segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Emergência!

Ao voltar para casa numa tarde chuvosa de segunda-feira, estava perto do cruzamento de uma das ruas centrais da cidade (próximo à prefeitura) quando me deparei com um senhor que vinha ao meu encontro. Ele passava pela esquina olhando para baixo como quem confere o que estava no chão.
De longe avistei que tinha uma espécie de roupa, ou mochila jogada na esquina e ao passar o cruzamento vi um senhor caído. Não consegui distinguir se estava dormindo, se tinha passado mal ou se estava alcoolizado.
O senhor era um andarilho, eu já o havia visto numa praça perto de casa. Mas o que me chamou a atenção foi perceber que ele se parecia com alguém muito próximo. Poderia ser meu avô, um tio mais velho ou o parente de alguém. Só sei que um dia ele nasceu. E não foi ele quem pediu isso.
Passei perto do andarilho e o observei. Parecia dormir. Só que no chão de uma esquina qualquer. Procurei um telefone para ligar par ao Samu*.
- Alô, boa tarde, por favor no cruzamento aqui da cidade tem um senhor caído.
- Sei. E ele está alcoolizado?
- Não sei dizer. Está apenas caído. Talvez não tenha passado bem.
- Tem como você ir ver? Conversar com ele?
- Hã?
- Sim, porque geralmente eles estão "apenas" alcoolizados. Não querem ajuda.
- Sei. E eu tenho que ir ver?
- Sim. Não posso mandar uma ambulância para isso se não for nada sério.
- Entendo.
- Se ele estiver alcoolizado, provalmente não irá querer ajuda. Eles dizem que querem dormir.
- Então vocês não podem ir até lá ver? Talvez ele tenha tido um derrame, sei lá....
- Não podemos oferecer ajuda.
Desliguei o telefone e agradeci a atenção. Entendo os problemas sérios com saúde hoje em dia, a falta de verba e etc. E entendo a posição do Samu.
Mas ainda me questiono o que é realmente urgente. Deveríamos então ter um outro número para casos de emergência humana. Talvez eu tenha ligado errado, não sei.
Mas pensei que talvez o que o senhor gostaria não fosse de ajuda. Fosse dignidade. Acho que os seres humanos estão esquecendo de oferecer isso uns aos outros.
*O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/192) é um programa que tem como finalidade prestar o socorro à população em casos de emergência.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

PARABÉNS. HÃ?

um texto bacana sobre a hipocrisia, a realidade e opiniões.
tá certo, ganhar ou dar parbéns pode até ser legal. mas que é estranho é.
não tem como negar.
Gosto de ligar para meus amigos em seus aniversários, para que saibam que penso neles, mas sem nunca dar parabéns. Eu me sentiria redundantemente óbvio e previsível ligando pra alguém no seu aniversário e dizendo "parabéns pelo seu aniversário". Mais importante, hmmm, exatamente o que é que há de parabenizável em completar vivo mais uma rotação da terra em volta do sol? Tem algum mérito intrínseco nisso? Não foi exatamente isso que, com algumas exceções, todos nós também fizemos no ano que passou? Não entendo esses humanos! * * * Outro dia, fui falar no MSN com uma amiga que recentemente teve filho e ela me recebeu com frieza: Você sumiu. Você também, eu disse. O MSN é mão dupla, sabia? Humpf. Pensei que você iria me dar parabéns depois do nascimento da Paulinha. E eu, sinceramente curioso, deixei escapar: Por quê? E ela perguntou, já rosnando (mesmo as mulheres mais mansas aprendem a rosnar assim que dão à luz, deve ser algo biológico): Como assim "por que"?! E eu, que conheço os costumes dos humanos, só prefiro não segui-los, sabia que estava em território minado, mas continuei: Por que você achou que eu lhe daria os parabéns? Porque eu tive filho, claaaaroooo! E lá veio todo um discurso sobre a importância da maternidade, blá blá blá, e eu ouvi quietinho, e depois respondi: Olha, eu concordo com tudo isso. A maternidade é linda. Acompanhei a gravidez da minha irmã e de todas as minhas amigas. É um momento mágico quando suas bocetas finalmente regurgitam aquele parasita que passou nove meses se alimentando delas, mas... Convenhamos. Não tem nada de especial na maternidade. Até os ratos de esgoto dão à luz. Praticamente todos os seres humanos capazes de parir acabam parindo em algum momento de suas vidas. Parabenizar alguém por ser mãe seria como parabenizá-la por fazer aniversário, por menstruar ou por aprender a andar. Sim, sim, e daí que você passou mais um ano viva? E daí que você cagou o edredon todo de sangue? Toda mulher menstrua, todo mundo sabe andar, get over it! O parabéns, por definição, é uma coisa exclusiva. Se tem algo que todo mundo faz e se todo mundo merece parabéns por isso, então esse parabéns não tem absolutamente nenhum valor nem nenhum sentido. É um comentário vazio e inócuo que pessoas falsas e previsíveis dizem umas para as outras porque sabem que é o socialmente esperado e, mais importante, para evitar o perigo sempre constante de uma comunicação que de fato possua conteúdo e signifique alguma coisa. Por fim, concluí, se você ganhar a maratona, ou for indicada pro Nobel, eu juro que te dou os parabéns! Minha amiga ainda não voltou a falar comigo. Vai entender os humanos!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O sertão e as histórias

