segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Garrafas ao mar

Quando éramos crianças, a família costumava viajar para a praia. E era sempre uma emoção porque, além da oportunidade de ficar todo mundo junto, tinha refrigerante de latinha (algo muito estrondoso pro nosso bolso) além de sorvete à vontade.
E era sempre bom. E a gente sempre ia com aquela expectativa de criança, de brincar na praia, de fazer castelinho, de pegar onda. E tinha milho verde e tinha sorrisos e tinha a gente dormindo junto depois da pizza.
Me lembro que meu pai quando via que estávamos chegando perto do mar dizia:
- Quem ver o mar primeiro, dá um grito!
e era uma festa de criança no carro e a gente se divertia e ria. E era bom.
E era só o que a gente como criança precisava. Quando a gente é criança a gente não tem muitas necessidades. E as que temos é facilmente supridas pelos nossos pais, pela comida ou por um pouco de atenção.
E a imaginação fazia o resto.
Mas parei para pensar esses dias quais são as nossas buscas, aquelas mais profundas e verdadeiras do nosso ser, sabe? Aquelas que quando a gente olha no espelho e está com 30 anos a gente pergunta:
- Onde foi que eu errei?
ou se olha e pergunta de novo:
- Onde foi que ficaram meus sonhos?
Pois é, e muitas vezes esses sonhos não são apenas nossos, do nosso desejo, mas um tanto quanto daquilo que buscamos no outro e não dentro de nós mesmo. e daí que é o problema.
a gente fica meio sem ação quando o outro não corresponde ao que queremos, ou ao que pensamos, porque o depósito de sonho tem que ser nosso e tem que vir de dentro de nós lutar por isso.
e então que bate uma tristeza e aquela lembrança bonita de se pensar:
- eu era feliz e não sabia.
oras, é lógico que você sabia, é só o tempo que escorreu tão rápido por suas mãos que não fomos capazes de anotar as diversas referências que fizeram da gente o que a gente é hoje.
e isso causa um estranhamento e uma dor muito forte porque é como se alguém tivesse nos atropelado no meio do caminho, antes da gente chegar onde a gente queria chegar e daí você tem que se contentar em ser o que é e ponto.
e o mais difícil é o passar das horas, é saber ouvir e compreender as diversas limitações que possuímos. E então escolher.
A escolha é muito difícil, muito mesmo.
Porque veja bem, quando a gente é criança e vai para a praia com os nossos pais, a gente não escolhe muito o caminho a seguir, é aquilo e pronto. Mas quando a gente cresce e tem que escolher entre amar e ser amada, entre ir e ficar e entre ser o que se é e o que outro gostaria que fôssemos é que dói.
e me lembro de uma vez na praia meu pai contar algumas histórias sobre a forma de se comunicar com as garrafas ao mar, escrevendo no papel alguns segredos, pedidos de socorro, enfim.
e então que a gente pensou nisso, de escrever alguma coisa em um papel, colocar numa garrafa e jogar ao mar. eu não me lembro bem o que escrevi, mas foi divertido de fazer.
jogamos a garrafa no mar e perguntei ao meu pai:
- será que alguém vai achar o que escrevi, pai?
e ele me disse que o mais importante era tentar.
e o sol se pôs várias vezes depois dessa conversa. e os anos passaram e a gente não vai mais para a praia. e nem grita quando vê o mar.
mas isso tudo são escolhas. bem como quando escolhemos o que escreveremos nas marcas da nossa pele e na nossa história de vida.
e quando olhamos a direção do mar para onde iremos mandar a nossa garrafa cheia de histórias, estamos fazendo uma escolha.
e isso é o mais bonito: saber escolher o caminho para onde vai jogar seus sonhos e ter a esperança de que quem possa vir a achá-lo seja você mesmo.

2 comentários:

Miss Lexotam disse...

Queria que fosse simples assim. O ruim é quando a garrafa se perde no meio das ondas e fica a dúvida se ela vai voltar.

ps.: LI, ESCREVE UM LIVRO!!!

liber disse...

Gosto dos seus textos.

E eu discordo da Dan. Acho que é simples sim. Pensando bem, a gente atira mensagens em garrafas todos os dias, né? Quem sabe quem vai recebe-las lá do outro lado?

O legal é que de onde saiu a primeira mensagem vão sair muitas outras. Né?

bjs

E escreve um livro.