segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ah, Buenos Aires

Ao entrar de férias pensei em ir para um lugar que não conhecia, diferente. E eis que surge a ideia de conhecer a capital portenha e suas belezas.
Malas prontas, fomos para lá e ficamos zanzando pela cidade uns três dias.
Uma coisa já posso dizer; quer dizer, uma não, duas: a primeira é que Buenos Aires é uma cidade para ser conhecida à pé. Tudo é muito fácil de ir e vir. Tudo. E a segunda é que tenho que voltar para lá o mais rápido possível.
Chegando a Buenos Aires
Além de ser uma cidade extremamente agradável (para quem é turista, esse é o conceito que temos), tem um clima bem particular (em abril a luz do sol fica linda e não é nem muito frio e nem muito calor). É uma cidade para se gastar o tênis. E dinheiro também.
Mesmo levando em consideração que nuestros hermanos estão em uma crise econômica, (um peso é mais ou menos cinquenta centavos de real), as coisitas lá são um pouquinho caras. Como a água, que é $8 o que vale a mais ou menos R$ 4.
além do preço ser salgado, a água também é. Tem um gosto diferente do que estamos acostumados. Tanto a água quanto o suco. Os mais comuns são de laranja e maçã. e tem outro que experimentei, pomello, que é gostoso, mas bem diferente do que estamos acostumados.
Outra coisa é a comida: eles não comem tanto arroz com feijão quanto a gente, tem muita carne e batata e o pão não é nosso tradicional pãozinho francês. Eles comem muito croissant e um tipo de pão de mil folhas que eles chamam de "media luna" porque tem o formato mesmo de meia lua.
No banco da praça
Pois bem, fomos como turistas, é claro. Mas o meu olhar ficava buscando coisas e lugares diferentes. Chegamos a fazer o citi tour, mas esse negócio de máquina fotográfica para lá e para cá nessas situações confesso que não é o meu forte. 
eu até tirei as fotos clássicas e tals, no Camiñito, mas não é meu forte ficar procurando isso. Queria ver outras coisas, encontrar novas pessoas e fatos.
Fiquei um tempo em frente da Casa Rosada e fiz essa foto:

um hermanito.
 Era um cara qualquer sentado lendo o jornal.  ele estava bem distraído e me parecia tranquilo. Coisa rara de se ver hoje em dia. E parei para pensar na questão das vivências diferentes entre os países. quase não vejo pessoas sentadas em bancos de praças lendo. ou apenas sentadas mesmo.
durante o citi tour fomos tendo um pouquinho de história, o que para quem é turista é muito bom. O tango por exemplo, era dançado no começo por dois homens. coisa que eu não sabia. e outra; Buenos Aires ao longo dos tempo se esmerou em ser a capital européia nas américas. E um tanto conseguiu. Artisticamente falando, encontramos um museu em cada esquina. Mas copiou da europa também em um tanto o preconceito: não vemos negros nas ruas. Há poucos, alguns no bairro de La Boca. E a explicação vem de que durante a guerra os negro foram usados como armas na linha de frente. a proposta portenha era eliminar a raça.
assim como os índios. assim como aconteceu em quase toda a américa latina. isso um tanto me tocou, porque à noite, como uma boa turista fui conhecer um show de tango. e no show os espanhóis derrotam os índios. e eles morrem. e as pessoas aplaudem. eu queria sair de lá correndo.
apesar do show ser lindo, com um tango sensualíssimo, eu me senti mal.  
enfim que continuei minha peregrinação. queria conhecer um cinema de rua. se ainda havia algum em buenos aires.
encontrei o cine monumental. um cinema que existe desde 1931.

Cine Monumental na Calle Lavalle

Letreiro antigo anunciando os filmes

Cine Arizona de 1944. O registro apenas no chão.

Cine Arizona, Burger King. Yeah.
Fiquei um tempo conversando lá, para saber se existiam outros. O atendente, cujo o qual eu conversei num portunhol ferrado, me disse que sim, que ali na Calle Lavalle existiam outros, mas que foram destruídos para virar lojas, como Burger King e lojas de calçados.
Enfim, c'est la vie.
é claro que eu me lamentei. me pareceu que o progresso teria que passar por cima dos interesses principais e históricos. Apesar de ser uma cidade extremamente bem conservada, com prédios antigos e tudo mais, alguns fatos das história foram se perdendo. O que não deixa de ser natural. Ou melhor, social. E que eu também não deixo de me lamentar.
E então fomos à Calle Florida. A mais famosa da cidade. Estou dizendo, passeio de turista total. Andamos e andamos. E só o que vi foi lojas e mais lojas. Flores mesmo, poucas. algumas, só que mal regadas como essas:
Cena da Florida