Essa foto eu roubei do blog do andré "A vidraça colorida de Grapiúna" em Monte Santo
Um grande amigo, o André esteve no sertão da Bahia. Viu de tudo e mais um pouco. E postou histórias lindas.
Vale à pena dar uma olhada no blog...

reflexão

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Vera Alice

foi então que com o desespero que a levava a andar pelo mundo afora, Vera Alice se deparou com aquela fazenda...do alto do monte, avistou a chaminé que deixava sair lentamente uma fumaça, indicando que alguém estava por ali.
chamou o Andaluz, seu cãozinho parceiro, e desceu o monte indo em direção à casa. Vera Alice se deu conta então que poderia ser natal ou ano novo, tal era o tempo que já tinha saído de casa. e se lembrou, tristemente, dos momentos que viveu lá.
"era como se eu não existisse, ou não tivesse opinião. tudo era e tinha ser na questão do sagrado. o profano vinha em cavalgadas, mas a religião estava em primeiro lugar. ah, como eu destestava aqueles momentos de hipocrisia, como me doía ver que tudo não passava de um teatro barato. sempre algo arruinava a paz. eu eu me questionava se a guerra da religião, que dura um mundo já, acontecia apenas no oriente médio. a guerra estava dentro e fora de mim, numa imposição dolorida e alarmada".
Foi assim, que Vera Alice acariciou Andaluz e desceu o monte. Cheia de pensamentos, questionamentos e medo. o que estaria a esperar dali? será que um abraço ou apenas mais dores e solidão. Foi chegando perto do casarão. As janelas eram enormes, brancas, de madeira. o tijolo velho da construção antiga já aparecia. o chão, com tacos antigos e o forro alto, já eram parte da decoração da velha casa.
- Olá! tem alguém aqui?
nenhuma resposta. o silêncio reinava e se fazia cada vez mais profundo. até a respiração de Andaluz, Vera Alice começava a ouvir. foi então que uma velha senhora e um senhor negro, de barba branca e olhar doce, apareceram.
- olá, sou Vera Alice....
- Sim, sabemos quem vc é, pequena...estávamos esperando você. Vamos entre, venha tomar um banho e se aconchegar. hoje é natal...
Vera Alice não exitou e correu para um abraço. Era como se a velha senhora e o senhor negro de barba branca a conhecesse. Se para dorothy, não há lugar como nosso lar, Vera Alice descobriu que o nosso lar de verdade, é interno, e faz parte da paz que sentimos ao termos alguém por perto. Alguém com olhar manso que não cobra explicações.
Andaluz latiu e abanou o rabo. Finalmente, um lar. um lar novo. não na casa, mas no coração.