segunda-feira, 4 de outubro de 2010
O que é transgredir?
Pois bem, há tempos queria discutir algo aqui nesse blog, na verdade, acho que comigo mesmo. Sim, porque tudo que escrevemos ou discutimos é nosso próprio reflexão, não é não? Mas não é disso que quero falar.
O contexto é: observação. e uma coisa que gosto é de observar o comportamento das pessoas. e confesso: estou assustadíssima.
tenho feito algumas coisas do sentido de transgredir. e aí vocês me perguntam: como assim? pintar o cabelo de verde? arrotar na cara de um velhinho? deixar um cego tropeçar por minha causa? o que é transgredir numa sociedade como a nossa?
pra mim só tem uma resposta: respeitar.
nada mais choca as pessoas. a pobreza, a miséria, o medo. está tudo muito "normal", de norma mesmo, do sentido de ser certo agir de determinadas maneiras. por exemplo: é normal parar no pare e dar espaço para o pedestre. certo? errado. o normal é você nem olhar na cara do sujeito e ir com o carro o mais rápido que puder.
e eu faço de propósito, fico olhando quando estou à pé para a cara do motorista. ontem observei dez carros passarem na minha frente e eu parada no pare e ninguém, NINGUÉM parou.
então, para transgredir, eu paro o carro no pare e dou licença para o pedestre. alguns não acreditam. passam correndo desconfiados e com medo. mas eu paro.
a carol bensimon escreveu sobre isso hoje no twitter e eu pensei: caramba, não é por acaso então.
fui até a rodoviária mega super faturada da cidade e na fila da passagem estava um rapaz da minha época de adolescente. eu me lembro dele das festas. era o mais bonito, o mais bonito mesmo.
pois bem, estava na fila hoje, na minha frente. se achando alucinadamente, o que não me deixou nem um pouco constrangida. se achando não sei porque, mas estava. mas enfim. antes dele um senhor estava sendo atendido e nisso chegou um senhor mais velhinho ainda, com três sacolas na mão para perguntar uma informação para a atendente. nem a atendente nem o senhor deram espaço para o velhinho. ninguém.
aquilo foi mexendo comigo de um jeito estranho. pensei: "caralho, que esse moço bonito dê espaço para o velhinho". não. ele chegou para ser atendido, olhou com aquela cara para o velhinho e não dava espaço para o pobre. nem ele e nem a atendente.
aquilo foi me subindo de um jeito louco, mas que coisa! será que as pessoas esqueceram de se enxergar?
acredito que sim.
a transgressão agora está em pedir desculpa, muito obrigada, sorrir e dar lugar na fila para as pessoas mais velhas. a transgressão agora está em cumprir o que prometeu, em fazer o melhor possível, em ser ético, em ser honesto.
os valores são outros e eu realmente me preocupo com o mundo que vai ficar aí para depois. ou melhor, para agora.
as pessoas desaprenderam a olhar para o lado. o umbigo e o eu é o que conta. nada de perguntar: "como você está?". nada de dizer: "se precisar, estou aqui".
melhor transgredir. o mundo já está osso demais.
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7 comentários:
Não tinha parado pra pensar dessa forma.Percebia como o respeito é mal visto,quem respeita muitas vezes é considerado bobo,por não ter se aproveitado da situação para tirar vantagem.
Vou me juntar a você e parar no pare e em todas as outras situações que perdi o hábito de respeitar.
vamos transgredir =)
Ah,posso colocar um link do seu post no blog que escrevo?é uma reflexão muito boa.
O seu argumento é muito bom. Mas faço uma ressalva quanto ao exemplo utilizado, você trata os idosos como se eles fossem mais respeitosos, quando há casos de abuso dessa condição por parte deles presentes no nosso cotidiano, então, são tão desrespeitosos quanto
nossa, fiquei de cara, e concordo
fico feliz de transgredir às vezes, mas sinto que devo o fazer mais ainda =T
vamos transgredir =) [2]
Muitou bom o texto, gostei muito da mudanças de paradigmas deixando a trangreção como algo "bom".
Confesso que já dexei de transgredir, em situações que poderia te-lo feito, mas acredito que essas sejam situações não comuns.
E só pra constar, apoio o movimento Vamos Transgredir!
O texto relevou um assunto que me desperta imensa preocupação.
Tão perigoso quanto curioso é acrescentar que essa banalização da falta de valores morais é difundida por uma variante esnobadora do humor que nos impregna com sua atraente solução às problemáticas sociais, entre elas a ausência do respeito, onde o buraco é mais embaixo, mas como também coisas supostamente mais simples como o direito de expressar simples e sincera alegria por algo qualquer: tudo isso virou transgredir.
Estamos realmente muito ferrados!
Momento de sentir olhares descarados; dar lugar a uma senhora no onibus, levantar mercadoria de supermercado, tirar um pacote de salgadinhos do chão e colocar no lixeiro. A falta de educação alheia se sente ofendida!
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