Liquidação de dignidade também
Era muito comum encontrar pessoas pedindo esmola na Calle Florida, o lugar onde mais se tem turista. Não vou dizer que é tipo uma 25 de março porque eu não sei se é. Nunca fui na 25 de março em são paulo. mas acredito que em Sampa é bem mais lotado. Mas nessa rua a gente ouve todas as línguas, tem todos os tipos de pessoas e das mais diferentes classe sociais.
Gente vendendo, comprando, com muito dinheiro e com pouco.
Sem cabeça na Florida

Sentado no lixo. No outro dia, passei por essa rua e ele estava lá de novo.
Uma outra coisa que percebi e que não pude tirar fotos, infelizmente, foi o jeito "cool" das argentinas. A maioria delas faz o estilo "nãoestounemaípramearrumarmasestounamoda" com cabelos depojados de quem acabou de fazer faxina, preso com uma presilha e uma roupa bem larga. e é claro, maquiagem. rs. Achei interessante de observar isso. Mas não tenho fotos.
Fomos também ao bairro de La Boca, onde tem o famoso "Camiñito". O Boca Juniors está em todos os lugares também, com até um mini museu em homenagem. é o bairro mais antigo de Buenos Aires onde tinha muito imigrante, o que resultou uma mistura de cultura muito interessante.
Quintera Martin é um dos grandes nomes do local, que buscou através de sua arte (era pintor) melhorar a vida das pessoas que moravam nesse bairro, que dava de frente para o antigo porto e era muito caótico.
Lá ele construiu escolas, museus e um hospital infantil. e reformou onde entrava os trens que conhecemos hoje como "Camiñito".
La Boca

Camiñito

No estádio do Boca
Mas não se engane ao chegar ao Camiñito. é tudo muito bonito, muito colorido e tem muita gente na rua vestido de dançarinos de tango e falando "una foto, una foto" e um cara que é a cara do maradona. rs. e a gente como turista cai nessa. Depois de tirar as fotos eles cobram uns $25 o que equivale a uns doze reais. Não que fosse um problema, claro. Mas é interessante porque eles vivem disso.
Outra coisa é perceber o bairro como um lugar pulsante. cheio de crianças (a maioria descendente de índios) e também de hospitalidade e humanidade também.
Restaurante popular. "Barrigas cheias, coração contente"

Crianças numa rua qualquer no La Boca

Um museu do futebol, onde ficava tocando hinos da torcida
Outras características da cidade são os museus do bairro da Ricoleta, um dos mais nobres de Buenos Aires. Como eu disse, dá para fazer todo o passeio à pé, mas você tem que escolher para onde quer ir porque tem museu de tudo quanto é coisa lá. Até num museu de um barco da marinha fomos.
Pois bem no bairro da Ricoleta tem um Centro Cultural também que no dia que fui estava tendo uma exposição de fotografia. Bem pertinho tem o Buenos Aires Design, é tipo um shopping mesmo, para quem tem grana cheio de coisas interessantes.

No banheiro, camisinha e modess. Progresso.
Um pouquinho mais para frente temos o Cemitério da Recoleta, onde está enterrada Evita Perón. Confesso que cemitério não é meu forte também. Não é o lugar onde mais queria ir não, mas foi interessante de observar porque os caras usam de tudo para atrair turista. quando fomos tinha um grupo imenso de chineses visitando o cemitério e alemães também.
é diferente porque os túmulos são bem cuidados, mas os caixões ficam para cima da terra, não ficam enterrados, então quando passamos sempre nos deparamos com um. não tirei fotos. por medo. rs. vai saber né? rs
mas tirei fotos do túmulo da evita que tinha recados, preces e até uma fitinha de nosso senhor do bonfim. e também de um senhor que estava lá sentado o tempo todos que ficamos por lá. até agora não sei se ele era real ou não. fica a dúvida. rs.
Esperando algo?

Túmulo da Evita Perón, um dos mais procurados e visitados

Recadinho pra Evita

fitinha de nosso senhor do bonfim pra Evita. globalização das crenças

Guardião das almas. ui.

Depois do cemitério, fomos para os museus do bairro, tem vários, de todos os tipos, mas o mais próximo era o Museu de Bellas Artes. Gratuito. lindo. e cheio de coisas diferentes, novos tipos de Design. Não é sem propósito que Buenos Aires é considerada a Capital do Design. o museu é lindo e estava lotado. De turistas e de portenhos. Passavam comentando os quadros e conversando. Tinha escultura, pintura, instalação, de tudo um pouco.

