e algumas vezes um riso largo de crença num mundo melhor. Isso apesar do domínio e das humilhações femininas representadas pela personagem Lucy e das tiradas (mentais) do cão Snoopy. Não tem como não conhecer e se apaixonar por Charlie Brown e toda a sua turma. E veja bem, não é qualquer Charlie. É o Charlie Brown. Com nome e sobrenome. Talvez se deva isso à necessidade do próprio personagem de ter uma identidade, de se afirmar como alguém no mundo. Charlie Brown aparece sempre como aquela pessoa que ainda está buscando conhecer a si próprio... Ao ver aquela cara redonda e aquele olhar marcado por dúvidas lancinantes do dia-a-dia em Charlie Brown, imediatamente nos remetemos a nós mesmo e aquele desespero que vez por outra nos marca em anseios: devo chegar naquela menina que gosto? Será que sei jogar alguma coisa? O que devo fazer hoje? Será que darei conta desse trabalho? Dúvidas que atormentam ou já fizeram parte da minha vida, da sua vida e da vida do seu amigo.... O responsável por “cometer” um quadrinho tão bacana e rico de elementos textuais, intertextuais e psicológicos é Charlie Schulz, o próprio alter-ego de Charlie Brown e de toda a turma. Schulz, como parece ser a sina de vários bons desenhistas, era tímido e se sentia também um fracassado. Massacrado por uma mãe severa e pela primeira esposa, representadas na personagem Lucy, Schulz deixou a imaginação correr solta e criou The Peanuts publicando sua primeira tira no jornal St. Paul Press em outubro de 1950. Tirinhas inéditas foram publicada até o ano 2000, antes de Schulz falecer. No ápice de sua publicação, Charlie Brown e sua turma apareciam em mais de 2600 jornais, com um número de leitores estimado em 355 milhões em 75 países. As tirinhas foram publicadas em mais de 40 línguas. Números impressionantes, não? Que confirmam a importância dessas personagens na história das histórias em quadrinhos. Uma vez, Schulz disse em uma entrevista; "os ‘Peanuts’ são a minha vida inteira. Todos os dias lhes dei um pouco de mim”. E não teria como ser diferente. Em toda obra de arte encontramos sempre um pouco do autor... No Brasil, os Peanuts ficaram conhecidos como Minduim, apelido dado a Charlie Brown ou simplesmente “as tirinhas do Snoopy”. Extremamente psicólogico, apesar de Schulz não se referir a isso de maneira explícita, as tirinhas de Minduim alcançaram o mundo e conquistaram gerações de fãs. Bill Waterson, criador de Calvin & Haroldo, se diz um apaixonado por Charlie Brown e toda a sua turma. E não é para menos, tendo em vista que os filhos de Schulz possuem personalidades tão reais que muitas vezes fica difícil se distanciar dos quadrinhos e não percebê-los como amigos próximos. Entre as personagens da série criada por Schulz temos o “bom e velho” Charlie Brown, sempre de cabeça baixa e as mãos no bolso e Sally, a irmã mais nova de Charlie Brown que ele tenta deseperadamente compreender e que vez por outra o humilha também. Sally é apaixonada por Linus, uma criança que tem boas sacadas filosóficas. Linus Van Pelt apresenta nas tirinhas um paradoxo: tem uma filosofia de vida surpreendente, conhece muitas coisas apesar da pouca idade, mas vive grudado em um cobertor azul chupando o dedo. O que apresenta um perfil psicológico um tanto quanto ainda debilitado. Linus é o irmão mais novo da representação feminina da repressão: Lucy, a personagem mais mal humorada das séries das HQs. Mandona e chata, Lucy vive se metendo na vida de todos. Dá conselhos para os amigos, mas na verdade ninguém os pediu. Os conselhos dados a Charlie Brown são cobrados na barraquinha de psiquiatria montada por Lucy porque para o Charlie Brown nada é de graça. E ele sabe que a vida tem lá as suas dificuldades... Lucy incurtiu na cabeça do pobre Charlie Brown que ele precisa de conselhos médicos e tratamento psicológico... tsc, tsc. E ele acreditou. Lucy tem uma paixãozinha secreta por Schroeder, o artista da turma. Talvez a inteligência seja mesmo algo afrodisíaco... Ou seja, um dos seus