quarta-feira, 23 de junho de 2010

Café Espacial

Todos devem imaginar que fazer fazer uma revista não é nada fácil. Mesmo quem não trabalha com isso, sabe o suor que dá pensar em cada edição, em cada ideia. Pois bem, estamos há 3 anos fazendo a Café Espacial. Talvez que fazendo não seja a palavra correta. Sergio Chaves, meu grande amigo e companheiro de trabalho, e eu temos ralando e nos virado no 30 pra dar conta da revista, pra não deixar de publicar pelo menos 2 edições por ano. Esse ano, publicaremos 3. E se der certo, 4. Mas também temos nos divertido muito, e principalmente, aprendido muito. Digo isso porque desde a primeira vez que Serginho e eu nos encontamos, fazendo ainda o fanzine Justiça Eterna, as coisas foram tomando novos rumos e novas ideias foram aparecendo, assim como novos amigos, novas colaborações e principalmente, uma grande vontade de fazer cada vez mais e melhor a Café Espacial. Quando fomos indicados pela primeira vez em 2008, a surpresa foi geral: "nossa, mas como assim?" e uma alegria imensa de conhecer tanta gente boa e bacana. A premiação em 2009 veio como uma enxurrada de alegria, entende? puxa vida.... E agora, a indicação em 2010, novamente, nem podemos comentar. É realmente um prazer concorrer com tanta gente bacana. A edição #7 está pronta. A #8 e a #9 praticamente montadas. E a vontade de fazer essa revista não para um minuto. Só queria deixar bem claro a minha admiração pelo Sergio. Dizem que as pessoas não se encontram por acaso, geralmente elas têm algo pra construir juntos. Eu espero que nunca deixemos de trabalhar juntos, porque eu aprendo muito a cada dia com ele e com a revista e se algo está dando certo, claro, é mérito de todo mundo que colabora, ajuda na Café. Mas principalmente é fruto dessa mente inquieta, questionadora e cheia de ideias do Sergio. Estamos muito felizes com a indicação, novamente. Obrigada. www.cafeespacial.com
Café Espacial é indicada ao Troféu HQMix
A revista Café Espacial foi indicada novamente ao maior prêmio de quadrinhos do Brasil: o Troféu HQMix na categoria de Melhor Publicação Independente de grupo. Em 2008, recebeu sua primeira indicação, mas foi em 2009 que conquistou o primeiro troféu. “Para nós é uma grande honra estarmos novamente concorrendo, porque entre tantos trabalhos excelentes do Brasil todo, o nosso recebeu um destaque. Só com a indicação já estamos muito felizes”, ressalta o editor Sergio Chaves, que também foi indicado como Roteirista Revelação. O Troféu HQMIX é considerado o Oscar dos quadrinhos e artes gráficas no Brasil, e esta é a terceira indicação consecutiva da Café Espacial - mérito de todos os seus colaboradores que se destacam nas mais variadas artes do país. A Café Espacial é uma publicação independente que reúne em suas páginas diversas artes, como histórias em quadrinhos, contos, música, fotografia e entrevistas. A revista é fruto de um esforço coletivo, onde os envolvidos colaboram de maneira direta e sem visar o lucro, enfatizando apenas a divulgação da arte. Sérgio Chaves destaca a colaboração de grandes artistas do Brasil e do exterior. A publicação surgiu em outubro de 2007 e até o momento atingiu seis edições, obtendo boas críticas e destaque da mídia. O troféu HQMix acontece em setembro no teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo com apresentação de Serginho Groisman. Informações: www.cafeespacial.com e http://www.hqmix.com.br/

