domingo, 25 de abril de 2010

letra e música

Fred Martins
NOVAMENTE (Fred Martins/Alexandre Lemos) Me disse vai embora, eu não fui Você não dá valor ao que possui Enquanto sofre, o coração intui Que ao mesmo tempo que magoa o tempo O tempo flui E assim o sangue corre em cada veia O vento brinca com os grãos de areia Poetas cortejando a branca luz E ao mesmo tempo que machuca o tempo me passeia Quem sabe o que se dá em mim? Quem sabe o que será de nós? O tempo que antecipa o fim Também desata os nós Quem sabe soletrar adeus Sem lágrimas, nenhuma dor Os pássaros atrás do sol As dunas de poeira O céu de anil no pólo sul A dinamite no paiol Não há limite no anormal É que nem sempre o amor É tão azul
Esse final de semana eu tive o prazer de conhecer o Fred Martins, o compositor de várias músicas que adoro. ele veio fazer um show no Sesi. A chuva não me atrapalhou de ir. No final do show, comprei o CD e é óbvio, autógrafo. rs
só que fui a última pessoa a conversar com ele. não tinha mais ninguém no salão. Conversamos por algum tempo, sobre as coisas da vida, os amores, as dores, a política e a sociedade.
o fred é um cara inteligentíssimo e realmente, animou meu dia. ou minha noite no caso. as coisas estão um tanto confusas. ou bastante. ainda não sei.
o estranho é achar que as coisas devem ser normais. ou têm que ser.
- normal.
não, pra mim não é não.
"Quem sabe soletrar adeus / Sem lágrimas, nenhuma dor"?
cara, eu não sei. mesmo.

sábado, 3 de abril de 2010

Paralelepípedos

Conhecem aquela música do desenho animado "A Pequena Sereia" que se chama "Aqui no mar"? então aí vai a letra:
O fruto do meu vizinho
Parece melhor que o meu
Seu sonho de ir lá em cima
Eu creio que é engano seu
Você tem aqui no fundo
Conforto até demais
É tão belo o nosso mundo
O que é que você quer mais?
(every body) Onde eu nasci, onde eu cresci
É mais molhado
eu sou vidrado por tudo aqui
Lá se trabalha o dia inteiro
Lá são escravos do dinheiro
A vida é boa, eu vivo à toa
Onde eu nasci
Marilia é a cidade onde eu nasci e cresci. Já morei em outras cidades também, mas voltei para cá. Esses dias eu ouvi uma frase que me assustou: quando a gente sai da terra da gente e volta, é porque a gente nunca saiu.
Pois é, acho que nunca saí daqui mesmo. E o pior é que sempre acreditei que Marília pudesse ser uma cidade bacana mesmo, que pudesse crescer, se desenvolver, trazer cultura e educação para a população.
Ledo engano.
Ando um tanto quanto desolada dessa cidade há algum tempo, apesar de estar lutando a cada dia para trazer coisas boas, para melhorar. Mas não sei, alguma coisa muito provinciana tomou conta desse lugar aqui. Uma massa de falta de vontade, de animação muito grande. Pessoas que literalmente "empacam" qualquer possibilidade de desenvolvimento. Dizem: "mas ah, sair de Marília? aqui é tudo tão tranquilo, tão bom". Pois é, e é isso mesmo que me irrita.
Moro no mesmo bairro onde nasci. Tenho fotos de criança onde haviam casas antigas, ipês que brotavam flores coloridas, tudo na hora certa. E era tudo tão distante do centro...
Meu bairro agora está infernalmente lotado. Shoppings, lojas de madames e etc. Onde antes eu via uma paisagem imensa de café, de plantação de café, agora vejo máquinas e máquinas construindo cada vez mais, casas e casas. Fechadas. Cheias de porteiros eletrônicos.
Estão destruindo as casas antigas pra fazer lojas. Destruindo. Pouco a pouco a história da minha cidade que está se perdendo. O Cine Peduti virou estacionamento, o Cine Marília, banco, o Cine São Luís igreja. O teatro está fechado há dois anos. Foi construído um mini shopping do lado de um teatro que está caindo aos pedaços. O hotel São Bento, um dos primeiros da cidade, virou banco.
e hoje, debaixo de uma chuva imensa, percebi que os buracos por toda a cidade escondem auma história: está à mostra todos os paralelepípedos das ruas. Ruas antigas, bonitas, que davam para grandes espaços.
Asfaltadas, mal alfatadas no caso. Agora estão mal cuidadas.
Asssim como nós mesmos mal nos cuidamos. Da nossa saúde, dos nossos amigos, da nossa família. Estive doente esses tempos e sei que é porque dentro da gente também tem história. E das boas.
E com medo evitamos nos analisar, nos encontrar, ver esses "paralelepípedos" que nos impendem de criar novas possibilidades de vida, de espaço.
Sim, "você tem aqui no fundo, conforto até demais". E isso me irrita.
"onde eu nasci, onde eu cresci é mais molhado".
A chuva não está me deixando ver outra coisa. mesmo porque, quando faz aquele sol lindo das cinco da tarde, aquela luz perfeita, o que enxergo é uma falta de cuidado imensa pela história da minha cidade. Pelas praças, pelos brinquedos.
Está tudo tão mudado que naõ estou reconhecendo mais nada. E muitas vezes nem a mim mesma.
Guimarães estava certo, "viver é perigoso" e Cazuza também "morrer não dói".
o que dói é viver e ver que há tanto tempo quem deveria olhar para essa cidade não olha. Os paralelepípedos são as feridas da história a mostra. O tempo todo. dizendo: "humanos estúpidos, o que vocês têm feito da história de vocês?"
Progresso. Ordem e progresso.
Esqueçam a história. Até mesmo as nossas.