pontos fracos é o amor. (Mas de quem não é, não é mesmo?) Schroeder é um músico que vive em um mundinho particular. De lá, tira melodias maravilhosas de um pianinho de brinquedo tentando em vão não interagir com um mundo real que lhe é apresentado toda vez que Lucy chega lhe pedindo em casamento... Na visão de alguns filósofos e pensadores, Schroeder pode ser considerado um artista que se refugiou na arte para não ter que fazer contato com a realidade, pois Schroeder tem uma personalidade um tanto quanto fechada em si mesmo... A sua mais forte relação com o mundo se dá apenas pela paixão que ele sente por Bethoveen. Há ainda outros personagens como a Patty Pimentinha e a Marcie que são grandes amigas e o Woodstock, um passarinho amarelo amigo de Snoopy que tem até um dialeto próprio grafado em pontos de exclamação. Esse dialeto só é entendido por Snoopy, que conversa mentalmente com Woodstock. Temos qui um dos pontos altos da HQ de Schulz: o cão Snoopy, sua relação com o mundo e com o seu dono Charlie Brown. Se traçarmos um paralelo entre Charlie Brown e Snoopy temos duas personagens com características bem distintas: uma extremamente existencialista, na busca constante por si mesma (Charlie Brown) e outra completamente despida de consciência, buscando viver apenas o hoje da maneira mais interessante possível (Snoopy). Snoopy não sabe o nome de Charlie Brown, só o reconhece por ser “o garoto de cabeça redonda que leva comida para ele”. Snoopy representa a fantasia que “deveria” estar presente nas personagens que permeiam a tirinha e nos próprios seres humanos. Na verdade, transformamos essa fantasia em trabalho e em falta de tempo e nos esquecemos, muitas vezes, de viver plenamente, ou até mesmo de sonhar. Com a possibilidade de ser quem quiser, Snoopy uma hora é escritor com sua própria máquina de escrever, da qual tira textos maravilhosos de cima de sua casinha de cachorro. Outra hora é um aviador da segunda guerra fazendo referência direta aos fatos acontecidos com o próprio Schulz que teve que lutar na Segunda Guerra Mundial. Em entrevista, diz o desenhista que ter que ir pra guerra foi bom, pois voltou com menos medo e mais expansivo. Veja que ele até casou depois que voltou da guerra. Uma dádiva para quem se sentia um fracassado... Snoopy tem em si a possibilidade da existência por completo, já que é um cão e não tem preocupação humana, apesar de agir como humano muitas vezes e em algumas tirinhas até mesmo andar sobre duas pernas. Snoopy não fala, mas pensa. E muito. Muitas vezes parece pensar alto, o que deixa Lucy extremamente irritada. Snoopy vive o presente sem se cobrar de ser alguém melhor ou ter crises existenciais. O que é espantoso, ou melhor, paradoxal para um cachorro praticamente humano.... Já Charlie Brown ainda não sabe o que está fazendo no mundo. E talvez seja isso o mais encantador na personagem. Constantemente em busca de si mesmo, se perde em dúvidas e pensamentos, mas não deixa de ser criança e algumas vezes ter espasmos de alegria ao sentir paixão por uma garota ruiva ou quando consegue fazer algo superando suas próprias expectativas. Devemos, entretanto, refletir sobre outras personagens do mundo das histórias em quadrinhos para compreendermos a dinâmica presente em “The Peanusts”: Calvin é aquela criança ativa, cheia de imaginação que troca altas idéias com seu tigre de pelúcia, o Haroldo, sendo que só ele, o próprio Calvin, vê o tigre como um ser vivo. Mafalda é uma socióloga mirim. Raramente a vemos brincando como uma criança qualquer por que ela está sempre preocupada com a situação do mundo, hora é uma apocalíptica hora é uma integrada aos fatos da realidade. Charlie Brown mistura as duas personalidades anteriores em uma criança que parece ter dentro de si, um adulto. Não por suas idéias, mas por suas neuroses diante do mundo e diante de si mesmo. Ele brinca tanto quanto Calvin, mas é reflexivo também, assim como Mafalda. Imagina se pudéssemos ter os três juntos em uma mesma história? Iria