terça-feira, 15 de junho de 2010

bicicleta

seis da tarde de uma tarde de inverno. o sol já havia se posto e o que a gente via era uma mistura de um céu claro, mas ao mesmo tempo escuro. há necessidade de acender os faróis, já dizia o velho pai. o carro ia lentamente naquele bairro que sempre foi um bairro tranquilo. uma padaria, um bar, um varejão, dois escritórios. ah sim, uma academia e uma quitanda. além da casa onde se vendia sorvete caseiro. custava cinquenta centavos o sorvete que vinha num saquinho. a gente ficava chupando o sorvete até derreter e formar um suquinho no fundo. um suquinho gelado. era bom. tinha de vários sabores, mas o preferido da criançada era o de groselha. pois bem, bairro tranquilo. nessa época do ano, as árvores já estavam peladas. nenhuma folha. nenhuminha. apenas os galhos balançando de um lado para o outro. as árvores estavam lá desde que nasci. eram grandes e fortes. um pouco diferente de como eu me sentia naquela dia. de como eu estava me sentindo ultimamente. o carro vinha lentamente em direção à padaria do bairro. estacionou, desligou os faróis como o pai já havia lhe dito e olhou fixamente para o carro da frente. não percebeu que atrás, naquele começo de breu, vinha uma criança de bicicleta. sim, daquelas bicicletas antigas, caloi cross. o menino devia ter uns 13 ou 14 anos. mas ainda era bem mirradinho, pequeno. usava um buné para trás e uma blusa preta e branca. ao abrir a porta depois de desligado os faróis, o senhor de 50 anos atingiu o menino que vinha na sua bicicleta antiga, caloi cross. sorte que ao olhar fixamente para o carro da frente se distraiu lembrando de quando o seu pai tinha um jipe e de quando iam juntos à padaria do bairro em que moravam. em marcha lenta, voltado da máquina do tempo, o senhor de 50 anos abriu a porta lentamente. foi a sorte. pegou o menino distraído de raspão. o garoto vinha lentamente pela rua. como não estava claro nem escuro, não estava enchergando direito. voltava da casa da avó. morava com a avó há 1o anos desde que os pais se separaram. nunca mais viu o pai que foi morar em são paulo em busca de uma nova vida. deve ter conseguido. pois bem, o homem de 50 anos pegou o menino de raspão. o garoto se desiquelibrou da bicicleta, mas não chegou a cair. apenas sentiu um aperto no peito e um susto. o homem de 50 anos também. - está tudo bem? se machucou? o menino não respondia. apenas o olhava fixamente. - garoto, por favor, se machucou? como está? me responda. o menino continuou sério, calado. e então que o homem de 50 anos disse: - vamos ao hospital ver se está tudo bem. colocaram a bicicleta no carro. o menino entrou. o carro cheirava a limpeza. o homem de 50 anos estava aposentado e sua maior satisfação era ver o carro limpinho, uma vez por semana. não tinha mais muito o que fazer. fora os afazeres de casa com a mulher com quem era casado há 30 anos. não lembrava mais do que gostava. mas sabia que gostava de ver o carro limpinho. o menino entrou e sentou. colocou o cinco e lembrou de algo que nunca viveu. foram ao hospital. conversaram um pouco. - vc precisa prestar mais atenção por onde anda, garoto. aliás, como é seu nome? - felipe - respondeu calmamente. - felipe, olhe bastante pra andar de bicicleta por aí. o trânsito está muito louco, vc poderia ter se machucado. o menino continuou em silêncio. chegaram ao hospital. chapa, conversa e exame. nada tinha acontecido ao felipe. externamente no caso. porque na verdade ele estava muito excitado com a possibilidade de ter alguém cuidando dele. nunca tinha ido a um hospital. - pronto felipe, está tudo bem. pode ir pra sua casa agora - disse o homem de 50 anos. felipe o olhou como que pedindo algo. e então o homem disse: - quer comer um pastel na feira? quer um sorvete? e lá foram os dois. a bicicleta atrás do carro. - onde mora, felipe? - moro longe. devorou o sorvete e o pastel. tomou a coca-cola como se alguém fosse retirar aquela bebida dele. bebeu rapidamente. tudo. tudinho. não deixou um gole. foram ao carro, pegou a bicicleta caloi cross do banco traseiro. - obrigado - disse felipe. o homem de 50 anos se calou. ficou vendo felipe ir embora. calmamente em direção ao fim da rua. voltou ao carro e se lembrou que não havia avisado a esposa. que não havia comprado o pão. voltou à padaria. felipe andava agora procurando algum outro homem distraído que abrisse a porta do carro e o acertasse em cheio. queria ir para o hospital de novo. naquele dia, a distração é que felipe estava indo para a praça tocar gaita. havia esquecido a gaita no carro do homem de 50 anos. na semana seguinte, ao limpar o carro, o homem encontrou a gaita. e foi até a padaria novamente. comprar pão e queijo. tinham visita em casa. felipe recebeu uma ligação de seu pai dizendo que estava na cidade. pensou: dessa vez, acho que consigo ganhar um pastel do meu pai. os faróis do ônibus em que seu pai chegou estavam desligados. era um fim de tarde. não estava claro e nem escuro.

sábado, 12 de junho de 2010

os espaços do silêncio

embora escrever não seja uma parada nada fácil, tenho me esforçado a pensar que sim, é a nossa válvula de escape. está bem, a minha no caso. porque eu não sei desenhar, nem cantar, nem pintar nem nada dessas artes todas. eu sei escrever e nem sei porque escrevo. mas sei que toda vez que algo sai pelas letrinhas da tela do computador, um pedacinho de mim tb escapa, como que querendo ficar pra sempre, fazer parte. estancar. se bem que muitas vezes penso nessa questão do "fazer parte". sim. estou aí, emaranhada em informações, debulhando ideias como quem está fazendo farinha para o pão, pra ver assar aquela massa toda, pra ver ficar bom. pra "fazer parte" de um novo processo de mundo, de realidade. e essa realidade que anda me permeando, não sei a todos, mas a mim sim, é uma realidade estancada de informação. não que as informações estejam paradas. nada disso. mas são tantas que não se movem. apenas gritam ao esmo. a todos os lugares. e eu estou repleta de silêncio. um silêncio interno, entende? numa busca incessante por compreender o que tem ocorrido comigo, com as pessoas, com o mundo. uma observação direta de uma realidade refletida. na fala do oswaldinho durante a mostra de cinema, ele falou justamente disso: da necessidade de se reaprender a pensar. a pensar em silêncio. a ouvir o silêncio. a se ouvir. a temperatura anda bem baixa esses tempos, um frio colorido, de luzes diversificadas que refletem a confusão de uma humanidade que nem ao menos tem tempo mais de ver o pôr do sol. de ouvir o som do vento. do silêncio. mas o pior é constatar que o silêncio nem sempre acontece na ausência do som. não. o silêncio acontece muitas vezes em uma avenida, no meio de uma avenida. como a paulista por exemplo. falar de são paulo nesse sentido é quase uma ironia: como assim o silêncio existe lá? interessante. mas é verdade. quando nos encontramos a nós mesmos, seja no meio de uma fazenda deserta ou no meio da paulista, o silêncio se faz presente. a questão principal é buscar isso, buscar esse silêncio interno, o espaço dele dentro ou fora da gente. e ele cabe, perfeitamente. num olhar, num gesto, numa forma de tocar ou mesmo de não falar. porque não há coisa melhor na vida do que vc poder ficar em silêncio com quem vc ama. no conforto do silêncio. onde ele cabe de melhor. ou até mesmo na arte. na nossa forma de nos expressarmos, de olharmos a nossa realidade, o nosso eu. e principalmente o outro. a dor e a alegria do outro. o silêncio do sono merecido, do choro não interrompido. do abraço demorado. de olho fechado e em silêncio....