quarta-feira, 15 de abril de 2009

Inevitável

- E aí, como estão as coisas?
- Tudo certo, e você?
- Tudo também.
- Tem se divertido?
- Um pouco, mas essa cidade está um lixo.
- Ainda?
- Estamos nos superando em sermos imundos, acabados, parados.
- Aqui também é assim.
- E filmes?
- Putz, nem me fala. Queria ver todos.
- Eu também.
- E não vai mais rolar de eu ir para Argentina.
- Por que, Miguel?
- Ah, estou com um monte de problemas aqui, daí já viu né? Deixa para a próxima.
- Que saudade de você.
.
.
.
.
- Hahahaha...estava mesmo faltando essa conversa! Que bom que você me ligou hoje!
- Pois é, especial mesmo. rs. Bom, mas agora tenho que desligar. Tenho uns compromissos por aqui.
- Ah, Clara, espere mais um pouco, tem tanta coisa pra gente falar.
- E tem mesmo. Mas preciso desligar.
- Então um beijo. Valeu por ter ligado.
- Imagine.
- Ah, fui para Salto final de semana.
- É? Que legal! Que foi fazer?
- Ver a Bia.
[silêncio]
- E vocês estão bem?
- Pare com isso, não tem essa de estão bem.
- Então foi fazer o que lá?
- Passear ué.
- Que bom. Ficaram?
- Pule essa parte.
- Ficaram.
- Ah, pare. Ela está trabalhando feito uma louca.
- Eu sei.
- Me apresentou para um monte de amigos.
- Legal. Ficaram então.
- Mas pra que isso?
- Por nada. Tenho que desligar.
- Obrigado por ter ligado e lembrado de mim.
- Tchau.
[silêncio]
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- Alô?
- Escuta, Miguel, porque você fez isso?
- Isso o quê?
- Ficou com a Bia.
- Nada a ver. Pare com isso.
- Olha, não temos nada, não devemos nada um para o outro. Mas isso foi estranho. Você já havia me dito uma vez que tinham ficado. Ótimo. Mas ela é minha amiga também e isso não foi legal.
- Não tem nada a ver. Só curtição.
- Boa. Aproveita então sua curtição aí. Não tenho mais nada pra te falar.
- Clara, espere.
- Quantas vezes pedi pra gente se ver antes de você querer ir pra Argentina? Quantas? Agora você viaja e passa o final de semana em Salto? Ótimo. Você pode ficar com quem quiser, eu também fico com quem eu quero por aqui, mas não somos amigos, está entendido?eu não fico contando pra você com quem eu fiquei.
- Por que isso agora?
- Não somos amigos. Eu gosto de você. Não tenho que saber com quem você ficou ou deixou de ficar. Não tenho nada com isso. Se você tivesse falado que ficou a fulana ou qualquer outra, sem problemas. Mas mesmo assim eu ia achar chato. Mas a Bia não. Achei chato demais.
- Você não está sendo coerente...
- Coerente? Coerente? Você quer coerência, então vamos lá. Eu fico com o Pedro, ex-namorado da Bia e seu amigo e te conto, o que você acha? e conto pra ela também. "olha gente, só curtição tá? estamos curtindo...". Legal né? Dá um tempo!
- É, mas a gente não é namorado.
- Não importa. Eu fico com você, eu já disse que gostava de você pra ela, sou amiga dela, conto minhas coisas, meus fatos quando nos encontramos. Daí vocês ficam. Eu não era amiga da sua ex-namorada. Eu não conheci a Júlia, o seu outro rolo.
- Você está sendo imatura.
- E quem disse que eu sou madura, adulta? Onde você viu isso?
- Você só pode estar louca...
- Então tá. Vamos supor que eu viajo então com o Fernando, seu amigo. Passo o final de semana com ele. Lua de mel. Você me liga, conversamos um monte, trocamos idéias, vejo que você está com saudades e então eu digo: "olha Miguel, fui pra Bauru esse final de semana com o Fernando". O que você ia pensar? que a gente foi de amigo?
- É óbvio que não.
- Então! Você me diz que foi para Salto ver a Bia para quê? E não precisava nem dizer que vocês ficaram. Está claro isso.
- Isso é lealdade.
- Sim. Lealdade. Mas lealdade a gente espera de quem é algo da gente. Tipo um namorado, sabe? E você não é meu namorado. A sinceridade muitas vezes machuca. Não tenho que saber de tudo da sua vida sentimental. Eu fico com você. Pra isso você tem amigas. Eu não te contaria se ficasse com algum amigo seu. Melhor, eu não ficaria. É seu amigo.
- Então o que você quer, vamos me diga, o que quer? Foi você quem perguntou!
- Mas foi você quem contou que foi vê-la! Caramba, está difícil assim de entender?
- Então se eu não te conto eu to mentindo e se eu te conto to magoando você.
- A gente paga um preço pelas escolhas que fazemos, certo?
- Mas você ia me cobrar isso depois!
- Ia nada! Talvez que eu nunca na minha vida ficasse sabendo...
- Prefere viver na mentira?
- Não é mentira, é omissão. Eu não preciso saber de tudo que se passa na sua vida. E você me contou que foi lá porque quis.
- Lógico! Se eu não te contasse que fiquei com ela ia ficar me cobrando disso.
- O problema seria seu e não meu.
- E agora é seu?
- Não, agora "era" meu.
- Como assim?
- Estou fora. Chega. Você está além do que eu posso compreender e não quero mais essa história para mim. Você mal me ouve.
- Essas coisas acontecem, a gente sente desejo...
- Chega, para com essas justificativas "freudianas". São escolhas e pronto. Você escolheu ficar com a Bia. Quando ficaram pela primeira vez, eu tinha contado pra ela que ainda era afim de você. E você também sabia disso. E mesmo assim me contou...Quando estávamos ficando! São escolhas, meu querido. Temos que saber conviver com elas ao longo da vida e carregar
o que fizemos.... Isso machuca a pessoa....
- Então agora eu te machuquei?
- Está maluco é? Você pensa que está falando com quem? Uma dessas menininhas cocotes que ficam afim do primeiro cara que aparece? Cresce, se enxerga.
- Você é problemática.
- Ótimo. Obrigada pelo diagnóstico. Vou parar a terapia amanhã e começo a análise intercalada com remédio. Quem sabe consigo deixar de ser problemática.
- Não vou discutir isso.
- Quer saber? Nem eu.
- Clara? Clara?
_-_-_-_

