Monologo de Segismundo
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Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma, ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas corta com velocidade,
negando-se à piedadedo ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel, a humana necessidadelhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto, tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamaspor sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira,
num medir da imensidade
co'a tanta capacidadeque lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata, por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obra da natura em piedade
que lhe dá a majestadedo campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,tenho menos liberdade?
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Monólogo de Segismundo
Assisti ontem uma parte do filme 'Tempos de Paz". Não tenho como fazer considerações acerca do filme todo, apenas da parte que me cabe neste extraordiánário cinema. Porque sem sombra de dúvidas, um filme que tem Tony Ramos e o genial Dan Stulbach não pode deixar de ser visto. Mais pelo Dan do que pelo Tony. "Tempos de Paz" é uma homenagem justa aos que deixaram esse país mais rico culturalmente quando foram forçosamente exilados de sua terra, no caso do filme, da Polônia.
Pois bem, parei para assistir esse filme quase no final quando o personagem de Tony diz que dará o salvo-conduto para o personagem de Dan caso ele lhe faça chorar com sua arte, que é ser ator.
E em uma cena quase final belíssima onde os atores se jogam na emoção, principalmente Dan, um poema é recitado: "Monólogo de Segismundo".
Vou reproduzí-lo aqui nas partes principais, ou as que mais me tocaram, e quando eu assistir o filme todo comento melhor.
E vou reproduzí-lo também pelo fato de que esse monólogo transmite como estamos presos nessa suposta liberdade que achamos que temos.
Eu não tenho liberdade alguma. Muitas vezes nem de ser eu mesma. A minha única liberdade é interna e são os meus pensamentos. Do resto, só falta me acorrentar.
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