terça-feira, 30 de novembro de 2010

lendo e (re) lendo

comprei Có em sampa há mais ou menos um ano atrás. estranho pq eu já tinha lido o livro e etc, mas agora algumas coisas vem me fazendo sentido. o gustavo duarte que faz o livro é um cara que eu gostaria de conhecer. com quadrinhos vivos e um traço singular, o gustavo traz pra gente uma narrativa linda, tocante e surreal. própria dos quadrinhos mais ousados. não é sem propósito que ele anda com o bá e o moon. enfim. lançou agora "taxi" uma obra que ainda não tenho e estou com mta vontade de ler. "Có" é um livro que ensina por imagens a ler as ideias, o olhar. e se o quadrinho assim não for cinema, não falo mais nada. rs. Leiam. Có é uma leitura de minutos, mas que fica pra sempre.
ah Mutarelli seu maluco. confesso a vocês que conheço pouco da obra do mutarelli. a não ser o que tenho visto, lido e assistido, o mutarelli pra mim é um senhorzinho que passaria muito bem se fosse médico de ouvido. rs. sabe? daqueles bem bonzinhos. mas de bonzinho o mutarelli não tem nada. é um tremendo de um artista. bom, explicando: meu primeiro contato com ele foi, obviamente como para muitos, o filme "o cheiro do ralo". não li o livro. só vi o filme. depois, fiz questão de ver a peça "música para ninar dinossauros" na mostra do cemitério de automóveis nos "porões" do centro cultural vergueiro em sampa. rapaz. que coisa que foi aquilo. mesmo. estava sozinha e já tinha visto o mutarelli algumas vezes na HQmix na Roosevelt. mas sabe que o teatro me tirou do ar. o cara é foda. junto com o bortolotto pra mim é o teatro marginal no sentido da criatividade que mais gostei de ver. consegui conversar com ele dois minutos entregando umas "cafés", mas eu estava tão nervosa de estar perto dele que só consegui dar um beijo, um oi, entregar as revsitas e falar tchau. rs.
e então que serginho me aparece com esse livro.
- leia. vc vai gostar. mas eu preferi "jesus kid".
a narrativa do mutarelli nos transporta para o que há de novo dentro da literatura. por ser um cara que gosta também de quadrinhos e que possui uma ousadia só dele, ele me fez um livro inteiro em diálogos. inteiro. e porra, deu super certo.
paulo está desmemoriado. e em diálogos curtos e um final sem fim ele me supreende. "cadê o fim dessa merda?" rs.
o livro me lembrou o filme que amo "durval discos" que também não me apresentou o final.
- porra, como fazer isso?
fazendo e ousando. nesse livro do mutarelli percebemos que não importa o final e sim a caminhada. como diria guimarães. é na caminhada que vamos descobrindo as histórias. vale a pena ler e reler.
eu já tinha visto o grampá na Hqmix também, mas nunca conversei com ele. já tinha pego esse livro na mão, mas não tive tempo de ler.
enfim que isso não é desculpa. é um livro de menos de meia hora que transforma nosso olhar sobre os "cenários" e as "cenas".
com um prefácio do mutarelli (tinha que ser), grampá detona nos desenhos, no roteiro e nos apresenta um faroeste (não é bem essa palavra), nos apresenta uma sangrenta e sanguinária história marcada por um desfecho genial e ousado.
o traço do garoto leva a gente a entrar no livro. e de novo, os poucos diálogos nos enchem pelas imagens espetaculares e uma narrativa diferenciada. é cinema. sem dúvida.
"Mesmo Delivery" é para aquelas pessoas que gostam de Tarantino, dos irmãos Cohen e principalmente de qualidade e profissionalismo na arte sequencial.