Divã

" - Estou com uma confusão imensa dentro de mim. - Sei. - Queria entender melhor como as coisas acontecem aqui dentro e não vejo saída. - Hã hã. - É como se viesse um pedido de ajuda sabe? Em que eu sei o que fazer, mas não sei como. - E isso te incomoda? - Sim. Um bom tanto. - Sei. - E as coisas vão surgindo, aparecendo e eu não sei como lidar. Não consigo dizer "não" pra nada. - Entendo. - E o pior, eu não consigo dizer não para mim, vou sendo permissivo até o ponto que meu próprio corpo não aguenta mais. - Hã hã. E isso te deixa triste? - Deixa. Bastante. - Entendo. - Tenho pensamentos estranhos e parece que envelheci não sei quantos anos em pouco tempo. - Sei. E isso te deixa apreensivo? - Deixa. Demais. - Hã hã. - Me diga, o que devo fazer? [silêncio] - Você deve se conhecer melhor, buscar quem é você dentro de você mesmo. - Sei. - Nessa bagunça toda, onde está você? - Hã hã. - Essa questão de falar de si mesmo, de procurar as respostas, só você pode fazer. - Entendo. - Você deve fazer coisas que gosta, ou não? - Hã hã. - Então, está aí a resposta. - Sei. - Daí você fica feliz e esquece esses problemas todos. - Sei. Podemos marcar outro dia para conversar? - Hã hã. - Eu preciso falar mais de mim. - Entendo. - Eu não sei o que estou sentindo para explicar. Não sei. - Sei. Então, nos vemos na semana que vem? - Hã hã. - Não posso atender sexta. - Entendo. - Então nos vemos na quarta-feira? - Hã hã".