ser surreal... Pois bem, voltemos. “The Peanuts” trazem em si um contexto psicológico humano de maneira tão explícita, que nos incomoda. Vemos-nos reconhecidos nos atos e ações das personagens e nos apaixonamos por eles, ou melhor, por nós mesmos, pelo nosso espelho, mas não conseguimos nos rever. Através da turma do Minduim descobrimos realmente quem somos. E mesmo assim, não conseguimos mudar. Isso é monstruoso. Considerações à parte sobre quem é e como se portam os “The Peanuts” no mundo das histórias em quadrinhos e no contexto psicológico, temos que admitir que todos eles são apaixonantes e cativantes. Charlie Brown está na sua infância e também nos espelhos espalhados pela sua casa. E ele é um tanto quanto tímido e com certeza vai olhar você desconfiado na primeira vez que vocês se encontrarem, achando que você vai sacaneá-lo de alguma forma. Mas depois se torna um grande amigo... Charlie Brown é amigo meu. Quer conhecê-lo? Espere um pouco que vou ligar para ele e vocês já conversam.... - Alô? - Oi, o Charlie Brown está? - Está, quem é? - É a Lídia.... - Charlie Broooooooown, telefone! Ele já vem atender você. Ele está demorando porque está deitado no sofá, refletindo sobre as coisas que a Lucy disse pra ele hoje. Aliás, eu sou a Sally, irmã dele....quer conversar comigo? Surpreendentes, não?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CALVIN E HAROLDO

Achei hoje uma postagem sobre esses personagens maravilhosos no blog "Topismos" (rá, adorei também) do Denis Pacheco (http://topismos.blogspot.com/2008/11/top-10-tirinhas-do-calvin-que-me.html)
Uma idéia muito bacana com as 10 melhores tirinhas (na opinião do autor) sobre a dupla mais bacana dos quadrinhos...
vale à pena ler...
ah, e aproveito pra colocar um texto meu publica no fanzine Justiça Eterna n° 24 (http://www.fotolog.com/justicaeterna/19524572) sobre o Calvin e o Haroldo....
aproveitem! e leiam também o post do Denis...
Calvin e Haroldo: Endoidando os quadrinhos “Caaaaaaaaalllllllllllllviinnnnnnnnnn!!”
Esse grito é da mãe do Calvin, chamando a pequena criatura para jantar, para dormir ou para arrumar o quarto. A mãe dele fica cada vez mais maluca com a criança mais elétrica do mundo das histórias em quadrinhos.
Calvin é uma criança (a) normal, mas com uma criatividade tão aguçada e um senso crítico tão bacana que desperta na gente aquela vontade de ser criança de novo e de ter um amigo quem nem ele, que aceita fazer as maiores loucuras e as mais legais brincadeiras.
Para os pais do Calvin colocar uma outra criança no mundo, sendo que essa teria a possibilidade de nascer com as características de Calvin seria um martírio. Então Calvin não tem irmãos. Aí que a imaginação desse pequeno ser ganha vida e dá asas às conversas mirabolantes que ele tem com o seu tigre de pelúcia, o Haroldo.
A cada tirinha, o leitor que se atente às percepções do texto vê que Haroldo realmente é um bicho de pelúcia, estático. Mas não para a mente fértil de Calvin que o transforma em seu alter-ego, em seu melhor amigo a cada tira. E eles conversam sobre tudo que permeia o universo de uma criança, desde os medos mais comuns até a chatice que é ter que dormir cedo. Lembra quando você era criança? Lembra do seu amigo imaginário? Lembra?
Ah, não teve um? Não tem problema. Lembra das maiores loucuras que você fazia com um papel e uma caneta? Cheio de idéia e imaginação? Tá, tá..se você não se lembra, tudo bem. Mas se quiser recordar esse universo maravilhoso da infância é só dar uma lida nas tirinhas do Calvin e do seu amigo fantástico Haroldo.
Para a gente perceber como o humor do Calvin é refinado, vou explicar uma tirinha dele: a professora pergunta para o Calvin quem foi o primeiro presidente do Estados Unidos. Ele diz que não sabe, mas que conhece a origem secreta de cada super-herói da liga Termonuclear. A professora, brava, diz para ele ficar depois da aula, no que Calvin responde: “Eu não sou burro, é que o conhecimento que eu domino não tem uma utilização prática”.