o cinema

Desde criança eu amo cinema. Foi uma das minhas primeiras paixões. E para mim a sétima arte pode ser considerada a minha preferida, junto com os quadrinhos. Quando eu era crianças, o cinema tinha uma aura mágica. Sim, porque nos anos 1980 as pessoas não tinham acesso tão fácil aos filmes e às películas e era necessário ir ao cinema, sair de casa e se dispor a ver um filme. O que se tornava para mim mais do que um passeio. Era uma forma que eu tinha de entrar em contato com uma nova realidade, mais mágica, mais segura. E me lembro do chão do Cine Peduti em Marília, do barulho do cinema quando andávamos no chão de madeira, das poltronas de madeiras, do silêncio e do riso em conjunto. E do barulhinho que fazia a cada mudança de de cena no projetor e pensava: - Nossa, isso é mágico... E sempre foi e sempre tive um respeito incrível por essa sensação de pertencimento a um local. O Cine Peduti não era só um cinema, mas também um teatro. Então a tela era grande e ficava mais funda quando os atores surgiam para divulgar seus filmes. Próximo àquela cena de “Cantando na Chuva” quando Don Lock e Lina Lamort aparecem no cinema. Mágico, muito mágico. Então me lembro do primeiro filme francês que vi, aos 18 anos no cinema. Digo isso porque antes eu não tinha muito acesso e muito menos conhecimento para tal ação. Não foi no Cine Peduti que vi “A Noite Americana” (França, 1973) de Truffaut, mas em um lugar ainda mais mágico: O Clube de Cinema de Marília, fundado em 1951. Nos idos dos anos 1990, assistir a esse filme me fez abrir os olhos e entender o que é cinema de verdade. “Um dos filmes que melhor representa as loucuras que se passam em um set de filmagem. Um ator que fica deprimido porque sua noiva sai com um dublê, uma atriz que se entregou às bebidas e não consegue lembrar de suas falas e muitas outras confusões, que o diretor deve fazer de tudo para contornar, até gravarem uma das cenas mais importantes do filme: a que o dia deve ser transformado em noite artificialmente”. E foi realmente mágico esse momento porque foi a primeira vez que vi o que era cinema de verdade, e o que o cinema poderia fazer com a minha concepção de mundo. O meu respeito por essa arte só aumentou e depois disso, a tela grande tornou-se para mim uma referência artística. Depois disso veio todas as referências do cinema europeu: Godard, Fellini, Antonionni e tantos outros. Entender o que é Cinema não é tarefa fácil. Muito menos farei isso agora. Mas posso dizer com prazer que é inevitável não se apaixonar.

domingo, 28 de novembro de 2010

final de semana

talvez que o propósito desse post não seja falar necessariamente tudo o que fiz no final de semana, mas sim, tudo o que o final de semana me levou a pensar. Ou a lembrar. lembrei de quando eu era criança. Levei a Mariana, minha prima de 3 anos para assistir o espetáculo "Saltimbancos" na Elam. (Escola Livre de Artes de Marília). A Mariana, diga-se de passagem, é uma excelente companhia e tem me ensinado muito coisa. Uma delas foi no espetáculo. Quando o cachorro e a gata brigam, ela virou para mim e disse: - é de mentira, tia, eu não estou com medo. antes de entrar na peça, combinamos que se ela tivesse medo era só me avisar. chegou pertinho de mim, segurou no meu vestido e disse que não estava com medo. mas era bom que eu estivesse por ali. depois, dançou, cantou e bateu palma durante toda a apresentação. e o que é o medo, não é? a gente, que se diz adulto, tem tanto medo. e ela tão pequena me disse que não tinha medo. mas um pouquinho de medo, ela tinha. - é só uma pessoa vestida de cachorro e de gato, tia. não estou com medo. certo, mariana. certo. e a gente sem fantasia tem medo do outro. e das nossas próprias fantasias também. do que parece ser tão real e está apenas ali, encenado pra gente. não é de verdade. é só a vida. a Mariana enfrentou o medo dela. olhou para mim com uma carinha de assustada. e quando eu olhei para ela de volta e disse: - estou aqui, mari. a tia está aqui. ela pegou na minha mão e disse que não tinha mais medo. e que bom que é ter alguém pra gente pegar na mão, não é mesmo? para estar perto, para não sentir solidão. (sim, a solidão também causa medo. em mim causa bastante.) e que bom que é isso. olhar no outro e senti-lo por perto, para não sentir medo. eu ainda tenho muitos medos. muitos. e o bom é que estou conseguindo enfrentá-los. aos poucos, mas estou. o espetáculo para mim foi um presente. o jumento, a gatinha, a galinha cega e o cachorro animaram deveras a minha noite de sábado. brilhantemente feito pelos meus amigos da Elam. e no domingo o que ficou foi a peça "reticências" no sesi. um apresentação que falava também dos nossos medos e do que a gente sente falta. "da grama molhada, do cheiro de caramelo". eu sinto falta de por o pé no chão. de sentir a terra. a grama. do cheiro da chuva. e o abraço apertado que não existe mais. eu sinto falta do parquinho que eu brincava. de quando eu achava que com um pano eu cobria a rodinha de brinquedo que ficava no quintal de casa e fazia uma casinha. e andava de bicicleta com o vento no rosto. eu sinto saudade de ver meus irmãos dormindo no mesmo quarto que eu. eu tenho saudade daqueles meu sonhos mais íntimos, daqueles meu projetos mais internos que se transformaram na vida que levo hoje. mas não está me faltando nada. aliás, está. está faltando ainda um tantinho de mim. mas isso ainda vai chegar. tenho certeza. e eu vou encontrando um pouquinho de mim em mim mesma e em cada um. encontrei um pouco na Mariana. E como foi bom. E como é bom tê-la por perto.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A tal da sacolinha