Desendestinando

"
-Olha só o que você fez. Me diga, precisava disso?
- Disso o quê? Eu não tive culpa...
- Ah, por favor.... Quer dizer que agora eu viajo, venho até aqui e você me faz isso? O que combinamos, hã?
- Combinamos algo? Olha, de verdade, nunca dissémos que éramos namorados.
- Mas é claro que não, procuramos não definir a relação desde o começo. Estávamos juntos e ponto. Mas o que eu te pedi? Sinceridade e lealdade. Mais do que fidelidade.
- Mas eu tinha como saber que essa pessoa me procuraria esses dias?
- Não, não tinha. Mas tinha como me avisar quando soube disso. Caramba, você estragou tudo. Tudo. Até a nossa amizade...
- Por favor, me perdôe...
- Perdoar? Perdoar? Como assim? Eu não sou Deus, nem padre e nem nada pra você vir pedir perdão....
- Eu não queria te magoar...
- Não queria? tá certo....Você já foi magoado por alguém? Você conhece essa dor? É a mesma coisa de eu chegar, te dar um soco no estômago do nada e dizer: ó, puxa vida, foi mal, me desculpe, não queria...Não queria o caralho! Você me machucou. E muito. Leva isso pra sua vida.
O dia que você olhar para trás lembre-se de que um dia você machucou alguém, e não foi pouco.
- Eu não queria...
- Queria sim! Deixa dessa conversa furada... A gente não faz as coisas sem pensar....
- Eu estava confuso...
- Confuso? Confuso? Pega essa sua confusão e enfia no rabo! O que você pensa da vida, hã? Que é tudo assim, fácil? A vida é confusa por si só, cabe a nós pensarmos nossos atos...Só espero que você tenha alguém na vida pra dividir os momentos bons, as alegrias, as comemorações. Do resto eu tenho dó de você.
[silêncio]
- Uma dó inabalável. Igual fé, sabe? Eu creio em ter pena de você. Aliás, acho que nem isso...
- Vamos tentar de novo...
- Tentar o quê? Nos magoar?
- Por favor, eu gosto de você...
- O meu táxi chegou.
- Te ligo amanhã.
E o telefone nunca tocou".