Pá! Na cara! Um tapa na cara da educação. Seja educação no Brasil, nos EUA, onde quer que seja. Calvin é assim. Esperto, questionador, reflexivo. Daí vocês me perguntam: então o Calvin é uma cópia da Mafalda?
Não amigos, não. A Mafalda é uma crítica extremada, uma questionadora, uma socióloga mirim que pretende construir um mundo melhor com suas reflexões, muitas vezes irônicas, sobre a realidade em que está.
Calvin não tenta mudar o mundo como a Mafalda; Calvin vive o mundo e se coloca nele como tal; como criança que é, com todas as fantasias, medos e raiva que uma criança tem. Ele não pretende revolucionar, mas subverter o que é proposto por seus pais, pela professora, pela babá... Calvin é um subversivo nato com uma imaginação e um senso crítico privilegiados, o que possibilita a ele e a seus leitores mergulhar nas mais diferentes possibilidades de viver a vida.
Nascido em 1985, Calvin durou apenas 10 anos. Tempo suficiente para ser publicado em mais de 2400 jornais pelo mundo, divulgado em mais de 15 livros e ser adorado em todos os continentes. O criador do Calvin, o cartunista Bill Watterson, formou-se em Ciências Políticas e desde aquela época já fazia tirinhas e charges para o jornal da facudade. Sua paixão por quadrinhos vem da infância, quando lia Charlie Brown.
Quando Bill Watterson deixou de desenhar as tirinhas de Calvin e Haroldo em 1995, disse que era porque tinha em mente outros planos como cartunista. O mais inusitado é que, mesmo depois de não ser mais publicado, Calvin ainda alcança uma geração de crianças e adultos ávidos pelas travessuras e brincadeiras que esse menininho apronta com o seu tigre de pelúcia. A última frase de Calvin antes de deixar de ser publicado foi: “é um mundo mágico, Haroldo! Vamos todos explorá-lo!”
Realmente, se olhássemos o mundo como o Calvin olha, enxergaríamos monstros, super-heróis e uma infinidade de idéias que aguçariam a nossa imaginação através de uma vontade irresistível de explorar o mundo exposto a nossa frente.
Veríamos que o mundo é mais do que vemos e reagiríamos ao mundo de maneira diferente ao que nos cerca, pois como diz o Haroldo em uma outra tirinha: “suponho que se não pudéssemos rir das coisas que não fazem sentido, não poderíamos reagir a boa parte da vida”. Sim amigos, o Haroldo têm razão....Não é, Calvin? “- Não sei, vou concordar com isso por enquanto....” Ai, esse Calvin é uma figurinha mesmo...

País do carnaval

será que eles estão fantasiados? é pra um filme?
não, talvez seja esse patrimônio que o Brasil quer ter....
Bom, está certo que o nosso país parece viver em uma ilha de alegria. A economia vai bem, a educação vai bem, a saúde então...nem se fala. As pessoas estão se preparando (mas já?) para o carnaval de um país que parece ser o carnaval eterno. Pois bem.
Com as situações no Sul, de enchentes e etc, o governo parece querer "ver onde vai dar" para tomar alguma atitude. Enquanto isso, voluntários de todos os lugares tentam fazer o que podem. Sinceramente, acredito que o apocalipse (é isso) já chegou faz tempo.
Cada um por si e sei lá quem pra fazer por todos. Acostumamos nosso olhar com a mediocridade, estamos focados no nosso próprio umbigo em torno do que fazemos ou deixamos de fazer por nós mesmos.
Olhar o outro em uma situação degradante, desigual, dormindo nas ruas, não tem mais diferença, não faz mais mal. E a água agora fluindo, minando cidades inteiras, dizimando as pessoas, isolando.... será que assim seremos todos iguais? Apenas no caos seremos iguais? Aprendemos assim, a engolir a seco as tragédias que nos rodeiam.
