quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A velha

Andava lentamente pela calçada esburacada. As ancas iam de um lado para o outro como que fazendo um molejo, mas que na verdade retomava a lembrança de que havia ali dores intensas, daquelas que existiam desde que era criança e trabalhava no canavial.
Andava lentamente com uma sacola de plástico na mão carregada com algumas coisas que não conseguíamos ver. Usava uma camiseta esgarçada onde lia-se "I Love New York". Jamais esteve em Nova York. Mal sabia ler. Suas mãos cheiravam a alho cru e cebola que a velha descascava para o almoço na casa dos Mendes, família rica e tradicional da cidade.
A velha então tropeçou na calçada esburacada e derrubou a sacola. Espalhou-se no chão e no asfalto doces e mais doces. Os sonhos que a velha tanto gostava.

Nenhum comentário: