domingo, 13 de julho de 2014

Sobre a Morte e a Vida

Uma das coisas que me faz pensar sobre a Vida, vejam só que curioso, é a sua antítese e alma gêmea, a Morte, essa desconhecida que nos ronda a cada minuto do nosso dia. Eu pensei muito nisso quando vi o filme "Sétimo Selo" (Ingmar Bergman, 1956) em que a Morte aparece como uma personagem viva, olha só, que joga xadrez, que ouve confissões e que faz pactos.

Pois é, pensar na Morte é algo que não me assombra. Claro, no sentido de saber para onde é que a gente vai depois disso aqui, é lógico que dá medo, contudo, pensar na Morte é claramente tentar entender e viver também os minutos que nos seguem no cotidiano de nossa estrada.

Aquelas perguntas claras sem respostas, claro, desde os gregos, "quem somos nós, para onde vamos, o que queremos", essas pequenas questões internas que nos fazem movimentar esse trocinho chamado mente e encher de questionamentos esse outro trocinho chamado coração.

Ora, mas é claro que se a Morte existe, pesa dentro dela também a questão da vivência, a necessidade de conhecer bem a Vida para que possa levá-la, sabe-se lá para onde, a alcançar outro patamar, outra dimensão, enfim, outro eu.

E é nesse Eu que eu penso em chegar.

Li ontem o livro "O Conto da Ilha Desconhecida" de José Saramago. Nele, o Rei atende as pessoas por algumas portas. A porta do "obséquio", a porta dos "pedidos" e etc. Mas tem um homem que insiste em ser atendido e cai na porta do pedido sem tirar nem pôr. Na verdade, para mim, as portas são duas: as portas do Rei e as nossas portas internas, porque ele estava na porta da Decisão, tal qual a empregada que carregava os pedidos para o Rei saiu. Ela tomou uma decisão e saiu pela porta da Decisão. Não tinha volta. E o Rei avisou. O que o homem queria era um barco para ir para uma ilha desconhecida. O Rei insistia em dizer que todas as ilhas eram conhecidas, todas. E ele dizia que não, que tem uma ilha que ninguém conhece. E ele iria para lá. E perguntaram se ele sabia navegar. E ele disse que não. Mas que o mar iria ensinar.

Para mim essa é uma metáfora clara da Vida e da Morte. A gente vive cercado de obséquios, de pedidos, mas de decisões não. A Morte toma a decisão, está claro que você vai sair dessa Vida, mas e a Vida, em que porta ela está? Em que porta o meu Eu está?

Se a Morte é tão assim, certa, decisiva, a Vida deve ser incerta e isso é bom. É bom porque com a incerteza buscamos nos mover, o "será" abarca o que pensamos ser bom, o que pensamos ser interessante, mas não necessariamente o que queremos de verdade. A Morte sabe o que quer. E isso é fascinante.

Talvez por isso nos cause tanto medo, tanta estranheza ela existir. Ela estar viva, apesar de ser a Morte. Talvez seja ela que nos empurre para a Vida, para as nossas incertezas, para o nosso desconhecido tão íntimo, tão íntimo que não sabemos ao certo nem mesmo como chegar lá.

Mas a Vida há de ensinar. Isso lá é verdade....

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