E o carnaval está aí, tentaremos ser igual à corte, nos vestiremos de reis e rainhas por um dia e nesse dia, desarmados desde a alma, nossa consciência irá calar e nos deixar ser felizes. E eu não estou criticando a festa do carnaval em si, mas os rumos que os grandes feriados e festas trazem para uma maioria da população absurdamente desprezada, invisível no caso.
Apesar das dores, da falta de amores, mais um ano vai passar, e mais um carnval vai começar...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sociedade e pré conceito

Recebi um texto que o Marcelo Tas escreveu sobre a morte de um ser humano, negro, pobre e honesto. Aqui no Brasil, ou me parece no planeta Terra, as pessoas estão enlouquecendo em torno da segurança. Uma segurança aparente, inexistente porque fere mais do que o físico: fere a alma, cheia de marcas de um passado condenado pelo desrespeito e por um presente de preconceito. "antes ele do que eu". e essa máxima vigorando...
Sinto informar: não estaremos a salvo e seguros nunca. nem meus filhos nem os seus e nem os deles. o filho do alberto tem apenas cinco meses e essa marca de vida. se ele se revoltar um dia, total apoio.
Não estamos a salvo. A dor e o medo são inexoralvelmente internos. E assim hão de ser.
confiram o texto:
Nota de repúdio e indignação Marcelo TasA Casa do Zezinho está de luto. A ONG Casa do Zezinho mostra seu profundo repúdio e indignação. Um dos seus filhos queridos, o jovem Alberto Milfont Jr, (23), foi barbaramente assassinado dentro das Casas Bahia na Estrada de Itapecerica por um segurança terceirizado, que trabalha nessa instituição, na segunda feira por volta das 16 horas. O segurança, em sua defesa, alega que agiu assim porque simplesmente o jovem estava mal vestido.O jovem Alberto, mal vestido, morre com a nota fiscal, com comprovante de compra nas mãos. Enquanto aguardava dentro da loja, “roupa de trabalhador”, sua esposa Darilene (22) voltava do caixa aonde fora pagar a prestação da compra de um colchão. Foi abordado pelo assassino, terno preto. Depois de um bate boca ligeiro o segurança saca da arma e atira à queima roupa. O jovem tomba sem vida.Suas últimas palavras: Sou cliente, não sou ladrão!”. A partir daí se calou. Calou da mesma forma como estamos calados, sufocados há 400 anos. Que grande equívoco este país!Mal vestido, roupa de trabalho, é um sinal verde para o braço armado da sociedade, o assassino pago para atirar. Alberto deixa esposa e um filho de 5 meses. Alberto deixa morta a remota esperança de milhares de jovens brasileiros. Estudar pra que? Trabalhar pra que? Ser honesto pra que? Brasileiros alfabetizados, respondam honestamente essa pergunta!O menino brincalhão, comprido e de pernas finas entrou para a Casa do Zezinho aos 10 anos. Sua turma do Parque Santo Antônio já estava todinha ali. Vai ser muito legal, ali vamos nos divertir para valer. O jovem deixa excelentes recordações em toda nossa comunidade, onde permaneceu como um membro muito querido até 2003. Estava de casamento marcado com a jovem Darilene, com quem tinha um filho de apenas 5 meses. Suspeita e pobreza sempre juntas na nossa história. Nenhum (a) jovem “mal vestido” (leia-se moreno, pardo) da periferia ousa sequer pisar num shopping de grife da cidade sem levantar as mais alarmantes suspeitas. Nenhuma placa, nenhum sinal explcita essa indesejabilidade, como faziam com os negros os norte-americanos. Diferentemente dos americanos, aqui o jovem da periferia já traz gravada na carne, na alma, essa interjeição.Nenhuma revolta, nenhuma vingança organizada. Nada que a sociedade deva se preocupar. Apenas o destempero de um segurança idiotizado, uma peça para reposição. No Cemitério São Luiz o murmúrio surdo da mãe e da jovem esposa.Dentes cravados, os jovens cabisbaixos que acompanham o enterro trazem o sangue nos olhos. – O mano Alberto subiu! Com muita raiva seguimos com eles, solidários, para tentar preservar essa auto estimatão covardemente destruída desde o seu nascimento nas favelas.A