Depois fomos ao Malba, Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires. Aqui compensa conversarmos um pouco. Foi muito interessante, porque o museu é muito moderno, lindo, cheio de pinturas num acervo itinerante e permanente. Quando eu fui estava tendo uma exposição dos originais do Picasso. e tinha crianças de uma determinada escola conhecendo o lugar também, fazendo pintura. No acervo permanente tinha obras de muitos artistas latinos, entre ele, nós os brasileiros.
eu sabia que o Abapuru da Tarsila do Amaral estava emprestado no Brasil, mas mesmo assim fui perguntar para o guia do museu. num portunhol arrastado, ele percebeu que eu era brasileira e disse que tinha do Di Cavalcanti e do Portinari.
Achei ótimo, mas falei que queria ver o Abapuru. Ele me disse:
- é nosso. o abapuru é nosso.
hahahahhahahaha. saí rindo. o argentino pagou uma em cima de mim. rs.
e na hora de comprar a figura do abapuru (sim, eles vendem por $12, o que dá uns seis reais) fiquei conversando com a moça do caixa. ela não percebeu que eu era brasileira. me arrastei no portunhol e ela me disse: (numa tradução da herbert richards)
- o abapuru está no brasil. só espero que eles nos devolvam, pq o brasil, vc já viu né?
hahahhahahahahaha. saí rindo de novo. olha só que faminha a nossa. rs

Ciclovia em toda a avenida

Predinho na Avenida Del Libertador

Um homem e sua leitura
Nas redondezas do Malba tinha muitas praças onde as pessoas ficam lendo, uma ciclovia e vários predinhos antigos e bem conservados. Um lugar bem charmoso que me lembrou um pouco (beeem pouco) os Jardins em São Paulo.
No outro dia fomos visitar a livraria El Ateneu na Calle Santa Fé. Uma livraria que fica em um teatro antigo, um cine teatro. Atração turística, cultural e que vale a pena ir. É tipo a livraria Cultura na Paulista. Mas com um ar mais retrô. e cheio de charme também.
El Ateneu. Grandioso.

El Ateneu visto do Café que fica no palco da livraria
E então que tchanãnãnã: atração total de turista nerd como eu: visitar a escultura da Mafalda, na esquina das Calle Chile com Defensa.
fomos indo seguindo o mapa, quase nos perdemos. paramos numa esquina para ver uma lojinha super charmosa e quando olho para o lado, lá estava ela, sentadinha. Uma fofa. A Argentina é muito além da Mafalda, claro. mas não dá para não ressaltar a importância dessa personagem para história do país. E para quem é fã também.
Ficamos um tempinho conversando e ela me pediu para ler a Café Espacial. A Mafalda gosta de coisas boas.

Ah, você quer ler a Café Espacial? Claro, Mafaldinha. Claro.


<><> 
A mi me gustó mutcho! - ela me disse
Vista do Puerto Madera no último dia
<><>Eu gostei muito de conhecer Buenos Aires, tem muita coisa interessante para se ver. e foi tudo muito rápido mesmo. eu gosto de viajar e ter tempo de ver, sentir as coisas, mas não tive isso dessa vez, por isso que pretendo voltar. Ainda quero ir no Café Tortoni, ficar sentada na esquina onde tem o café da mafalda, ter tempo de ler livros nas praças das Del Libertador e quem sabe fazer um curso, algo assim. Buenos Aires vai bem além da Evita, bem além. Tem história em muitos lugares e bons ares. As ruas estreitas do centro, o olhar das pessoas enfim, tudo é um convite para voltar. Vamos?

7 comentários:

liber disse...

Vamos!
(Gostei da Mafalda toda faceira lendo a Café!)

Linda a viagem e as fotos.

Bjs
;-)

Sergio Chaves disse...

lindo! *-*

lídia disse...

Que delííííciaaaa!!conhecia pouco sobre Buenos Aires,agora fiquei encantada,vamos com certeza!rsrsrsrs fotos muito boas (gostei especialmente do 'guardião das almas' rsrsrsrs)

André e seus Caldos de Cana disse...

muito bacanas suas impressões da capital porteña. uma hora dessas, eu dou as caras por lá, também. estive em posadas e não achei as coisas tão caras, pra falar a verdade, estavam até mais baratas que no brazza. as capitais costumam ser mais caras, de qualquer modo. eu soube que o abaporu está no brasil - e acho que a gente não devia devolver. o pior é pensar que ele foi arrematado por 1,5 milhão de dólares e na época nenhum empresário filha da puta dignou-se a adquiri-lo. agora, os hermanos não vendem nem por 50 milhões. mas ainda vamos dar o troco, tipo, comprar uma coleção do xul solar a preço de banana. besos, lídia!

Camila disse...

sim, sempre SOCIAL, Lí, nunca NATURAL! assim são as coisas mundanas!
mas peralá, nunca fostes à twenty five?! ahhhh não!!
em outros tempos te convidaria pra um city-tour pelo centro velho pela manhã, tal qual eu fazia qd era aluna especial do Jornalismo (pasmem!)...

Camila disse...

em tempo: VAMOS, CLARO Q VAMOS!

pra qdo as prox. férias??
hum, acho q deixarei p minha licença prêmio, ano q vem... se quiseres!

Belíssimas percepções da sua lente!

Rafael disse...

finalmente se encontraram!