- Quer sacolinha? Bom, quando estamos em alguma loja e ouvimos isso, já é um grande passo. Porque na maioria das vezes, as pessoas não perguntam. Você vai a uma loja e compra uma lixa de unha, uma pinça que seja e a pessoa pega num pacote que parece um malote de banco, uma sacolinha de plástico para colocar uma mísera comprinha sua. E você, como ser educado que é, chega em casa (quando joga em casa, senão é na rua mesmo) e joga a sacolinha no lixo. Geralmene, no mesmo lixo que você joga material orgânico. Pois bem, pessoal, chegou a hora de abrirmos nossos olhos e principalmente nossa mente para algo maior nessa vida. E digo isso em nome do Planeta Terra, do mundo em que vivemos, do Brasil, do estado de São Paulo, de Marília, do meu bairro e da minha casa. Claro, esse texto aqui não é uma pregação, nem uma regra a ser seguida, é apenas uma reflexão que proponho: sejamos um pouco mais conscientes. Na farmácia e na padaria que costumo ir eles já sabem: - Sacola de plástico não, né lídia? Não. Sempre não. Experimente ir a uma loja de R$ 1,99? Além de ficar tocando um sertanejo insuportável o dia todo (deviam pagar insalubridade por isso, e olha, nada contra os cantores sertanejos, nada. São dignos e estão fazendo seu trabalho. o que eu tenho contra é o excesso desse tipo de som). Pois bem, além de sertanejo, os caras nem perguntam se você quer sacolinha e já enfiam lá dentro aquele "bibelô" de 2 centímetros ou o pacote de biscoito de chocolate. "Quando surgiram, no fim da década de 1950, as sacolas de plástico eram motivo de orgulho das redes de supermercados e símbolo de status entre as donas-de-casa. Em meio século, passaram de símbolo da modernidade a vilãs do meio ambiente. O motivo: o plástico polui - e muito. As sacolas são incapazes de se decompor em curto prazo. Trata-se, portanto, de uma decisão lógica: aboli-las. As sacolas de plástico demoram pelo menos 300 anos para sumir no meio ambiente. Em todo o mundo são produzidos 500 bilhões de unidades a cada ano, o equivalente a 1,4 bilhão por dia ou a 1 milhão por minuto. No Brasil, 1 bilhão de sacolas são distribuídas nos supermercados mensalmente - o que dá 66 sacolas por brasileiro ao mês". Quem usa 66 sacolas por mês? Esses dias no trabalho, tive uma cena interessante de ser vista. Durante uma tarde muita ventania, o céu ficou cinza e as árvores mexiam muito lá fora. Fui até a janela e fiquei observando. De repente um saco plástico passou na minha frente. Uma sacolinha plásticas, dessas simples. Passou voando e continuou ali por um tempo. Depois foi mais para frente. Subiu, desceu e foi em direção ao outro lado da rua. Trabalho no segundo andar. Foi lindo. Lindo. Se não fosse tão real e tão triste. Eu me senti no filme da Estamira. Aquela tempestade toda, aqueles papéis e aquelas sacolas voando. E no "Beleza Americana". tão belo quanto imundo aquela sacola dando o ar da graça. Eu preferia que tivesse sido um beija-flor. Ou uma borboleta. Se puderem dizer não, digam. É simples. E ainda faz uma puta diferença. -Sacolinha? - Não, obrigada. Vou ajudar o meio ambiente.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

