sábado, 1 de janeiro de 2011

o dentista

ele entrou e com um sorriso disse: - oi. eu não respondi, apenas sorri lentamente e abaixei a cabeça. era a primeira vez que o via no meio daquela multidão toda que é um consultório de dentista. sentou perto, pegou um livro que tinha na bolsa e começou a ler. raramente olhava para o lado, de tão concentrado que estava na leitura. eu fingia que lia uma revista. folheava as páginas olhando de rabo de olho para a poltrona a minha esquerda. ele sentou perto do bebedor e o máximo que dizia era: - desculpa. dizia porque sentado perto, todas as pessoas que tinham que beber água tinham que pedir licença para passar. moreno e com um sorriso lindo. tinhas os cabelos meio assim sabe? jogados e bagunçados. havia mais umas 4 pessoas na sala, naquele dia a consulta atrasou. o ar condicionado quebrado denunciava um certo calor na sala, o que me conduzia a tentar dizer pelo menos uma frase: - tá calor né? mas não disse. senti vontade de dizer, mas não disse. ele continuava a ler o livro e eu a folhear a revista. de um lado para o outro. abaixei a cabeça e comecei a ler a reportagem que falava sobre a dieta saudável. isso está bem na moda. - você tem horas? levei um susto. - hã? - horas? você tem? ele estava me perguntando as horas. não sei ao certo quantos segundos eu demorei pra responder. ou pra ver que o relógio estava no meu pulso esquerdo. - ah sim, três e quinze. - obrigado. tá calor aqui né? - hã? não sei se deveria estar no dentista aquele dia porque ele deve ter pensado que eu deveria estar no otorrino. garota meio surda. - ah sim. isso lá está. calor. - prazer. carlos. - lia. - rotina lia? ou usa aparelho? - rotina. mas já usei muitos aparelhos. nossa. - (risos). eu vou fazer o teste hoje pra usar um também. - legal. Legal? como assim legal, porra? quem em sã consciência fala isso para alguém? silêncio. ele voltou para o livro e eu para a revista. mas os olhares começaram a se cruzar lentamente. entre um olhar e outro, ele abaixava os olhos e eu os meus. os olhares não se encontravam. só as vontades e pequenos espamos de sorriso. - lia. entrei e sorri para ele. na hora de sair ele estava ainda sentado lendo o livro. e eu passei rapidamente por ele pra pegar água. - desculpa, lia. ele disse. e eu: - não foi nada. e num lapso, falei: - quer sair pra um café? - fiquei vermelha. como eu tive coragem, meu deus? ele sorriu, agradeceu e disse: - você me espera depois da consulta? - sim. - carlos - a atendente o chamou. deixou o livro no sofá, sorriu e entrou. eu fui ao banheiro, arrumei os cabelos, a blusa e o sorriso. o banheiro era daqueles antigos, de azulejo rosa e pia grande. saí, peguei o livro na mão e deixei-o de volta no sofá. fui embora. não vi mais o carlos. e o pior: esqueci de ler o título do livro. no caminho de casa, meu celular toca. - lia, é do consultório. você deixou o livro aqui. e alguém pega o telefone: - é lia. você deixou o livro. e um café. vamos? sorri. dei meia volta e nos encontramos no café mais antigo da cidade. ele já estava de aparelho e eu com as mãos frias e um sorriso sem graça. - desculpe convidá-lo assim. sorri. ele sorriu de volta.

2 comentários:

Miss Lexotam disse...

Que demais! DEMAIS! É algo como "Encontros e desecontros".
Adorei.

Li, escreve a porra do livro, por favor?! XD

Rafael disse...

que fofo
esta estória tem história
conta o resto, porra!