vitória da morte exercida com eficiência certeira desde sempre no país pelo braço armado contratado pela sociedade dominante e pelos seus comparsas que dominam toda a estrutura de poder do estado.Pras Casas Bahia deixamos como lembrança o carnê saldado com a honra e a dignidade de um jovem trabalhador. Adeus mano Alberto! A Casa do Zezinho, há mais de 10 anos, é um oásis de cultura, educação, civilidade e afeto para 2 mil crianças na periferia de São Paulo. Localizada no vértice de encontro dos bairros Jardim Ângela, Capão Redondo e Parque Santo Antônio, a Casa oferece dezenas de oficinas culturais, além de apoiar os jovens na escola e na vida cotidiana. A maioria esmagadora deles não tem pai, poucos podem contar com a mãe, geralmente ocupada em lutar na cidade para levar algum dinheiro para casa, ou em muitos casos, afundada no alcoolismo.Mesmo com esse quadro duro, assustador, frequentar a Casa do Zezinho, com frequento como colaborador voluntário há mais de 5 anos, é uma grande alegria. Porque lá a gente aprende com o sorriso e garra das crianças. Quem vive do outro lado da moeda e acha que a vida é dura e injusta, pode tomar uma ducha instantânea de ensinamentos a um simples contato com um garoto ou garota da Casa do Zezinho. Todos eles são sobreviventes e vencedores de uma guerra dura e diária.Na última segunda-feira, essa ONG, que representa um verdadeiro DNA de ética e eficiência para o país, foi barbaramente atingida. Um de seus "Zezinhos" mais queridos, já grandinho, com 23 anos, lutanto para enfrentar a vida, agora como pai de família, foi estupidamente assassinado. O nome dele é Alberto Milfont Jr. Segue o relato indignado abaixo das educadoras da Casa do Zezinho, a quem eu presto aqui a minha total e irrestrita solidariedade. Convido cada um de vocês a ler o texto abaixo com serenidade e atenção. E, quem tiver meios e vontade, ajudar a espalhar essa notícia e seus detalhes. Quem sabe um dia ao invés de conviver com tamanha brutalidade, possamos apenas nos envergonhar de termos vivido, em pleno século 21, num país tão desigual quanto ignorante e injusto. http://marcelotas.blog.uol.com.br/arch2008-11-01_2008-11-15.html Em: 12 nov. 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Vera Alice

E então que ela chegou na fazenda. Andou andou... No meio do caminho encontrou um cãozinho abandonado. Teve dó.
- Estamos na mesma, amiguinho?
E o novo companheiro foi junto de Vera Alice.
A fazenda era grande e da chaminé saía fumaça indicando que havia gente em casa. E o melhor: comida também. Vera Alice ficou feliz. Não comia uma boa refeição havia dias.
Mas Vera Alice andava também ansiosa. Muitos pensamentos, alguns distantes, outros próximos. Pensamentos que muitas vezes lhe faziam desistir do que estava tentando acreditar.
Se o caminho estava certo, isso ela já não sabia. Mas sabia que tinha que ir. E por sua marca no mundo.
Vera Alice estava cansada já. A estrada era longa de um tanto que a menina achava que nunca mais ia chegar. Lembrava-se de sua mãe na rede, seu pai no jardim e dos irmãos. O cheiro do pomar no quintal estava agora voltando lentamente, naquela saudade que só os humanos têm. E quis voltar para casa.
Andaluz, como ela resolver chamar o cãozinho, agora a acompanhava e sua frente estava a fazenda. Um lugar novo que ela teria que conhecer. Fazia parte do seu projeto de sair por aí e ganhar o mundo. Ou o mundo ganhá-la. Ainda não sabia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

CAFÉ ESPACIAL #3

Está saindo do forno a revista Café Espacial #3. Com muitas novidades e um monte de coisas legais para degustar.
Quem quiser conferir, entra no nosso site:
Estará à venda em algumas lojas em Marília e em breve coloco os endereços aqui. Mas também enviamos pelo correio. Entre em contato pelo email:
cafeespacial@gmail.com e faça o seu pedido.
Logo estaremos lançando em Marília, Londrina e São Paulo, onde além do lançamento, receberemos o Troféu de Melhor revista independente pelo site Bigorna.
é isso aí.