segunda-feira, 16 de agosto de 2010

a conversa

e então que chegou em casa depois de um dia todo de trabalho. contudo, no caminho para casa (gostava de ir andando, sempre) refletiu sobre o que andava acontecendo. "o que posso fazer para não me machucar mais?" e de repente veio uma resposta: - não viva. olhou para trás com pressa e não viu ninguém. então que olhou para o chão e lá estava um velhinho sentado. - não viva, apenas isso. se não quiser se machucar não se apaixone. - mas como assim? - retrucou. - a vida é feita disso, criança. de dores. é na dor que a gente cresce, é na dor que a gente nasce. a morte já não interessa, porque a morte é o final da caminhada. o importante é ir. mesmo sem saber como. - mas senhor, eu estou tão quebrado, tão estilhaçado por dentro. tão angustiado. é como se as coisas não andassem, entende? - entendo, criança. e é por isso que eu digo: viva apenas e agradeça por isso. as dores de amor e as dores da vida sempre vão te acompanhar. a você e a qualquer um. e faz parte também. - ser recusado assim, jogado faz parte? - faz criança, faz. se não foi é porque não era para ser, apenas isso. e pronto. não tem explicação, não tem que ter. agradeça apenas. foi um aprendizado. - mas e depois? ficarei sozinho para sempre? - que é ficar sozinho? o que é a solidão? você nasceu sozinho e há de morrer da mesma forma. na caminhada encontramos as almas que nos fazem crescer. mas elas não são eternas. não estarão para sempre com você aqui no plano terrestre. - e a minha raiva e a minha dor? - enfrente-as. você está aí para isso. e abrace o tempo. ele é seu maior companheiro. e então que olhou para o relógio e fechou os olhos. o céu estava azul. ao agradecer ao bom homem, olhou novamente para baixo e ele já não estava mais lá. em seu lugar havia areia e pó. um pó quase fino e transparente. colocou-se a andar novamente e quando olhou no espelho já estava com 80 anos. as dores agora eram outras.

2 comentários:

lídia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lídia disse...

arrepiei. ( =D )