o silêncio

Sempre que penso em escrever algo, busco dentro de mim o que me é mais caro e necessariamente, mais raro também. E o raro é aquilo que só no fundo, bem no fundo podemos contemplar, acompanhar, entender. Para mim, acompanhar aquilo que tem se passado dentro de meus pensamentos é que tem sido raro. Uma onda maior tem tomado de assalto as coisas que tenho pensado em viver, e principalmente, em sentir. E o sentimento é aquele de ferir, de rasgar a pele, os olhos de tanto doer de procurar internamente aquilo que mais tento entender: o equilíbrio. Tem sido muito raro para mim o silêncio. O silêncio interno, de meus pensamentos, de minhas atitudes e ações. O não e o sim na mesma medida. O respeito e o espaço em proporções aureas e absolutas. Contemplar o que tem de mais raro dentro de nós mesmos é buscar aquilo que nos fortalece, que nos faz entender a sede que nossa alma tem nessa vida. Para mim é a sede de arte. De uma busca incessante de conhecer novas formas, cores e sons. E também a busca incessante por mim mesma. Nesse caminho tenho sentido que me perdi. A palavra, a palavra encantada e casada com a outra tem parecido ser algo tão raro, que se torna difuso. E a palavra em silêncio. Só, gritando só em sua parte mais íntima de toque: com o papel. E tocar o papel com as palavras não é para qualquer um. Não. Tenho sentido falta de mim em minha escrita, em minha vida. E isso tem me impedido de ver algumas coisas que também me são caras. E raras. Essa prisão na qual nós mesmos nos prendemos muitas vezes é que nos faz refém de uma vida que não nos convém, que não nos deixa ir além do que se é. Ousadia. Essa será a palavra de ordem. Ou de vida. Se a vida se dá na travessia, como diz Guimarães, atravessemos. Andemos por sobre essa vida. E que o medo não me impeça de ver que o raro está em poder fazer isso. E contemplar o que for feito e o que há de ser feito. Mas sei que o peso agora está grande. E os elefantes fantasmas vão ter que alguma hora dar espaço para os passarinhos cantores. E o silêncio para mim está justamente em pressentir que há espaço para ouvir esses meus imensos barulhos internos. Essa minha ansiedade em viver.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dry Martini

Sentou no bar e olhou o cardápio. Na verdade não queria comer e nem pedir nada, mas o cardápio era tão bonito, tão pop art. Olhou tudo e pensou em pedir algo. só não sabia ainda o que. Ali pensou que a vida que estava levando é que estava assim: indecisa. Uma vida indecisa.
Chegava agora a uma idade onde o questionamento e a reflexão eram quase tão naturais quanto respirar e o respirar estava difícil. Estava mesmo.
Principalmente aquele ar novo que vinha de dentro. Um ar estranho, tal qual um cheiro novo. Nem bom e nem ruim. Apenas novo.
Decidiu que queria conhecer as coisas que não havia experimentado antes. A vida mesmo. O amor. E a liberdade de ousar querer ser quem é.
E quem era ela naquele momento?
"sou uma soma de tudo, de todos, de todas as expectativas criadas em relação a mim". Aquela luz intimista do bar lhe mostrava um caminho novo e ousado, na direção de algo que não conhecia ao certo. E isso lhe fazia bem. Lhe fazia tão bem ser e ter algo que não conhecia em suas mãos.
Olhou gentilmente para o rapaz da mesa ao lado. Gentilmente porque queria pedir que ele lhe salvasse da solidão que estava assolando seu coração.
"Mas eu nunca quis casar, isso não é para mim".
Talvez. Mas pelo simples fato de não ter certeza já se punha tranquila.
Olhou novamente para o rapaz que estava na mesa ao lado. Seus olhos se cruzaram e ela conseguiu fixar o olhar nele. Lentamente as pupilas foram se dilatando. Lentamente. E enquanto ele olhava para o lado em direção a ela, ela também olhava.
E assim foram dançando com o olhar. Sem se tocar. Sem se conhecer. Esboçou um sorriso e seus olhos se baixaram em direção a mesa, assim como os dele, que também sorriu.
Dançaram com o olhar e quando foram se olhar de novo: "algo para beber, senhorita?" disse um garçon frio e antipático.
ela rapidamente olhou o cardápio e pediu:
"dry martini. pouco gelo".
E eles voltaram a dançar. Com os olhos.