Acordou naquele dia azul como quem não queria levantar. Demorou, demorou e demorou na cama, virando de um lado para o outro, de um lado para o outro. O quarto escuro ainda parecia lhe dizer que era madrugada.
Enfim que abriu os olhos. Lentamente, mas abriu. Já era hora de levantar. Esticou os braços e pensou: só mais cinco minutinhos.
Os cinco minutinhos sagrados de qualquer ser humano. Quando abriu os olhos de novo, viu que estava atrasado. Ou não. Levantou, foi ao banheiro e ficou um bom tempo sentado na privada. Meio que dormindo, meio que acordado.
Levantou, lavou as mãos, o rosto e escovou os dentes. A toalha de rosto estava meio úmida, coisa que o deixava bem irritado. Mas naquele dia, estranhamente, não ficou nervoso. Não.
Tudo estava indo muito devagar para ele. Trocou de roupa, tomou café. Apenas um pão com manteiga. E colocou-se a caminho do trabalho.
O céu estava azul, azul. Daqueles azuis fortes e que lembravam a cor dos olhos da mãe dele.
- Minha mãezinha - pensou.
Mas o trânsito estava lento. Por demais lento. E ele não conseguia entender a lentidão de uma rua sem carro. Acreditava que a lento estava mesmo era dentro dele. As cores do outono lhe chamavam a atenção e o vento que batia naquela manhã parecia confortar-lhe a alma.
Andou mais um pouco, estacionou o carro e desceu do veículo. Foi até o trabalho como quem estava de muletas. Dessas muletas de quem quebrou o pé, ou um troço qualquer na alma e precisa de apoio pra continuar andando e seguindo em frente.
Olhou longe, bem longe perto do morro onde o vento fazia um grande barulho. Olhou, olhou para ver se a encontrava. E lá estava ela. Bem pequenininha, mas estava.
Aquela pontinha de esperança despontava no horizonte. Fechou o olhos e respirou fundo.
Já era hora de bater o cartão.
Um comentário:
Muito bonito. E me identifiquei bastante.
Os cinco minutinhos sagrados de todos nós...
Valeu, senhorita!
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