quinta-feira, 18 de setembro de 2008

joão ou josé. da silva mesmo.

e então que ventava forte. um vento cortante que entrava pelas janelas mais fechadas do carro, da casa, da alma. e foi quando ele passou. depressa, tentando se proteger do frio, da vida. não sei.
vestia apenas um moleton azul, uma bermuda e estava descalço. seus pés sujos e rachados. não tanto quanto a vida que levava, mas rachados.
resolvi procurá-lo novamente. do alto da minha cegueira moral. será que uma meia ajuda? ou um pão? levei os dois.
passei por toda a cidade que estava gelada, abandonada, descrente. não o vi mais. e aquilo me doía a alma. foi então que parei perto de uma loja onde havia um corpo estendido no chão. como assim um corpo? era uma pessoa deitada, protegida com apenas uma fina manta, deitado com a cabeça em uma mala para dar apoio. vinha ou ia não sei para onde.
quando eu me aproximei ele levantou assustado, com medo. foi então que entendi o medo que o o que deve ser a negação da expressão dos sonos dos justos. que justiça é essa?
- calma meu senhor - eu falei.
ele parecia não entender. "o que ela quer aqui?"
- como é o nome do senhor?
- joão, josé da silva.
- vim lhe trazer esse pão e essa meia. vista. está frio.
o homem descrédulo olhava para mim meio que sem saber o que falar. e na verdade eu queria abraçá-lo e dizer que sim, aquilo tudo ia passar.
- vai com deus, minha filha. obrigado.
não tive coragem de responder. nada.
o choro engasgou e uma beirada do grito subiu pela minha garganta. não é possível que uma país como o nosso seja assim tão miserável, tão sem oportunidade!
ele só estava deitado. e sentiu medo. de mim!
o que vem à mente é pensar o que o homem está fazendo de si mesmo e da humanidade. não, sem ser poliana, pensando sempre pelo lado bom. mas, será que ainda existe uma esperança?
vou ter que engolir a seco essa angústia que está me atormentando e brigando ferozmente com a minha consciência....

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