domingo, 15 de março de 2009

Vera Alice

E então que Vera Alice arrumou um lar. Um lar de verdade com tudo o que sempre sonhou: cama, colchão e atenção. Andaluz dormia com ela todas as noites.
A vida na fazenda não era nada difícil. Pelo contrário, dormia cedo e acordava mais cedo ainda, mas com um brilho nos olhos que ninguém conseguia tirar. Vera Alice sempre foi uma menina mais do dia do que da noite, gostava de aproveitar a luz do Sol para ver as coisas com outros olhos, com várias cores.
Ficava ansiosa pela luz do entardecer nos dias de inverno na fazenda: era uma luz linda e pura que deixava o verde mais verde ainda e seu coração cheio de esperança. Vera Alice tinha saudades de casa sim, como qualquer pessoa, mas encontrou um lar tão bom nessas andanças da vida, e o melhor, encontrou-se consigo mesma em seu coração, que acalmou, que estava em paz.
Andaluz lhe acompanhava sempre, o que deixava Vera Alice ainda mais feliz. Foi então, que em uma dessas coincidências do destino, encontrou um amigo na estrada que dava para a fazenda. Um amigo novo, mas que lhe era antigo de alguma forma, tal era a intimidade de ambos.
Conversaram, trocaram confidências e conheceram as melhores partes da fazenda: aquele barranco do qual dava para pular no monte de areia, a roda d'água, a grama que sempre ficava molhada e a mangueira sempre carregada.
Vera Alice estava mais do que feliz, apesar do vazio que ainda lhe tomava o peito. Era um vazio agudo, disfarçado em um olhar brilhante, mas dolorido.
Anos se passaram e Vera Alice estava na fazenda. Mas então que seu coração resolveu palpitar novamente: era hora de ir. O amigo que encontrou também lhe dizia isso:
- Vá, vá Vera Alice, seu mundo não esse... você já aprendeu aqui o que tinha para aprender aqui...vá! Queira mais, o mundo é grande....!
E então que foi. Pegou o Andaluz, despediu-se do seu quarto, do seu colchão e de toda atenção que recebera. Deixar algo tão certo para trás é triste, sem dúvida. O que lhe dava alegria era o desconhecido que estava por vir. Aquele desconhecido que lhe enchia de esperança pela novidade, pelo desafio.
De longe, o amigo lhe acenava forte...
E lá foi ela. Estrada afora.
Ainda tinha muito o que caminhar.

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