terça-feira, 14 de abril de 2009

Telefonema

"
- alô? por favor, gostaria de falar com o Marcel.
- quem gostaria?
- é a carolina.
Marcel, telefone. Carolina. Sim, Carolina.
- Carol?
- Marcel, desculpe. Sei que faz anos que não nos falamos. Queria muito conversar com você.
- Está tudo bem?
- Sim, está sim. E com você.
- Tudo bem também. Mas diga, o que acontece?
- Como está sua vida?
- Bem, já disse que bem.
- E o namoro?
- Carol, não quero falar sobre isso com você. Não mesmo.
- Mas prometemos ser pelo menos amigos...
- Sinto muito. Não consigo ser seu amigo. Tentei, nos vimos de novo, vimos, revimos e acabou. Acabou. Não tem mais nada, Carol. Temos que parar com isso.
- Sim, eu tentei. Mas às vezes a vontade de falar com você volta com toda a força do mundo e parece que não me perdoei por nada.
- Perdoar do quê?
- De tudo que lhe fiz.
- Carol, eu estou bem assim. A distância é a melhor coisa pra gente.
- Escuta, por favor, me escuta. Eu preciso lhe falar. Tem mil coisas doendo, queimando aqui dentro de mim. Coisas que nem sei de onde aparecem. Dores de encontros que não aconteceram, palavras que não dissemos.
- Carol, chega, para com isso. Está te fazendo mal...
- Eu sei. Guardar isso é que está me fazendo mal. Me escuta....
- Carol, por favor...
- Pela última vez, me escuta: tudo que eu fiz foi por não saber o que fazer. Demorou. Demorou, mas eu vi. Sabe o que eu fiz ao terminar com você? Terminei comigo mesma.
- Carol...
- Só me escuta! Terminei comigo. Terminei com você quando descobri que estava apaixonada por você. Sim...estranho isso não é? Quem em seu juízo faz isso? Eu. Eu fiz isso. E sabe porquê?
- Diga...
- Porque achava que nada que fosse tão bom assim era para mim. Nada. Veja bem, você, um cara mais velho, cheio de ideias, vida. Inteligente, engraçado, apaixonante, carinhoso. Pra mim? Como assim? Eu não mereço isso...
- Você vivia em extrema punição de si mesma...
- Vivia não, eu vivo. Parece que quanto mais eu olho para os lados, mais não me vejo, não me encontro em olhar algum. Vejo apenas sombras, e com uma dificuldade imensa vejo algumas vezes, a luz sobre a folhagem, a copa da árvore.
- Carol, eu gosto de você. Gosto muito mesmo, mas ficou para trás. Tudo aquilo que sentia, acabou.
- Não estou lhe culpando, nem lhe cobrando. Estou falando de mim mesma. Dos meus medos. Dos meus tormentos que sempre voltam a zombar de mim.
- Estamos há anos sem nos falar, Carol, anos. Você não tem esse direito. Chega, acabou mesmo. Preciso desligar...
- Espera Marcel, espera. Ouve isso.
- Ouvir o quê?
- Isso....
- Carol, não estou ouvindo nada...
prece, palavras ditas em voz baixa.
- Carolina! Carolina!
- O que, meu amor?
- Que som foi esse?
- Essas palavras são minhas, disse-as em voz baixa, para mim mesma. Estou me perdoando pelo que fiz. E também pelo que deixei de fazer. Estou esquecendo você....
- Você me magoou imensamente. Foi dolorido demais para mim. Me machucou forte duas vezes. Duas, Carol, duas. Você tem noção do que é isso?
- Marcel, a vida é assim. Eu também já fui magoada, algumas vezes, humihada. Temos que aprender a viver com a dor. Essa dor delicada, esse processo chamado "vida". Se perdôe. Estou me perdoando também. Fica em paz. Só precisava ouvir sua voz, lhe dizer isso. Ou melhor, me ouvir dizendo isso.
- Carol...
- Sim?
- Carol...."

sábado, 4 de abril de 2009

Rambo no Rio

Rambo dando autógrafos no Rio.... repare em sua nova arma: uma caneta que se transforma em bazuca. Rambo tenta conter as pessoas, as fotos, o segurança e um arroto. e repare também que até um guarda belo (perto da mão com a caneta) segura um celular com uma foto do incrível Rambo. o outro dá uma folha de papel A4 para Rambo autografar. e até um ser de cabelos brancos pede ajuda e é claro, um autógrafo. sim, ele está de volta. O último cidadão para qual o grande herói deu um autógrafo. provavelmente, alguém com genes latino-americanos. Repare em seu olhar sem piedade. houve comentários de que nesse momento, Rambo já não aguentava mais dar autógrafo, ele queria dar porrada mesmo. Eliminou esse cidadão antes mesmo de um sorriso de agradecimento....
"E isso é para o próximo que pedir um autógrafo!", disse o herói, já fatigado.... musculoso de tanto escrever.
Rá. Estávamos mesmo precisando dele. A situação estava incontrável no Rio de Janeiro. insustentável.
Agora sim, temos alguém que poderá nos defender: Rambo. Ao vivo, e principalmente aos mortos, no Rio de Janeiro. Sem dó. Sem piedade. Sem o tanto de músculo que tinha antes.
Mas ainda assim, Rambo, o eterno.