quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vícios e Manias

Tinha lá seus 40 anos. Vividos, bem vividos. Nunca se casara ou houvera vontade de casar.
- Sou de Deus - costumava dizer Judith. Com agá no final como gostava de afirmar.
Judith tinha vícios, manias. E alguns eram vícios muito interessantes de serem analisados.
Por exemplo, gostava muito de todos os dias, às 15 horas sentar-se diante da televisão e passar cola nas mãos. Esperava o tempo de um intervalo comercial para que a cola secasse e começava a arrancar as "pelinhas" da cola. Ia tirando a cola da mão e juntando um montinho na calça pra fazer uma bolinha com os dedos. Depois, ia até a cozinha e jogava no lixo certo, ou seja, o lixo orgânico.
Outra mania de Judith era passar palito de dente nas unhas. Fazia isso para tirar a sujeira, mas gostava mesmo era do prazer que o palitinho causava ao limpar e coçar as pontas dos dedos. Era um vício. Fazia isso toda segunda-feira, às 9 da manhã. Para a unha ficar limpinha a semana toda.
Um outro vício/mania que Judith tinha, e esse era ainda mais escatológico, era cortar as unhas dos pés e das mãos, separadamente, às terças e quintas. As unhas dos pés ela cortava pela manhã de terça e da mão às tardes de quinta. Ela separava as unhas e as guardava em potinhos. Era uma mania que tinha há muitos anos. Judith colecionava potinhos de unha.
Mas a pobre Judith também tinha uma mania mais conhecida: guardava em uma caixa grande as roupas e o cobertor que tinha da infância, materiais que a mãe de Judith, Dona Sylvia, com ipsilon mesmo, guardara com amor.
Toda vez que Judith estava triste, ia até as caixa e as cheirava e recordava o doce sabor da infância.
E em uma dessas vezes, Judith ficou tão triste e com tanta saudades da mãe, que adoeceu. Caiu de cama por três dias.
No quarto dia, quando levantou, Judith olhou para os lados e viu que estava tudo estranho. Não havia cortado as unhas, nem limpado com palitinho as mesmas e muito menos passado cola nas mãos e tirado as "pelinhas".
Então, com sua mania de vício por remédio, Judith era uma hipocondríaca máxima, tomou dois vidrinhos inteiros de calmante. E morreu.
Uma das manias de Judith era também não gostar da própria vida.

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