domingo, 2 de janeiro de 2011

a carta

*extraído de "cartas a ninguém". de Ana Lemos. 

Precisamos conversar, quer dizer, melhor, talvez eu que precise falar. ou ouvir. não sei. não vou te cobrar. não vou. mas eu preciso ouvir de você o que foi que aconteceu com a gente. preciso ouvir, tá entendendo? eu preciso ouvir de você que a culpa não foi minha. se é que existe culpa numa situação como essa, numa situação em que mais latente do que isso, seria o sentimento que tenho por você.
escuta, o que foi que te disse quando te beijei pela primeira vez? ou você por acaso já esqueceu que me beijou algum dia? eu te disse claramente: eu não consigo confiar nas pessoas. eu não consigo. mas quero confiar em você. eu gosto de você.
e te beijei. te abracei. e dormi com você. dias e noites. e você me viu inteira, examente como eu sou, com os meus medos, meus desejos e minhas vontades. eu estava lá, à vontade, inteira pra você. e o sentido aqui não é apenas carnal. é de vontade de estar junto. de querer bem. de estar bem.
eu me sentia bem com você, eu me divertia. eu ria. eu ficava leve.
me diga, pra que isso? pq vc me afastou assim?
eu vi no último telefonema que te dei. frio, distante quase um conhecido. mas não era mais você. o cara por quem eu me apaixonei, veja bem, me apaixonei, não está aqui na minha frente agora. é outra pessoa.
sim, é bom que as pessoas mudem, mas quem foi que eu conheci? eu te projetei, é isso? é ficção? tá, te inventei agora. foi isso.
entendi.
por favor, me diga o que eu fiz. foi culpa minha? existe culpa? de quem foi?
que porra é essa de amor que me faz doer? que me faz sentir sua falta?
e eu fico horas vendo o email, lendo e relendo, atualizando pra ver se chega uma mensagem sua. uma carta. um sinal de vida.
seu covarde.
isso que você é. um covarde.
daqueles grandes.
eu te disse que ia me apaixonar. eu te disse. e você insistiu e pronto. ponto final. me esqueceu. como aqueles brinquedinhos que a gente cansa quando é criança e procura outro.
escuta aqui, seu merda. eu não sou um brinquedo. eu naõ te inventei e eu não criei vc sozinha. eu te vi do meu lado. eu te beijei.
e eu pedi pra vc não me machucar, eu pedi.
mas sabe o que é? o pior não é vc ser esse covarde, esse grande filho da puta que vc foi. o pior é que eu não posso ficar aqui me lamentando, pedindo esmola, me alimentando dessas migalhas que vc está me dando. não.
a errada aqui sou. e eu te digo mais, vc não vai me quebrar. cada palavra que eu escrever é uma forma de tirar vc de mim e da minha cabeça. e cada vez que eu pensar eu vc, cada vez que eu lembrar de vc, os meus melhores pensamentos voltarão para mim.
eu não vou deixar você invadir meus pensamentos assim. não vou.sabe pq? pq eu não mereço isso. não mereço.
não mereço saber que vc está com outra e vc beijá-la na minha frente. não mereço um homem como vc, sem culhões que naõ soube ao menos o que é respeitar o sentimento de uma mulher.
não não. não me venha com a desculpa de que o problema é vc e não eu. isso naõ cola.
aliás, cola sim. vc é um problema. pra vc mesmo.
todos aqueles dias que tivemos, todos os carinhos, tudo. eu vou jogar num saco. ou melhor, vou escrever. e vou queimar.
você é um covarde de fazer isso. um covarde.
às vezes a gente convive anos com uma pessoa e não a conhece de vdd.
eu vou buscar conhecer a mim mesma. e vc, o que vc vai fazer com td isso é problema seu.
só quero que vc saiba que aqui dentro você não entra mais. de maneira alguma. os meus pensamentos estão fechados e ao colocar vc no papel e queimar, vou queimar vc também.
não me venha com essa ideia de que está confuso. enfie a confusão no seu rabo. e nem de que gosta e quer ficar sozinho. vai se danar.
a vida é muito maior que isso e dessa marca que vc deixou em mim eu vou fazer uma história. das mais belas. e vou estagnar esse sangue que jorra daqui de dentro. deixe estar. isso um dia há de parar de doer.
e daí meu querido, quando isso acontecer, já viu. eu vou sorrir. e lentamente vou ser feliz. ou triste. mas vou ser eu de novo. e não o que você esperava que eu fosse.
e não vou lembrar dessa dor. pq as dores passam. a gente lembra que sentiu, mas não sabe mais como eram. elas se fecham. elas param de fazer com que nossos olhos fiquem marejados.
eu não tenho mais medo, tá? não tenho.
eu me humilhei quantas vezes pra vc me explicar algo e vc se calou. fechou os olhos, abaixou a cabeça e se calou.
e eu quero duas coisas de vc. apenas duas.
uma é a sua distância.
e outra: me devolve o que eu tinha de melhor que era a capacidade de confiar em alguém. em achar que o amor realmente valeria a pena.

4 comentários:

O Vento disse...

viu, será que esse cachorro aí pode ter mais de um nome? mais de uma cara? ter mais de um corpo? ser mais de um? um xerox? um exemplar da mesma porcaria editado com outra capa? eu conheci um...

Miss Lexotam disse...

Espero não ter que passar por isso. Continua achando que, apesar de tudo, o amor ainda existe.

Quem é Ana Lemos? Quero conhecê-la... aliás, quero ler essas "cartas".

Camila disse...

"cartas a ninguém", certo?! mas tb poderia ser "pra td mundo"... caramba! queria dizer praticamente isso pra alguém... ano novo, quero até os problemas novos... aff!

Bruna Fernanda disse...

Hey, te indiquei um selo, olha lá no meu blog. Beijos!
http://garotaqueopina.blogspot.com/2011/01/meu-primeiro-selo.html